Sociedade civil: presente!
Participei em julho deste ano do Fórum Internacional "Emerging Societies, Emerging Philanthropies", evento com o objetivo de discutir o papel do investimento social privado nos mercados emergentes.
Realizado em São Petersburgo, na Rússia, o encontro reuniu filantropos e organizações de apoio técnico, como o Idis (Instituto para o Desenvolviment o do Investimento Social), e senti lá a curiosidade do mundo em entender o significado dos eventos recentes no nosso país.
A mensagem que levei à Rússia é que o Brasil é mais que uma economia emergente, é uma sociedade civil emergente que passa a responder "presente" na chamada dos atores que comandam este país.
Passamos por um período no qual o Brasil pode aproveitar o boom das commodities decorrente das altas taxas de crescimento econômico da China. O crescim ento do país, aliado às políticas públicas nos últimos anos, impulsionou o PIB per capita de R$ 5.303,47, em 1994, para R$ 11.639,72, em 2011, 110% de crescimento real.
Somos a sétima economia do mundo, tivemos a saída de 28 milhões de brasileiros da miséria e o ingresso de 37 milhões de pessoas na classe média. Em uma década, o número de estudantes que concluiu cursos de graduação passou de 390 mil para 973,8 mil. Temos uma real percepção que o Brasil melhorou _e muito!
O aumento da renda per capita e das condições sócioeconômicas, porém, não são suficientes se o país permanece na desconfortável posição 85 no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). A população acessa escolas de baixa qualidade, não aprende e tem péssimos serviços de saúde, quando existentes.
Assim, os outros elementos do IDH seguem alimentando o subdesenvolvimento do povo brasileiro. Somos uma economia desenvolvida em uma sociedade subdesenvolvida.
No campo da política, o país caminha sem muita direção. A banalização da corrupção e a crescente percepção de impunidade se fazem representadas em inúmeros escândalos e incidentes como o julgamento do Mensalão, eleição de Renan Calheiros e Marcos Feliciano, e as denúncias de gastos extraordinários com estádios de futebol.
A sociedade brasileira assistia inerte a tudo isso. Entretanto, em geral, as mudanças sociais são provocadas por vários fatores e não pelos fatos que ocorrem isoladamente. São eventos e incidentes que vão se acumulando até que a indignação leva as pessoas às ruas para expressar esse sentimento. Parece que a sociedade brasileira chegou a este ponto e passou-se a gritar "o povo acordou". As recentes manifestações colocaram o Brasil e seus governantes em alerta.
As passeatas e sua escala nacional reforçam a ideia de que precisamos de uma visão de longo prazo compartilhada entre os entes políticos e empresariais e a sociedade civil. É preciso buscar uma convergência de objetivos com base em valores como justiça, igualdade, transparência e participação cidadã e com foco em melhorias na saúde, educação e transporte, áreas de destaque nas manifestações e de grande relevância estratégica para o futuro do país.
A sociedade está conectada nas redes sociais e não se sente representada pelos partidos políticos e tampouco se reconhece nesses partidos. É preciso buscar a construção de uma plataforma comum com esta sociedade que "acorda" para que sua energia seja motor de um país mais justo e menos desigual.
O investimento social privado tem, assim, papel fundamental em contribuir para o desenvolvimento do país e desta nova sociedade. Ao vermos a sociedade civil se posicionando, a filantropia também deve se apresentar estrategicamente, entendendo os anseios da população e proporcionando condições para que este tenha não somente voz, mas também instrumentos para a mudança social.
Paula Jancso Fabiani, é diretora-executiva do Idis, economista pela FEA-USP, com MBA pela Stern School of Business - New York University, especialização em Endowment Asset Management na London Business School e Yale e Gestão de Organizações do Terceiro Setor pela FGV (Fundação Ge túlio Vargas).
e-mail: portalidis@idis.org.br