'Aids não esta escrito na cara', diz cabeleireiro em ação anti-HIV
Há 27 anos, o cabeleireiro Wanderley Estrella, 52, recebeu a sentença. "O médico disse que eu tinha seis meses para encontrar um caixão." Ele acabara de descobrir que portava o vírus HIV.
Com o apoio de seus clientes e seu chefe, ele seguiu em frente. "A gente está aqui de passagem. Eu vou aproveitar até o fim. Não tem porque querer morrer."
Já Francisco Ohl, 58, perdeu um parente para o HIV em 1986. "Ele foi operar o coração e contraiu o vírus na transfusão", lembra.
Embora com desfechos diferentes, Estrella e Ohl concordam: é preciso informar. Os dois participam da campanha Salão Solidário, realizada pela L'Oréal em todo o Brasil, nesta terça-feira (1º), Dia Mundial da Luta Contra Aids.
Mobilizando profissionais de salões em 40 cidades do Brasil, a L'Oréal organiza a segunda edição da ação, em que todo o valor dos cortes é doado para a Sociedade Viva Cazuza, que cuida de crianças e jovens com HIV.
Estrella integra a campanha em Brasília, onde atua há 31 anos. Ele diz se envolver de "cabeça, corpo e membros".
Ohl foi o segundo cliente desta manhã no Instituto L'Oréal do Butantã, em São Paulo. "Acho ótimo porque aqui se dá a informação", diz.
Estrella concorda que informar faz a diferença. "O tesão da garotada de 16, 17 anos está na pele. Precisa ser maciça a questão da prevenção." Ohl emenda: "Precisa martelar o tempo todo até ficar cansativo."
'NÃO TEM CARA'
O Ministério da Saúde divulgou também nesta terça novos dados sobre a Aids. A estimativa é de 718 mil pessoas com HIV no fim de 2014. Dessas, 51% estão em tratamento, afirmou o ministro Marcelo Castro.
Estrella diz ter vontade de levar seus clientes para conhecer pessoas em tratamento no hospital onde faz o controle da doença.
"Tem tanto homem lindo e gostoso e tanta mulher linda e gostosa pegando coquetel que até eu, como portador, duvido. Então, não está escrito na cara, né?", afirma.
O cabeleireiro também destaca que, ao usar camisinha, a pessoa não está prevenindo o outro, e sim a si mesma.
CABELEIREIROS CONTRA A AIDS
A campanha da L'Oréal Cabeleireiros Contra a Aids começou em 2001, na África do Sul.
O movimento ganhou corpo com o apoio da Unesco, em 2005, e o Brasil passou a integrar a ação no ano seguinte. Hoje, são 37 países de todo o mundo que participam.
No Brasil, a mobilização começou com um calendário, em que artistas doavam sua imagem para as páginas de cada mês.
Em 2014, a importância do salão como um ambiente seguro e do cabeleireiro como confidente foi reconhecida. Criou-se a campanha Salão Solidário. Na estreia, R$ 60 mil foram arrecadados com 5.000 cortes.
Este ano, são 150 salões participantes, 1.700 profissionais engajados e espera-se atingir 12 mil cortes e uma quantia de R$ 150 mil, segundo Cristina Borges, diretora de Comunicação da Divisão de Produtos Profissionais da marca.
O site da campanha tem um localizador de salões. Os locais são convidados a participar, mas qualquer interessado pode integrar a ação entrando em contato com a L'Oréal.