Nabil Bonduki

Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi relator do Plano Diretor e Secretário de Cultura de São Paulo.

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Nabil Bonduki

Winston Churchill desceu inesperadamente do carro oficial e entrou no metrô. Iniciou-se uma cena inusitada do filme "Darkest Hour".

O primeiro-ministro estava atormentado com a decisão que teria que tomar: negociar com Hitler ou resistir. Os líderes de seu partido, o Conservador, que flertavam com o fascismo, defendiam uma espécie de rendição honrosa com a Alemanha. Ele não concordava.

A situação era dramática. A Europa continental estava nas mãos do Führer. Trezentos mil soldados ingleses estavam cercados nas praias de Dunquerque, sem opção de resgate. As ilhas britânicas estavam sob risco de uma invasão.

Intrigados com a chegada da figura ilustre no metrô, os passageiros cederam-lhe um assento. Um pedreiro acendeu seu charuto. Após perguntar o nome de cada um, Churchill os questionou: devemos negociar, de joelhos, com o tirano ou lutar até o último homem? Lutar, lutar, lutar, responde um após o outro.

Fortalecido com a firmeza do povo, Churchill vai ao Parlamento, cita cada um que encontrou no metrô e faz vigoroso discurso que unifica e mobiliza a nação para uma arriscada resistência. Cerca de mil pequenas embarcações civis foram resgatar os retirantes de Dunquerque. Uma Londres destroçada suportou oito meses de bombardeios. Cinco anos depois, os nazistas foram vencidos.

Esse momento crucial da resistência ao fascismo é uma referência para refletir sobre o fato da semana: o julgamento de Lula. Como naquelas "horas sombrias" londrinas, está em jogo o "Destino de uma nação".

Os aspectos jurídicos do caso deixo para os especialistas. Juristas imparciais e analistas que nada têm a ver com o PT, como Reinaldo Azevedo, afirmam que a acusação é frágil, sem provas materiais. Está claro que o julgamento de Lula não é jurídico, é político.

Se é político, o que intriga é o poder de três desembargadores da 8ª turma do TRF em Porto Alegre para decidir os rumos do Brasil. Como na metáfora da consulta de Churchill no metrô, cabe uma reflexão: uma questão tão importante para o país não deveria ser decidida de outra forma? O povo não deveria ser ouvido?

Análises imparciais, com a de Fernando Barros na última "Piauí", mostram que a democracia ficará abalada se Lula não estiver na cédula eleitoral. Adversários de Lula (FHC, Temer, Alckmin, Maia) dizem preferir vencê-lo nas urnas a no tapetão. Impedido, ele, que hoje tem grande vantagem, pairará sobre o país como um fantasma.

As eleições serão questionadas e o futuro presidente, seja quem for, ficará sem a legitimidade necessária para governar e fazer as mudanças necessárias para superar a crise institucional e econômica. A situação colocará em xeque a própria democracia. Como superar esse impasse?

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