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19/05/2011 - 18h30

Para jornalista, 'churrascão' por metrô em Higienópolis' surtiu efeito; leia o bate-papo

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DE SÃO PAULO

O jornalista José Benedito da Silva, 43, repórter do caderno Cotidiano da Folha, participou de bate-papo nesta quinta-feira (19) sobre a polêmica da construção de uma estação do metrô no bairro de Higienópolis, região central de São Paulo.

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Marcelo Justo /Folhapress
José Benedito da Silva é jornalista da *Folha* desde 99
José Benedito da Silva é jornalista da Folha desde 1999

O projeto de nova estação na esquina da rua Sergipe com a avenida Angélica havia sido alterado após protesto de moradores da região que não queriam a estação no local. Com isso, o Metrô estudou a possibilidade de mudá-lo para a região do Pacaembu ou para o "miolo" do bairro de Higienópolis, área nobre da cidade.

Participaram do bate-papo 269 pessoas.

O texto abaixo reproduz exatamente a maneira como os participantes digitaram suas perguntas e respostas.

*

(05:01:38) Bruno: Quem realizou, afinal, esta enquete com os moradores? Como começou a história toda?

(05:03:05) José Benedito: A resistência de parte dos moradores de Higienópolis começou logo após o governo divulgar as primeiras informações, no primeiro semestre de 2010. Parte desses moradores se organizou em torno da Associação Defenda Higienópolis, que não existia, e divulgou um abaixo-assinado na região. Foram cerca de 3.500 assinaturas.

(05:03:29) Bruno: Afinal, o metrô mudará ou não de lugar?

(05:04:04) José Benedito: Sim, a estação vai mudar. Definitivamente, não será mais no local anunciado, na esquina da avenida Angélica e rua Sergipe. Isso está descartado.

(05:04:17) Lucas: Você acredita em critérios técnicos para mudar a estação de local?

(05:06:50) José Benedito: O único critério técnico que o governo apresentou até agora foi o da má distribuição das estações: a da Angélica estaria a apenas 510 m da estação Higienópolis-Mackenzie e a 1.600 m da estação PUC-Cardoso de Almeida. É difícil sustentar que isso motivou a decisão, porque, quando defendeu a estação Angélica, no início, o governo também disse que a opção pelo local era técnica. E os técnicos do Metrô são os mesmos. Além disso, se a estação ficar mesmo na rua Sergipe, mas mais perto das ruas Bahia ou Ceará, a mudança será de pouco mais de 200 m.

(05:07:22) José Benedito: Ou nem 200 m, pode ser menos.

(05:07:27) Caio: Zé, boa tarde. Acompanho suas publicações e considero-o um dos repórteres mais objetivos e claros da equipe Folha - sem demértio a nenhum outro amigo. Contudo, devo perguntá-lo, de um ponto de vista objetivo e destacado da profissão de repórter, essa história do metrô não está sendo sobrevalorizada demais, sendo alçada a um papel de produto para vincular notícia?

(05:10:48) José Benedito: Obrigado. Não, não acho que seja isso. A questão é que foi em Higienópolis, bairro que concentra boa parte da elite paulistana. Isso criou dois movimentos. O primeiro foi mobilizar o leitorado da "Folha" e dos outros jornais porque boa parte desse leitorado está ou trabalha na região. A outra é que, justamente por ser um bairro da elite, atraiu uma reação considerável de quem acha que esse setor da sociedade vive em gueto e não consegue enxergar a cidade em uma dimensão mais ampla. Os protestos contra Higienópolis e o fato de a questão envolver diretamente boa parte do leitorado do jornal foi o que impulsionou a repercussão do caso.

(05:11:15) Teca: Para que ano a estação está prometida?

(05:12:23) José Benedito: Os cronogramas do Metrô sempre são alterados. Isso ocorreu em quase todas as linhas. A ideia era terminar a linha 6-laranja antes de 2014, ano de Copa. Mas hoje ninguém acredita que ela fique pronta antes de 2017. A avaliação é do próprio governo.

(05:12:43) Tereza: Gostaria de saber sobre a estação Três Poderes, no Butantã, que foi banida do mapa, a pedido de moradores da região> São umas 300 residências contra 50 mil usuários previstos. A estação virou apenas um respiro. Agora, entre a estação Butantã e a Morumbi, são 2,4 Km! A Folha já noticiou na época. Por que não aproveita agora, pra cobrar explicação do governo?

(05:15:31) José Benedito: O fato de o governo, também sob o comando de Alckmin, ter recuado da estação Três Poderes, da linha 4-amarela, em 2005, também ajudou a colocar a decisão relativa à estação Angélica sob suspeita agora. Naquele caso, o governo também desistiu da estação após protestos de moradores, mas não colocou nada no lugar. Ficou realmente um hiato de 2,4 km. Agora, o governo desistiu da Angélica e parece ainda procurar outro local para a estação. Não haverá um 'buraco' tão grande entre uma estação e outra. A gente já discutiu aqui uma pauta sobre "o buraco" que ficou na linha 4. Vamos ver.

(05:16:10) susi: além das justificativas dadas pelos moradores, você não acredita que aquele acidente durante as obras de outra estação,pode ter sido outro motivo para a rejeição desta nova construção?

(05:17:55) José Benedito: Acredito. O acidente, também em uma região de classe média alta (Pinheiros) ainda está vivo na memória de muita gente. A estação Pinheiros só foi inaugurada esta semana. Mas houve outros fatores. Parte dos moradores e comerciantes de Higienópolis acredita que uma estação de metrô pode trazer degradação urbanística e social à região.

(05:18:06) Jaime: Como é definido o local onde vai ficar uma estação de metrô? Por exemplo, por que no aeroporto não? Por que em Moema, não? Enfim, Santo Amaro me parece um lugar mais cheio do que muitos outros e não tem metrô

(05:21:09) José Benedito: É o Metrô quem define o traçado das linhas e a localização das estações. A companhia tem uma boa equipe técnica, experiente na execução desse tipo de projeto. O problema é que a rede de metrô de São Paulo ainda é muito incipiente. São pouco mais de 70 km. A verdade é que falta metrô em muito lugar e onde existe já há sobrecarga em vários momentos do dia. Nos últimos anos, o governo tem apresentado mais projetos para expansão da rede, mas a verdade é que há muito a ser feito. As primeiras linhas privilegiaram a cobertura nos sentidos norte-sul (linha 1-azul) e leste-oeste (linha 3-vermelha). Agora, são pensadas outras linhas para aumentar as conexões e deixar a malha com uma cobertura mais equilibrada. Tudo muito devagar ainda.

(05:21:36) Luis: A quem interessa divulgar com tanta antecedência a construção de uma estação?

(05:23:47) José Benedito: Bom, primeiro, a legislação. O processo de construção de uma linha de metrô envolve um complexo processo, que inclui a participação da sociedade por meio de audiências públicas. Acho até que se deveria haver discussão com mais antecedência ainda. Hoje, o governo já vem para a audiência pública com o traçado pronto, com a lista e a localização das estações pretendidas etc. Acho que divulgar antes ajuda a sociedade a opinar, a dizer o que acha do projeto, antes que ele entre na fase de licitações, obras etc.

(05:24:08) gmon: Higienópolis já tem sua estação de metrô: Mackenzie Higienópolis. Sendo uma linha das universidades, porque não haveria uma estação próxima a FAAP?

(05:27:08) José Benedito: Foi o Metrô, embasado em estudos de seus técnicos, quem sugeriu a estação Angélica. E disse que havia demanda para a região de 25 mil pessoas/dia, o que justificaria a construção da estação. É bom lembrar que, no primeiro traçado apresentado, havia as duas estações: Angélica e Faap-Pacaembu. Depois, o governo descartou a segunda alegando baixa demanda. Depois, descartou a primeira e "ressuscitou" a segunda. Depois, disse que a segunda não seria mais na praça Charles Miller, como era antes, mas em algum lugar que atendesse a praça Vilaboim, a Faap e o estádio. Agora, diz que é na rua Sergipe, perto da Angélica. É isso que compromete um pouco o discurso do governo de que a exclusão da Angélica foi técnica.

(05:27:38) moradora: É verdade que o metro paga apenas 80% do valor do IPTU para desapropriar um imóvel para o metro?

(05:31:39) José Benedito: Não. O Metrô contrata um estudo técnico para avaliação das áreas, com base em parâmetros utilizados no setor. Na semana passada, o Metrô já abriu a licitação para contratar a empresa que fará o que chamam de "laudo macro de avaliação". Ela funciona assim: o Metrô diz onde pode precisar desapropriar (para estações, pátios ou túneis) e a empresa contratada faz uma avaliação, não de cada imóvel, mas do valor do metro quadrado médio daquela área. Depois, quando os projetos do metrô definirem exatamente quais imóveis serão desapropriados, aí se faz, com base no laudo macro feito anteriormente, o laudo de cada imóvel. O proprietário não é obrigado a aceitar o valor, pode contestá-lo na Justiça. Muitos fazem isso. Aí, o juiz pode nomear um perito para fazer nova avaliação e, a partir disso, arbitrar um outro valor.

(05:32:10) Zoroolu: Zé, se recentemente a população da região de higienopolis não aceitou a construção na região e mostrou força frente as autoridades e ao consórcio da linha 4, porque não pode ser tão facil quanto, reinvidicar a construção de metros em determinadas regioes?

(05:37:53) José Benedito: Pressionar o governo é legítimo. É um direito dos moradores, da sociedade civil organizada, dos outros entes políticos, enfim, faz parte do jogo. A questão é que houve pouquíssimos protestos contra a construção de estações de metrô em São Paulo. Além dos casos da Angélica e da estação Três Poderes, houve alguma resistência na ampliação da linha 5-lilás por parte de moradores do Campo Belo e Brooklin, que também conseguiram pequenas alterações no projeto. Outra resistência vem hoje da região do Morumbi ao projeto da linha 17-ouro, o monotrilho que vai ligar o aeroporto de Congonhas ao Jabaquara e ao Morumbi - estes não conseguiram nada do governo, mas obtiveram uma liminar na Justiça que impede a assinatura do contrato para a obra. Agora, no caso de movimentos para exigir metrôs em suas regiões, o problema é outro: há demanda demais. Pode ser mais difícil arrancar alguma coisa do governo porque não há dinheiro para levar o metrô a todas as regiões necessárias. E o próprio governo não consegue tocar vários projetos.

(05:38:46) Jaime: Tenho a impressão de que os locais que precisam de metrô quando realmente são beneficiados com este transporte já ficou caro demais e a população se mudou para mais longe. Isto de fato acontece?

(05:41:26) José Benedito: Pode ser, não tinha pensado nisso. Mas há projetos em andamento, que, se viabilizados, vão beneficiar bairros bem periféricos. É o caso da Brasilândia (linha 6) e Cidade Tiradentes (linha 2). Mas há regiões centrais ou próximas ao centro, de moradias de classe média alta, que ainda não têm metrô, como Moema e Perdizes, só para citar dois.

(05:41:45) Eder: O metrô é a única solução para SP?

(05:44:13) José Benedito: Não, não é. Vários especialistas ouvidos por este repórter batem na tecla de que é preciso investir mais em corredores de ônibus, que, dependendo da região e da demanda, é uma alternativa muito melhor ao metrô. Mas há também uma certa resistência à expansão dos corredores de ônibus, principalmente de quem usa carro, porque o corredor ocupa espaço destinado a eles. A prefeitura tem vários projetos de investimento em corredor de ônibus, eles inclusive constam do plano de metas de Kassab, mas está tudo no papel ainda. O governo municipal diz que vai implantar parte deles até o final do mandato, em 2012.

(05:52:46) José Benedito: Além de mais corredores de ônibus e linhas de metrô, os especialistas também defendem que São Paulo tente duas coisas: 1) redistribuir melhor a oferta de empregos, para que a pessoa não precise se deslocar tanto pela cidade _hoje, os empregos estão concentrados na região central e 2) atrair mais moradores a regiões onde já há infraestrutura de transportes, como o centro, a Barra Funda etc. A ideia é, além de oferecer mais transporte público, reduzir os deslocamentos.

(05:44:50) Daniela: A partir do momento que já tem um planejamento feito como era a linha amarela, o fato de ter quer mudar tudo devido a algumas pessoas que não tem a menor empatia não atrasa e gera custos exorbitantes? Não seria melhor deixar que as pessoas falassem e continuassem como já havia sido planejado?

(05:47:12) José Benedito: Se a estação era necessária e foi excluída por conta de pressões localizadas, certamente há um prejuízo. Não precisa ser de dinheiro ou de tempo. Pode não atrasar nem ficar mais caro, mas pode trazer um prejuízo de eficiência ao transporte público.

(05:47:33) andrevbc: Você acredita que foi só a pressão dos moradores que fez o metrô mudar o local da estação em higienópolis?

(05:50:17) José Benedito: Pode ser que não, mas era a única estação contestada da linha e de todo o plano de expansão (no caso da linha 17-ouro, a contestação é contra a linha toda...). E os argumentos técnicos do governo ainda estão por ser apresentados, inclusive ao Ministério Público, que investiga o caso. Como eu já disse, o único argumento técnico até agora foi o da má distribuição das estações, mas a nova estação deve ficar muito perto de onde ficaria a estação Angélica.

(05:53:09) Toninho46: Se a estação vai ser na Rua Sergipe, como a Folha noticiou, então a pressão dos moradores não surtiu efeito

(05:56:34) José Benedito: A estação não será no mesmo local. A pressão maior vinha dos que moram ou tem negócios no local onde seria a estação. Na localização anterior, desapropriaria um supermercado, um empório de vinhos e um edifício residencial, o Palmares, entre outros imóveis comerciais e residenciais. Agora, o governo escolhe uma região, pouco adiante, e anuncia, como disse Alckmin, que será uma estação modesta, sem necessidade de grandes desapropriações. Claro que, para aquele que não queria a estação em nenhuma área da região, a pressão não surtiu mesmo o efeito desejado.

(05:57:24) Heloisa: Como você avaliou o protesto feito pelas pessoas a favor do metrô na Angélica? Acha que o saldo do "Churrascão de Higienópolis" foi positivo?

(06:00:56) José Benedito: Acho. Foi positivo porque mostrou participação da sociedade na discussão de um grande projeto do governo, o que não é tão comum assim. Acho, inclusive, que foram positivas tanto a resistência de moradores e comerciantes quanto a reação de quem considerou a pressão indevida e exigiu o metrô no lugar que o governo havia previsto. Esse tipo de embate obriga o governo a expor melhor o que pretende, a se apresentar mais para a discussão. O protesto do "churrascão" também teve um componente saudável, à medida em que teve um grau de espontaneidade muito alto, sem a participação dos instrumentos tradicionais de mobilização (sindicatos, partidos etc). Acho que pode indicar uma tendência.

(06:01:29) José Benedito: Eu queria agradecer a todos. Obrigado!

(06:01:18) Moderador UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença do repórter José Benedito e de todos os internautas. Até o próximo!

 

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