Mudança de paradigma?
Atravessamos tempos de mudanças significativas na arena pública em que a sociedade civil passa a ser um ator fundamental na luta e na defesa dos direitos. Não somente agora, mas no decorrer da história do Brasil, precisamente no final da década de 70, a sociedade civil esteve presente na luta pela conquista dos direitos políticos e sociais.
As organizações do terceiro setor, oriundas das iniciativas de indivíduos, emergem nesse cenário na defesa dos direitos e na melhoria da qualidade de vida da sociedade. Nesse novo espaço, a cidadania ganha um outro estatuto, em que a responsabilidade e a ação passam também a ser dos cidadãos, por meio da participação ativa.
Nesse sentido, não podemos deixar de refletir diante dos novos movimentos e acontecimentos por meio das inúmeras manifestações ocorridas em todas as regiões brasileiras, sobre a importância da sociedade civil.
Contudo este é o momento em que as organizações do terceiro setor, com suas inúmeras causas e missões, devem avançar para causas de cunho coletivo através da participação e da mobilização mais ativa perante as questões sociais e políticas. Mudança de paradigma? Pode ser um caminho ou o inicio de uma nova atuação pública das organizações.
Cabe aqui destacar a ação de algumas organizações que estão se mobilizando e avançando nessa direção. É o caso do Instituto de Revitalização da Cidadania-ReCivitas, em São Paulo, que criou um sistema on-line de democracia digital chamado Manifesto Governe-se, permitindo diálogo e debate entre as pessoas sobre os assuntos sociais e políticos.
Iniciativas como essa são de suma importância para inspirar outras organizações do terceiro setor a tomarem a iniciativa de levantar uma outra bandeira de luta e avançar para causas universais. É possível? É claro que sim. Mas somente se gestores, técnicos e colaboradores das organizações tiverem claro que a missão do terceiro setor não pode ser resumir em causas e públicos específicos, mas em causas coletivas.
Para isso é necessário que as organizações estejam preparadas e fortalecidas tanto no campo da gestão como na articulação e ampliação de seu papel político na sociedade. O caminho não é fácil, mas necessário para que possamos construir um outro paradigma para o setor em tempos de grandes mudanças.
Márcia Moussallem, 42, socióloga, MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor, mestre e doutoranda em Serviço Social pela PUC/SP, é professora da PUC/COgeae e FGV-PEC/SP e sócia da empresa Merege & Moussallem Consultores.