Érica Fraga

Repórter especial, ganhou o prêmio Esso em 2013. É mestre em política econômica internacional pela Universidade de Warwick (Inglaterra).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Érica Fraga

Atraso bissecular

Crédito: Rivaldo Gomes - 29.mar.16/Folhapress Escola estadual Antonio Vieira de Souza, em Guarulhos, na Grande São Paulo
Alunos assistem aula em escola estadual de Guarulhos (SP)

Aspectos do nosso desenvolvimento econômico mediano pipocam o ano inteiro no noticiário. Dados semestrais do FMI (Fundo Monetário Internacional) nos lembram que mais de 80 entre 192 países são mais ricos que o Brasil.

Diversos rankings divulgados no ano ressaltam nossa fragilidade institucional.

Na lista da Transparência Internacional, em que os primeiros colocados são considerados os países menos corruptos do mundo, ocupamos a 79ª de 176 posições em 2017.

Em termos de facilidade para fazer negócios, o Brasil ficou em 125° lugar no ranking de 190 nações avaliadas pelo Banco Mundial neste ano.

Dependendo da ótica, o resultado é mais dramático: em complexidade para pagar impostos estamos entre os 10 piores do mundo.

A lista extensa inclui outros itens como infraestrutura precária, setor público inchado e baixa proteção à propriedade intelectual. A mãe de todos os nossos entraves continua sendo, porém, a falha em oferecer uma boa escola a todos.

Educação de qualidade é a chave para garantir o pleno exercício da cidadania àqueles que elegem políticos, transformam instituições arcaicas e inovam, fatores essenciais para ligar a chave do desenvolvimento econômico e social.

Dados que evidenciam as deficiências educacionais brasileiras são também abundantes e amplamente divulgados.

Mas não deixa de causar choque tropeçar com as frases em um relatório recente do Banco Mundial: "Embora as habilidades de brasileiros de 15 anos tenham melhorado, no ritmo atual de avanço eles não atingirão a nota média dos países ricos em matemática por 75 anos. Em leitura, vai demorar mais de 260 anos".

A conta –feita pela equipe que elabora o relatório "World Development Report" com base em dados do exame internacional Pisa– escancara a profundidade do nosso precipício. Sabemos como chegamos aqui. O abismo é resultado de um descaso também secular com a educação.

Nas últimas décadas, temos tentado avançar. Demos passos como o aumento da inclusão escolar, a adoção de avaliações regulares de aprendizagem e a recente aprovação de uma base curricular que servirá como um norte para o ensino no país. Caminhar é melhor do que estar parado. Mas os dados citados reforçam a necessidade de saltos.

Milhões de crianças e jovens brasileiros permanecem fora da escola. O treinamento de professores continua deficiente. A bem-vinda base agora precisa ser transformada em currículos que façam sentido para as realidades locais.

A solução para essas questões requer esforço árduo, concertado e, sobretudo, contínuo de autoridades das três esferas do governo que não seja interrompido pelas eleições do meio do caminho.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.