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Ribeirão Preto

24/12/2012 - 06h25

Grau de exigência do eleitor derrotou PT em São Carlos, diz prefeito

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LEANDRO MARTINS
ENVIADO ESPECIAL A SÃO CARLOS

São Carlos é uma uma "cidade redonda", o PT do município perdeu as eleições de outubro devido ao "grau de exigência" de seus moradores e o julgamento dos réus do mensalão não influenciaram nos resultados das urnas.

Estas são algumas das avaliações feitas pelo prefeito Oswaldo Barba, último petista a comandar uma das quatro maiores cidades da região.

O partido já governou, entre 2000 e 2004, os municípios de Ribeirão, Franca, Araraquara e São Carlos, e, a partir de 2013, estará fora do comando das quatro maiores cidades da região.

Márcia Ribeiro/Folhapress
O prefeito de São Carlos, Oswaldo Barba (PT), durante entrevista na sede do governo municipal
O prefeito de São Carlos, Oswaldo Barba (PT), durante entrevista na sede do governo municipal

Em outubro, Barba perdeu as eleições para o tucano Paulo Altomani, que assumirá o cargo em janeiro.

Leia a íntegra da entrevista.

Folha - O que o sr. acha que deixa como principal legado desses quatro anos para São Carlos?
Oswaldo Barba - Eu tenho dito que saio muito satisfeito com aquilo que nós conseguimos avançar em relação à educação. Eu sou um educador e coloquei como prioridade a educação, mas prioridade real. Tanto que nós investimos em torno de um terço do Orçamento em educação.

Além da parte estrutural das escolas, que eu reformei todas as escolas que nós temos, que são 52, me propus a fazer mais 12. Entreguei três, tem nove que estão em processo de construção --algumas já bem adiantadas, algumas começando. São 12 que eu trouxe os recursos. Com isso, nós vamos atender basicamente toda a demanda educacional do município.

Incluindo creches, que são um problema grave na maioria dos municípios?
Sim, essas 12 são creches. Já atendemos crianças acima de quatro anos, não tem nenhuma fora. Com essas 12 escolas, vamos atender nas creches também, vamos resolver esse problema.

Também investi na parte de informatização, todas as escolas têm banda larga, as crianças trabalham com notebook na carteira, merenda escolar de alta qualidade. Fornecemos merenda escolar para as nossas e para as crianças do Estado, são 60 mil merendas por dia, montamos uma indústria na realidade para trabalhar com isso.

Nós temos boletim eletrônico, os pais acompanham o desempenho das crianças pela internet. Tínhamos 800 professores efetivos, contratei mais 435, hoje temos 1.235 professores efetivos. Também investi na educação profissional porque é importante preparar as pessoas para que elas pudessem ter acesso ao mercado de trabalho, porque também geramos mais de 10 mil empregos nesses quatro anos. Ofereci, só de cursos pela prefeitura, mais de 22 mil vagas. Acho que nessa parte educacional foi um grande salto.

A outra coisa importante que eu também tinha colocado como prioridade foram casas populares. Fizemos 4.300 casas e já deixei assinado mais 2.500. Isso é uma quantidade de casas que a cidade nunca tinha visto. Acho extremamente importante, casas para famílias de baixa renda, de zero a três salários mínimos. Já estou deixando assinado um conjunto habitacional de 700 casas para servidores públicos. Deixei mais 1.800 para famílias de zero a três. Com isso, nós estamos praticamente atendendo a demanda existente de casas na nossa cidade. Outro eixo importante foi saúde. É [uma área] muito difícil, não tem cidade onde a prefeitura saia bem, está sempre correndo atrás.

Em uma das entrevistas no início do governo, o senhor disse que a saúde seria uma das prioridades. Apesar disso, foi um tema criticado pelos adversários na campanha. O que houve?
É muito fácil criticar a saúde. Se você pegar os 5.600 municípios brasileiros, em todos eles o tema foi saúde. É muito fácil criticar porque saúde requer grandes investimentos, está mais associada também a uma questão nacional, não só local. Assim mesmo, nós investimos muito aqui. Estamos fazendo a maior obra da história da cidade de São Carlos, o hospital que estamos construindo. Ele tem 31 mil metros quadrados de área construída.

Deveria ter sido entregue no governo do senhor. O que aconteceu?
Nós tivemos dois problemas que impediram a sua entrega. Um foi a própria crise econômica, que dificultou um pouco em alguns momentos o fluxo de recursos. E a própria empresa que estava construindo, que faliu por outras razões, não foi nem por problema nosso. Ela faliu e isso fez com que nós tivéssemos que recomeçar. E você fazer licitação de obra no meio do caminho é pior do que fazer no começo porque você tem que levar em consideração tudo o que foi feito, tem que estar tudo especificado.

Então tivemos que refazer todo esse processo, mas ela [a obra] está andando. A expectativa é que dentro de seis meses esteja entregue. Deixo com 85% da obra pronta, com recursos para o seu término e com recursos para equipar. Então, acho que eu estou deixando a coisa engatilhada.

Também entreguei no meu governo uma UPA [Unidade do Pronto Atendimento], a da Vila Prado, que hoje é um mini-hospital. Estou fazendo outra que está em fase de acabamento, que é a da Santa Felícia. E estou construindo mais oito postos de Saúde da Família, que também já tem recursos da parte do governo federal. Tem posto que já está com 90% da obra pronta, outros com 50%, outros estão começando. Com a entrada desses postos e das equipes, vamos ter uma cobertura de 60% da população de São Carlos pelo Programa de Saúde da Família.

Deixo também os recursos para a reforma do Cemi, que é o centro de especialidades, estou com os recursos assegurados para reformar inteiro. Onde era o pronto-socorro já deixo os recursos para ser feito um centro oncológico para tratamento das pessoas com câncer.

Fiz o maior programa de recapeamento da história de São Carlos, nos meus quatro anos fiz 1.080 quarteirões de recapeamento, e estou deixando recursos já contratados para mais 690 quarteirões, que o próximo governo vai poder fazer.

São recursos de emendas parlamentares conquistadas principalmente junto ao deputado federal Newton Lima [PT], mas tem emendas também do Jilmar Tatto [PT], do ex-deputado [Antonio] Palocci [PT] e também do José Eduardo Cardozo [PT]. Mas o forte aí são quase R$ 7 milhões de emendas do deputado Newton Lima.

Fica muito claro que havia um plano não de apenas quatro anos. Há muita coisa que o senhor previa continuar?
Na realidade, quem pensar em governar e fazer planos para quatro anos tem, talvez, uma visão muito estreita. Um governo é um processo no qual você recebe de outros coisas quando você entra e obviamente você deixa coisas para o próximo.

A tradição brasileira é muito ruim nisso porque as pessoas normalmente pegam aquilo que foi feito e querem destruir para apagar a imagem do anterior. Eu acho isso uma coisa muito ruim. Então, estou fazendo uma transição que eu não conheço igual em outra cidade, embora seja um adversário meu que vá governar. Estou fazendo questão de passar todas as informações, construímos um portal da transição, acho que você não vai encontrar em outra cidade.

Nós temos uma lei de transição que cumprimos integralmente, passamos todas as informações, tem todos os dados colocados no nosso portal, além das reuniões que foram feitas entre as equipes.

Então, meu sucessor recebe a prefeitura equilibrada, com recursos, com projetos e com todas as informações. É o que eu acho que eu poderia fazer em prol da cidade.

O que o senhor acha que deveria ter feito, mas não conseguiu fazer nesses quatros anos?
Tem coisas que a gente gostaria. Por exemplo, a Cidade da Energia Limpa e Renovável é um projeto importante, de interesse estratégico para o país.

Avançou pouco. Por quê?
Nós tivemos uma dificuldade em relação ao Ministério Público acionando a questão ambiental de uma duplicação de uma estrada que já existia. O dinheiro [para o projeto] ainda está aí. Mas infelizmente não conseguimos resolver esse problema. Pode ser que o meu sucessor resolva.

Tem uma liminar que cassou a licença dada pela Cetesb. Você imagina, temos um órgão que controla toda a questão ambiental, fizemos todo o licenciamento em cima da legislação desse órgão, e o Ministério Público conseguiu cassar a licença.

Sem a duplicação da estrada não dava para pensar numa próxima etapa?
Não dá, a estrada é vicinal, colocaria em risco qualquer aumento no trânsito daquela região. Você vai montar um local que vai ter exposição permanente, não tem condição. Nós fizemos um projeto lindíssimo de duplicação da estrada, com ciclovia, passagem para animais, drenagem.

Então, isso para mim foi uma frustração. Por outro lado, acho que nós conseguimos avançar bastante nas obras, por exemplo, de combate a enchentes. Fizemos obras importantíssimas na região central, não tivemos mais problemas de enchente ali. Estamos fazendo toda a canalização do rio Gregório, que devo entregar na próxima sexta-feira, também é uma obra importante de combate a enchente.

Conseguimos que o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), espero que lance ainda o edital para a passagem do rio por baixo da linha férrea, porque ali é um grande gargalo que provoca inundações porque a passagem é muito limitada, de mais de 70 anos. É uma obra do Dnit. Mas conseguimos colocar recursos para o Dnit, fizemos o projeto, estamos aguardando o Dnit lançar o edital.

Fizemos uma outra obra importante por baixo da ferrovia também, que é a duplicação por baixo da praça Itália, uma obra importante que vai melhorar o fluxo e resolver um problema de enchente naquela região.

Conseguimos finalmente resolver um pouco a questão da área onde foi construído um conjunto habitacional da CDHU, que não tinha nem a propriedade da área. Conseguimos, depois de muita luta, a cessão de uma área para que pudéssemos fazer o posto de saúde que estamos fazendo lá. Conseguimos a doação de uma área da CDHU para que a gente faça um piscinão e resolva o problema da enchente nesse mesmo conjunto habitacional.

Então, eu vejo que avançamos bastante em obras estruturais para a cidade e também na questão social, temos mais de 6.000 famílias que são atendidas através de programa de complementação de renda. Hoje posso dizer que são poucas as famílias que não são atendidas pela prefeitura em parceria principalmente com o governo federal.

Me parece que avançamos muito, trouxemos bastante empresas, geramos empregos, a cidade está avançando e a ideia é que ela continue crescendo com qualidade de vida e com sustentabilidade.

O senhor citou uma série de investimentos, mas estivemos na Vila Izabel, onde em novembro ocorreu a chacina na qual sete pessoas morreram. Moradores daquela região reclamaram muito da falta de investimentos na área social.
Ali é a questão da CDHU, a chacina foi do lado ali. Não tínhamos como fazer, a quadra, por exemplo, é feita fora. Não tínhamos a posse da área, não podíamos fazer investimentos lá dentro. Conseguimos finalmente o mínimo para poder fazer o posto de saúde.

São investimentos que estamos fazendo, mas que deveriam ter sido feitos lá atrás, na época que a CDHU construiu, há 15 anos, e ainda não tem a documentação regularizada. E construíram num local que dá enchente. São coisas que, depois que está feito, para consertar, é muito difícil.

Eles [moradores] reclamam com razão, mas é uma coisa história, não é de hoje, não é da minha gestão nem da passada.

A Folha noticiou recentemente que São Carlos, em 2011, tinha mais cargos comissionados até do que a Prefeitura de Ribeirão Preto. Por que essa estrutura?
O que eu posso assegurar: primeiro, nós reduzimos. Quando o PT assumiu aqui praticamente 13% do total de servidores eram cargos comissionados. Nós fomos reestruturando isso, chegamos a 7%, hoje estamos numa taxa bem menor. Viemos trabalhando.

Agora, é tudo em função da estrutura que você tem, da quantidade de servidor que tem, da qualificação. O que eu procurei fazer para poder reduzir? Fui qualificando o servidor para assumir os cargos. Nós temos escola de governo, oferecemos mais de 9.000 oportunidades de qualificação para os servidores, para que eles possam cada vez mais assumir esses cargos. Fui o prefeito que mais nomeou secretários funcionários de carreira, isso era um processo de valorização do nosso servidor.

Consegui fazer o plano de salários e carreiras dos servidores. É um investimento que nós temos feito no sentido de ir preparando o servidor para que ele possa realmente assumir o papel que ele tem que assumir. Ele tem que estar preparado para isso.

O senhor falou que a transição foi tranquila e exemplar. Como vai ser a atuação e a postura do senhor em relação ao próximo governo?
Obviamente eu vou ter uma postura crítica, até porque quem está entrando foi oposição ao nosso governo. Mas nós costumamos, como partido, fazer uma oposição responsável. Aquilo que for de interesse e que significar a preservação ou ampliação das coisas que nós julgamos importantes para a cidade, terá o nosso apoio. Aquilo que for retirada de direitos e avanços, vai ter uma natural oposição do nosso partido.

Depois de dois meses da eleição, já deu para fazer uma análise do que aconteceu? A que o senhor atribui a derrota?
Eu vejo que é um fenômeno que não é só daqui. Foi uma coisa que ocorreu num âmbito muito maior, uma necessidade de alteração, um desejo de mudança. Nós estamos no governo há três gestões, isso em si já é difícil ir para a quarta. E, depois, as referências vão ficando muito distantes. Desde que o PT assumiu junto com os outros partidos coligados, nós viemos provocando uma mudança muito significativa na cidade. Aqueles problemas crônicos, graves, que nós tínhamos na cidade, eles foram ficando para trás.

Então, as pessoas não têm mais aquela referência da cidade que não era cuidada, que não tinha serviços adequados para a sua população. Hoje eu posso dizer que São Carlos é uma cidade redonda.

Esse reconhecimento não é dito por mim só, eu ganhei 12 prêmios em quatro anos, relativos à gestão municipal. Sou o único prefeito a ganhar quatro vezes o prêmio Prefeito Inovador, que é um prêmio dado pelo movimento Brasil Competitivo. Ganhei o título de Prefeito Empreendedor, dado pelo Sebrae. Ganhei o prêmio de município que faz render mais, dado pela Fiesp.

Só esses prêmios, todos eles dados por entidades patronais, empresariais. Ganhei ainda o de melhor gestor da merenda escolar, o Prêmio Criança, da Fundação Abrinq, em 2010. Na área de tecnologia de informação por tudo que nós fizemos em termos de disponibilizar serviços para a sociedade. Então, as pessoas esquecem essas coisas.

A avaliação do senhor é que os problemas mais graves ficaram lá atrás e a população perdeu esse parâmetro de comparação?
Ela não tem mais aquele problema grave. Claro que tem os problemas de saúde como em qualquer outra cidade, mas aí eles ficam amplificados, porque você tem uma cidade relativamente equacionada.

Mas se não há problemas mais graves, não deveria ser o contrário? Não deveria ter sido mais fácil vencer a eleição?
Mas o ser humano não é assim que funciona. O grau de exigência vai subindo. Fizemos o Orçamento Participativo todos esses anos e o sintoma é esse. Você pega as reuniões do Orçamento Participativo iniciais, eram reivindicações de escolas, posto de saúde.

Hoje, as reivindicações são outras, estão mais focadas na questão do bem-estar, querem pista de caminhada, são outras reivindicações mais sofisticadas, porque o essencial está sendo atendido. Temos estação de tratamento de esgoto, imagine, não se tratava um mililitro de esgoto nesta cidade. Estamos tratando, de quatro anos para cá, praticamente todo o esgoto. Estão faltando 15% porque estamos acabando as estações elevatórias. Então, isso é um privilégio para a cidade. É um investimento altíssimo numa estação de tratamento de esgotos que não fizemos.

Na campanha, para mostrar isso para a população, o senhor acha que houve falha?
Acho que nós procuramos mostrar. Uma coisa que eu sempre disse na campanha é que eu não mentiria para a população. Não é meu feitio, então procurei colocar para a sociedade as propostas que eu sabia que eram viáveis. Conheço hoje muito bem a máquina, sei do potencial, onde temos recursos, onde não temos, então procurei fazer uma campanha que colocasse para a sociedade exatamente aquilo que era possível de ser feito. Mostrei tudo o que estava sendo feito, mesmo na questão da saúde. É claro que eu não posso terminar um hospital se a construção dele não acabou, mas veja que estamos fazendo a maior obra da cidade. Ninguém faz um hospital do dia para a noite, são R$ 70 milhões só na construção. Procurei mostrar e não fiz propostas que não são factíveis. Tenho responsabilidade.

Entre os adversários, especificamente o que venceu, o senhor acha que há muita promessa difícil de ser cumprida nos próximos quatro anos?
O tempo vai dizer isso. Acho que as pessoas construíram suas propostas e agora vão ter que mostrar a execução delas.

Sobre o futuro do senhor na política, o que planeja?
Agora eu vou dar uma descansada porque também não sou de ferro. Vim de oito anos de uma reitoria, depois quatro anos como prefeito. Não tirei férias praticamente, então agora vou dar uma descansadinha e depois vamos ver. Acho que eu tenho condições ainda de ajudar bastante o nosso país, pela experiência que tenho como administrador público, como educador. Ainda tenho condições de ajudar bastante.

Uma possível candidatura a deputado em 2014?
Não sei. Ainda é cedo para falar nisso.

Ou mesmo uma contribuição em outra esfera, no governo federal?
Tudo isso é possível, vai depender agora de a gente, primeiro, descansar um pouco. Não parei para pensar nisso.

Mas não pretende abandonar a política?
Eu sempre fiz política na minha vida. Política acadêmica, universitária. Hoje estou conseguindo contribuir num âmbito maior. Vai depender das oportunidades.

Uma apuração da própria Folha informou que havia pressão em cima do prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, para abrigar companheiros do partido em cidades que perderam, como São Carlos, Diadema e Suzano. Isso ocorreu de alguma forma?
Desconheço. Embora o prefeito de São Paulo me conheça, ele era ministro da Educação e eu era reitor, não tive nenhum contato com ele, não fiz pressão nenhuma, até porque estou querendo descansar. Se eu fosse atrás de qualquer compromisso, fatalmente eu teria que estar assumindo, então eu quero descansar. Preciso descansar um pouco. Então, não teve nenhuma pressão da minha parte e nenhum convite também, não teve nada, nem dele nem nosso. Aliás, acho que tem muita gente lá para ele cuidar, está montando o seu governo, não é fácil, a gente sabe disso.

Na questão da Agrishow, a prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera, disse no programa eleitoral que o ex-presidente Lula a ajudou na permanência da feira em Ribeirão. Isso ocorreu?
O que eu vejo? A questão da Agrishow é algo à parte do que batalhamos em São Carlos. A Agrishow era algo de interesse estrito da Abimaq, nunca foi pleito nosso. Claro que, como nós começamos a discutir a questão da Cidade da Energia, a Abimaq viu nessa implantação a possibilidade de resolver um problema que ela tinha com a Agrishow. Era uma questão grave, pelo que eles colocavam, em relação às instalações da Agrishow em Ribeirão.

Mas é muito natural que a Agrishow fique em Ribeirão, até porque é o perfil da cidade. Nosso perfil é tecnológico, aqui é a capital nacional da tecnologia, e Ribeirão tem um perfil mais do agronegócio. As condições não eram boas, a Abimaq tentou trazer para cá, teve resistência por parte da Dárcy, que com razão brigou por isso. Eu faria a mesma coisa, ela fez o papel dela e teve sucesso, tanto que o governo do Estado alocou os recursos lá para que a feira ficasse lá. Isso para nós nunca foi um problema nosso.

Isso é muito discurso de campanha, oposição aqui falando que perdeu [a Agrishow]. Não perdemos nada, a Agrishow estava lá em Ribeirão. O que nós perdemos aqui foi não ter conseguido, com recursos e tudo, ter implantado a Cidade da Energia. Esse sim, para nós, é um prejuízo. Não só para São Carlos, é um prejuízo para o país. Imagina o nosso país tendo uma referência na questão da energia limpa e renovável, é algo fantástico.

Mas e a questão do envolvimento do presidente Lula?
Eu não tenho esses dados. Ela [Dárcy], obviamente, dentro da luta dela, deve ter ido conversar com o Lula. Da mesma forma que o presidente Lula nos apoiou para a Cidade da Energia, que só foram colocados recursos porque ele comprou essa ideia, esse projeto. Imagino que ele também pode ter pensado na questão da Agrishow em Ribeirão. Não vejo problema nenhum com isso, acho que as coisas estão nos seus devidos lugares.

Como o senhor avalia a relação, nesses quatro anos, com o governo do Estado, que é tucano?
Acho que o governo federal é republicano, então ele atende da mesma forma prefeitos do PT, dos partidos de sua base coligada e os prefeitos de oposição. O prefeito de Sorocaba é meu amigo, sei o quanto ele trouxe. Se você pegar Sertãozinho, a quantidade de recursos que veio. Em nível federal, o comportamento sempre foi republicano.

O governo do Estado, infelizmente, o PSDB, não tem essa visão. Basta você imaginar uma cidade como São Carlos, uma das mais importantes na região central do Estado, com duas grandes universidades, e durante quatro anos nós não tivemos a presença nenhuma vez do governador aqui.

Ele foi procurado?
Se você for olhar a quantidade de convites que eu fiz. Além de não vir o governador, não vieram também os secretários. A oposição fala que foi um auto-isolamento, isso não é verdade. Eu tenho todos os documentos que mostram, inclusive, quando o governador Alckmin foi eleito, na primeira semana eu mandei um ofício para todos os secretários. Eles me responderam. Convidando-os para vir aqui. Então, na verdade, eu acho que ainda eles tinham até intenção de vir à cidade de São Carlos.

Mas, infelizmente, acho que nós temos uma política partidária local que interfere para que o governo do Estado não prestigie a nossa cidade.

O PSDB local, especificamente?
Eu acho que sim. Se eles tivessem interesse trariam para São Carlos tanto o governador, como secretários e recursos. Nós não recebemos recursos do governo do Estado, foram mínimos os recursos, tirando os repasses obrigatórios.

Os projetos, as obras nossas de combate a enchentes, tudo o que nós pedimos, praticamente zero. Acho isso muito ruim para uma cidade, porque se joga numa perspectiva de gerar atraso na cidade.

Tendo São Carlos a partir de janeiro um governo tucano, da parte do PT isso não vai se repetir?
Não vai porque não é prática nossa, nunca foi, não trabalhamos dessa maneira. Pelo que eu conheço no cenário nacional, é só você perguntar para os prefeitos de oposição. Em Ribeirão Preto, a Dárcy foi eleita [em 2008] pelo DEM, de oposição. Veja o apoio que ela teve, os recursos que ela teve do governo federal. Então, praticamente todas as cidades que elaboram bons projetos, a diferença é isso, se você tem bons projetos, independentemente de partido, tem condições de receber recursos do governo federal.

O governo federal trabalha com programas, é diferente do governo do Estado. Você quer fazer uma escola, uma creche, entra no site do MEC e está lá o programa. É técnico. Vai, preenche, cadastra, se o projeto está dentro do padrão, vai receber. É simples assim.

O que o senhor espera para o PT em 2014? O partido se fortaleceu para a disputa estadual?
Se fortaleceu. No Estado de São Paulo conquistou prefeituras importantes, é claro que perdeu outras, faz parte do processo, mas conquistou prefeituras importantes, particularmente a da capital. Tenho certeza que o prefeito Fernando Haddad vai fazer uma boa administração, conheço bem o potencial dele como ministro da Educação.

A expectativa é que a gente possa, depois de muitos anos, mais de 16 anos, uma alternância no governo do Estado de São Paulo. Seria extremamente salutar para o nosso Estado essa alteração.

Que avaliação o senhor faz do encaminhamento que tomou o julgamento do mensalão? E sobre as tentativas de trazer o ex-presidente Lula para o foco dessa questão?
Eu vejo que está muito ligado ao crescimento do próprio PT no nosso Estado. A partir do momento que começa a crescer, precisa arrumar uma maneira de tentar destruir.

Mas eu vejo que o presidente Lula deixou um legado fantástico para o nosso país, é inegável. A presidente Dilma também está fazendo um governo muito bom, a gente vê os indicadores, a própria avaliação do governo. Me parece que, com tudo isso que se força, se teve erro, esse erro deve ser corrigido e penalizado. Não tenho dúvida disso, sempre defendi isso. Mas se força uma situação justamente para carregar na questão política.

A campanha do senhor sofreu algum tipo de reflexo negativo por causa do julgamento do mensalão?
Eu não detectei isso. A não ser via internet, um pouco disso, mas é muito longe. Nós sempre procuramos trabalhar do ponto de vista da ética, mudamos a forma de fazer política na cidade, então isso eu acho que pouco influenciou.

 

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