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03/12/2010 - 03h00

Traficantes estão vulneráveis, diz chefe da polícia do Rio

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PLÍNIO FRAGA
DO RIO

O chefe da Polícia Civil do Rio, delegado Allan Turnowski, 40, diz que os traficantes vivem momento de "total desestabilização" e afirma que não adiantar caçar chefes avulsos de fácil substituição e sim atacar a estrutura da venda de drogas. "Onde quer que eles estejam, vão estar num lugar de mais fácil acesso e mais vulneráveis."

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Em entrevista, ele explica por que acredita que os ataques ocorreram: "A UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) é o fator principal, mas pode agregar outros, como regime diferenciado para presos, sequestro de bens de familiares. Incomoda essa série de ações indo ao coração deles."

Turnowski dá sua opinião sobre por que o tráfico conseguiu manter territórios no Rio. "A politização da segurança fazia com que as forças de segurança não pudessem agir tecnicamente."

Leia a íntegra da entrevista:

*

FOLHA - A fuga dos maiores chefes do tráfico macula a operação policial feita no Complexo do Alemão?
TURNOWSKI - Onde quer que eles estejam, vão estar num lugar de mais fácil acesso e mais desconfortáveis, vulneráveis. É um momento de total desestabilização desse pessoal. O histórico da polícia do Rio é prender esses líderes dos bandidos.

O que foi feito, na realidade, foi um resgate de território, de armas, de drogas (que refinanciava a compra de armas), dos bens das famílias. O ataque é muito mais complexo.

FOLHA - Por que começaram os ataques do tráfico?
TURNOWSKI - A UPP é o fator principal, mas pode agregar outros, como regime diferenciado para lideranças presas, sequestro de bens de familiares. Incomoda essa série de ações indo ao coração deles.

Os ataques são uma resposta para a falta de acordo. O número de UPPs vai aumentando, chegando mais perto, os caras continuam em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado, a que chefes do tráfico presos estão sendo submetidos), polícia prendendo parente, transferindo preso e não tem conversa.

A polícia começou a trabalhar com investigação de lavagem de dinheiro. Prende familiares de traficantes. Isso incomoda.

FOLHA - A inteligência da polícia detectou preparativos de ataque para a véspera do primeiro turno da eleição. Por que não aconteceram naquele momento e só agora, mais de um mês depois?
TURNOWSKI - Se alguém pensou em fazer algo, não começou a executar. A inteligência disse: pode ser que tenha. Mas os atos executórios não começaram. A polícia agiu depois que os atos executórios começaram.

Estamos atrás desse blindado há quatro anos. Fomos a Israel e nos disseram: vocês não precisam de um blindado civil, precisam de um blindado militar. Está aí a prova. A surpresa foi fundamental. Eles poderiam ter dado contrarrespostas a esses blindados: fossos, tipo de barreiras que pudessem não deixar entrar...

FOLHA - Quanto o Alemão representa do faturamento do Comando Vermelho?
TURNOWSKI - O Alemão é 60% no mínimo do faturamento. Posso estar colocando para baixo, para cima nunca. Além de atingir o Alemão, atingimos todos os arredores. Aquelas toneladas de maconha guardadas ali não eram só do Alemão. Como era um porto seguro, a droga chegava e era armazenada ali. Dali era distribuída. Isso acabou. Vão ter de esconder nas bases, onde são mais vulneráveis.

FOLHA - Houve acusações de pequenos furtos, roubos e até venda de fugas durante a operação.
TURNOWSKI - Quando você tem milhares de homens envolvidos, vai haver uma dezena ou duas de policiais mal intencionados que realmente devem ter feito coisas erradas. Se forem pegos, serão demitidos. É uma pena que maus policiais estejam nas corporações, mas isso é um processo. Não vai limpar as corporações da noite para o dia.

FOLHA - O tráfico arrecada dinheiro vivo, mas pouco foi apreendido.
TURNOWSKI - Deveria ter mais dinheiro lá, mas nem todo dinheiro que movimento o tráfico estava lá. Tinha dinheiro? Tinha. Pode ter sumido? Pode. Mas não que todo o dinheiro do tráfico estivesse lá.

FOLHA - Tráfico de droga existe em qualquer lugar. Mas por que o Rio chegou a esse ponto de ter tanta arma e de ter territórios dominados?
TURNOWSKI - O Rio chegou a esse ponto por um motivo: politização da área de segurança pública. A politização da segurança fazia com que as forças de segurança não pudessem agir tecnicamente. Eram impedidas politicamente de entrar em certos redutos com muitos votos.

 

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