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Análise: Criminalidade se espalha com jogo de sedução e medo
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JOSÉ DOS REIS SANTOS FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Como o crime se estendeu por mais de uma centena de municípios paulistas?
A resposta a essa pergunta deve considerar que essas organizações visam o lucro. Algo a ser buscado de forma clandestina, é natural, já que fora da lei. Mas contam com chefia e hierarquia.
A contabilidade, o caixa e o estoque precisam estar em dia. Não sobrevivem sem matéria-prima ou insumos.
Funcionam com comunicação interna, logística e pontos de distribuição, troca ou venda.
Reivindicam mão de obra. E, principalmente, precisam de mercado e espaço para autorreprodução.
Consideradas em conjunto, por mais clandestinas que sejam, para dar conta destas atividades ou de parte delas, são obrigadas a manter redes de relações. São obrigadas a vir a público.
Para lavagem de dinheiro, para proteção de suas atividades e, inclusive, proteção de seus membros. São dependentes de agentes ligados ao mercado financeiro e do apoio de policiais dispostos a ultrapassar os limites do lícito. Sobretudo, precisam do envolvimento da população.
E, aqui, o jogo é o da sedução, do medo e/ou da combinação dos dois.
Se o serviço público é ruim, por que não aceitar o oferecido pela criminalidade?
Se imperar o medo do que pode ocorrer com a família, por que não a rendição frente às ameaças do bandido?
No limite, a extensão e a intensidade com que se espalhou o crime organizado só foram possíveis porque o Estado não estava onde devia estar.
A relação do cidadão isolado com a criminalidade só comprova isso.
JOSÉ DOS REIS SANTOS FILHO é sociólogo e coordenador do Núcleo de Estudos sobre Situações de Violência da Unesp
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