Brasil 27: Fazenda Tamanduá
O Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em parceria com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) e a Fundação João Pinheiro, lançou em julho o "Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil 2013", que mostra o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal).
O Nordeste é a única região em que a maior parte dos municípios (61%[1]) apresentam IDHM baixo. Na Paraíba -Estado com o quinto pior desempenho do país-, mais de 68% dos municípios apresentam baixo IDHM, e somente cinco cidades possuem índice alto.
O resultado do IDHM é apenas a representação numérica de uma realidade social notoriamente crítica, que sensibilizou o franco-suíço naturalizado brasileiro Pierre Landolt, 65, que chegou ao Brasil em 1974, a trabalhar em uma empresa multinacional que atua nos setores farmacêutico, químico e agrícola.
"Eu viajava muito pelo Brasil. Aqui no semiárido da Paraíba conheci uma realidade bastante sofrida. Mas também vi o cultivo do algodão mocó, que se dava em conjunto com a cultura de gado. Interessei-me pelo sistema e, finalmente em 1977, resolvi vir para cá e fazer algo para tentar mudar essa realidade."
A produção do binômio algodão-gado no sistema tradicional declinou com um período de seca entre 1979 e 1984 e com a simultânea chegada da praga conhecida como bicudo. A partir daí, Landolt buscou outras opções para continuar produzindo no semiárido. Foi nessa busca que, em 1998, ele decidiu adotar a agricultura orgânica e biodinâmica, que entende uma propriedade rural como um organismo vivo no qual diferentes culturas fornecem insumos umas às outras.
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Mapa do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal; destaque para os indicadores de baixo desenvolvimento da região nordeste |
Hoje, a Fazenda Tamanduá, localizada no município de Santa Teresinha, é a maior fazenda biodinâmica do Brasil, com área superior a 3.000 hectares, destinados à preservação da vegetação natural do semiárido (caatinga), à pecuária de bovinos e caprinos (que se alimentam da vegetação natural) e à produção diversificada de mel, manga, melão e alga spirulina -rica em proteína e utilizada como suplemento alimentar.
Sustentar uma produção diversificada e orgânica no semiárido nordestino tem seus desafios. Lidar com a erosão e o empobrecimento do solo, causados pelo calor constante, os altos níveis de insolação e o vento forte, são alguns deles. Para contornar a situação, a Fazenda Tamanduá produz seu próprio adubo a partir da compostagem do esterco de gado e da poda das mangueiras.
Um segundo desafio é a necessidade de constante capacitação dos colaboradores da fazenda. Na Fazenda Tamanduá, a grande maioria dos 70 colaboradores são treinados para serem polivalentes, o que resulta numa baixa rotatividade -um cenário que já não é mais comum no ambiente agrícola brasileiro.
Landolt também trabalha na replicação do conhecimento desenvolvido na Tamanduá. Por meio da parceria com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e com a Emepa (Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba), ele e sua equipe apoiam pequenos agricultores da região no desenvolvimento de culturas orgânicas e, mais importante que isso, na comercialização dessa produção.
"O maior desafio do pequeno produtor, mesmo aqui no sertão, não é a produção, mas sim o acesso ao mercado. Trabalhando em conjunto com eles, podemos garantir um volume de produção que nos dá acesso a clientes que, sozinhos, eles não poderiam atender."
Dessa forma, Landolt montou uma cadeia produtiva que vai dos pequenos produtores às grandes redes de varejo. "O mercado brasileiro de produtos orgânicos está crescendo e amadurecendo. Posso dizer que, hoje, não falta mercado, falta escala de produção."
Quais as principais lições aprendidas por esse suíço que se radicou no sertão da Paraíba há mais de 35 anos? Landolt resume muito de seu aprendizado à palavra cultura, que para ele é o quarto pilar da sustentabilidade. "É fundamental entender e respeitar a cultura local, se você quer fazer algo realmente sustentável." Ele também ressalta a necessidade de ser paciente. "Não se muda uma realidade social em pouco tempo. Para chegar onde a Tamanduá chegou, levamos mais de 30 anos."
Landolt hoje fala com orgulho dos resultados apresentados pelo último censo do IBGE. "O resultado mostrou que a renda per capita de Santa Terezinha aumentou 503% em dez anos. Achei o resultado estranho. Liguei no IBGE e eles confirmaram o resultado e citaram espontaneamente que a Fazenda Tamanduá contribuiu para esse resultado."
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Iniciativa dos jovens Fabio Serconek e Pedro Henrique G. Vitoriano e contando com apoio do Centro de Empreendedorismo e Administração em Terceiro Setor (Ceats) da Universidade de São Paulo (USP), o Projeto Brasil 27 está visitando todos os Estados brasileiros para estudar, em cada um deles, um exemplo de negócio social.
Os registros da jornada ficarão disponíveis no blog do projeto e serão publicados aqui, semanalmente, no Empreendedor Social.