Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter

Ribeirão Preto

24/06/2012 - 07h00

Sobrevivente relata momentos de tensão em soterramento de Lins (SP)

Publicidade

(...) Depoimento a
JULIANA COISSI
ENVIADA ESPECIAL A LINS

O operador de máquinas Renato Basilio da Silva, 31, e outros três operários conseguiram sobreviver a um soterramento que matou outros cinco colegas.

O acidente aconteceu na última segunda-feira, em Lins, no interior de São Paulo, em uma obra para tubulação para a usina Lins, pertencente à usina Batatais. Silva ficou sob a terra por uma hora até ser resgatado.

Leia abaixo depoimento de Silva sobre o acidente.

-

Eu cheguei já na troca do turno, eram 15h, quando o buraco já estava grande, uns cinco ou seis metros de profundidade, acho. Devia faltar só mais uma hora para terminar o serviço.

O pessoal estava desde o começo da manhã na obra, colocando a tubulação para drenar a água da chuva.

Silva Junior/Folhapress
O operador de máquinas Renato Basilio da Silva, que foi um dos sobreviventes após soterramento na usina Lins
O operador de máquinas Renato Basilio da Silva, que foi um dos sobreviventes após soterramento na usina Lins

Já tinham feito uns dez metros [de extensão] de tubulação. Sou operador de máquinas e estávamos em duas máquinas, uma escavando, mesmo, e eu pegando o excesso.

Da equipe, fui o último a chegar na obra. Lá na valeta estavam dois operários.

São eles que nivelam a terra para depois descer a tubulação de ferro com a máquina. Aí, em seguida, viria o caldeireiro, para alinhar a tubulação no chão. Depois, viriam os soldadores e, assim, continuaria.

De repente, veio o primeiro desmoronamento. Dos dois que estavam no buraco, um ainda conseguiu fugir, mas o outro ficou preso. Todo mundo então desceu para ajudar a tirá-lo.

O Mário André [que coordenava o serviço naquele momento, de acordo com a usina, e que morreu] se desesperou. Ele foi um dos primeiros a pular no buraco para salvar o funcionário.

Deixei a máquina e desci também. Quando desci, o outro operador que estava na máquina gritou lá do alto: "Ó, vai cair de novo!".

Tentei correr, mas não consegui. Essa parte toda do ombro direito para baixo ficou presa. Olhei para cima e estava vindo mais terra.

Eu estava, acho, que a cerca de dois metros da altura do barranco. Eu era um dos que estavam mais na parte de cima [da obra].

O resto a terra cobriu tudo. Os únicos descobertos foram eu e o outro, que foi o primeiro a sair, porque a terra estava só até a altura do joelho.

Eu pensava somente em sobreviver e rezar a Deus para que meus colegas de trabalho também saíssem vivos.

O desespero era grande, você não podendo fazer nada naquela situação.

Ah, nessa hora você pensa em sobreviver, na família, [pensa] muita coisa.

Ao mesmo tempo, dá uma tristeza de perder os amigos, porque depois fiquei sabendo [da morte] deles.

Não dava para ouvir, porque muita gente veio chegando e falando alto, não dava para ouvir.

Eu cheguei mais no final, na troca do turno. Quando cheguei, o buraco já estava grande.

PROBLEMAS

Acho que faltou calçar o barranco, não tinha nada. Não havia escoramento, e acho que tinha de ter numa valeta daquela.

Não havia tábuas comprimindo o barranco ou alguns caibros protegendo --caso desmoronasse, teria algo protegendo a gente.

Depois que eu fui socorrido, não vi o restante do resgate. Pediram para que eu saísse de lá. Entrei na usina e depois pedi ao encarregado para ir embora.

Meu sogro e minha mulher estavam me esperando e me levaram para o hospital. Lá na usina ainda colocaram uma faixa no meu braço. Quando cheguei ao hospital, o imobilizaram.

Ah, ver minha mulher e depois minha filha foi só felicidade. Minha filha [Layla, 6] não desgruda de mim agora, depois do acidente.

Deus me protegeu, caso contrário eu não as veria de novo. Deus me deu outra oportunidade.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página