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Árbitro de pênalti polêmico em Ronaldo diz andar pelas ruas como um desconhecido
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RODOLFO STIPP MARTINO
DE SÃO PAULO
O nome do árbitro Sandro Meira Ricci foi muito falado na reta final da temporada de 2010. Foi ele quem apitou o polêmico pênalti em Ronaldo na vitória de 1 a 0 do Corinthians sobre o Cruzeiro. Muitos o criticaram. Outros o elogiaram.
Depois do término do Campeonato Brasileiro-2010, os holofotes voltaram a se virar para ele. Mas, desta vez, o motivo alegrou o juiz.
Almeida Rocha -13.nov.2010/Folhapress |
Sandro Meira Ricci comanda partida entre Corinthians e Cruzeiro no estádio do Pacaembu; partida gerou polêmica |
Ricci recebeu o troféu de melhor árbitro do Nacional, em votação organizada pela CBF. Superou os mais famosos Carlos Eugênio Simon e Paulo César Oliveira.
Apesar de ter o seu nome muito divulgado nas TVs, rádios, jornais e internet, o árbitro falou em entrevista para a Folha.com que a sua vida não mudou e que ainda anda pelas ruas como um desconhecido.
"Logicamente, com a repercussão desse jogo [Corinthians x Cruzeiro], houve uma mudança no sentido de as pessoas conhecerem mais o nome: Sandro Meira Ricci. Mas a pessoa fisicamente continuou anônima", afirmou.
Ele comentou que não imaginava que a sua decisão de apitar pênalti em Ronaldo daria tanta polêmica, mas não quis falar sobre o episódio.
Destacou a sua alegria de ser escolhido como o melhor árbitro do Campeonato Brasileiro e a sua vontade de entrar para os quadros dos árbitros da Fifa.
*
Folha - Como foi receber o prêmio de melhor árbitro do Brasileiro?
Sandro Meira Ricci - Foi maravilhoso. Primeiramente, ser indicado entre os três melhores árbitros do Campeonato Brasileiro já é motivo de orgulho. E no final você ainda ser agraciado com o prêmio na categoria ouro foi chave de ouro. Foi fantástico. Senti muito bem. Só de estar do lado do Paulo César [Oliveira] e do Simon [Carlos Eugênio] [ outros indicados ao prêmio] era algo que para mim estava muito distante há dois anos. São dois ícones da arbitragem que já têm vasta experiência internacional. Foi muito gratificante para mim.
E o seu reencontro com os cruzeirenses na festa de premiação da CBF?
Não teve reencontro. Cada um lá [na festa] cuidou do seu próprio interesse. Cada um ficou na sua. Eles estavam lá para receber os prêmios deles, e eu o meu. Não teve nenhum tipo de contato,nem de constrangimento, pelo menos da minha parte.
Qual balanço do seu campeonato?
Positivo. A atividade a arbitragem tem que ser equilibrada. É uma balança em que você tem que se equilibrar. É muito difícil você apitar 22 jogos de Séria A, como foi o meu caso. Acredito que nos momentos cruciais consegui ser feliz em grande parte deles. A minha avaliação sobre a minha atuação neste foi muito positiva. E refletiu no prêmio. Não foi só minha avaliação. Mais importante foi a avaliação dos profissionais do futebol e da imprensa.
Você disse que apitou 22 jogos. Você considera esse número grande para um árbitro?
Acho muito positivo. Primeiro, são 38 rodadas. Então apitei mais que 50%. Segundo, a minha sequência é crescente. Apitei cinco jogos em 2008 quando entrei na Série A e 17 jogos em 2009. E terceiro, temos muitos árbitros qualificados no país. Então, você conseguir apitar 22 jogos com tantos árbitros qualificados também é um fator positivo.
Nesse campeonato, você recebeu elogios e críticas. Como você reagiu?
A crítica faz parte da carreira de todos os árbitros de futebol. Não conheço um árbitro de futebol profissional que tenha recebido só críticas ou só elogios. Isso faz parte. Temos que ter a estrutura psicológica para suportar esse tipo de pressão também. Não é só de rosas é que vive a arbitragem. Nem sempre é céu de brigadeiro. Tem que estar preparado. Ter a consciência e a tranquilidade de saber que você fez o seu melhor e essa preparação psicológica para continuar trabalhando. Reconhecendo a sua deficiência para tentar melhorar e evitar que elas prejudiquem o seu desempenho.
Almeida Rocha - 13.nov.2010/Folhapress |
Jogadores cruzeirenses reclamam muito após Ricci marcar o pênalti para o Corinthians no final do segundo tempo |
A sua vida mudou depois de ter apitado o jogo entre Corinthians e Cruzeiro? Você passou a ser cobrado por torcedores ao andar nas ruas?
Não. Eu ainda sou um árbitro relativamente anônimo. Talvez não tenha uma característica física muito peculiar como o Heber Roberto Lopes [árbitro], que é careca, ou o Simon [que já é famoso]. Alguns árbitros têm características peculiares. Ainda sou relativamente anônimo. Logicamente, diante da repercussão desse jogo, houve uma mudança no sentido de as pessoas conhecerem mais o nome Sandro Meira Ricci. Mas, a pessoa fisicamente continuou anônima. Então, a minha vida não mudou, não. O que aconteceu foi que recebi inúmeros emails. Tanto de apoio, por parte de amigos e torcedores de outros clubes, como de críticas de torcedores do Cruzeiro. Isso faz parte.
Quando você apitou aquele pênalti você imaginou que daria tanta repercussão?
Em absoluto, não. Sabia que iria ter uma reclamação, que é natural. Qualquer pênalti que você dá em qualquer partida, na grande maioria das vezes, vai ter uma reclamação que é totalmente administrável. Naquele caso, em razão do que envolvia o jogo, em razão de ser no final da partida, a reclamação foi mais exaltada. Agora, nunca imaginei aquele tipo de repercussão pós-jogo, feitas por pessoas que estão no futebol há muitos anos. Nunca imaginei que elas pudessem tentar reviver um passado distante que hoje não existe mais.
Você está falando sobre o quê?
Sobre essa questão de falar em compra de árbitro. Essas declarações lamentáveis de achar que ainda existe esse tipo de comportamento. É lamentável, porque acho que não cabe mais no futebol. Um campeonato tão bonito, bem organizado. Equipes bem preparadas com profissionais que deixaram de ir para o Exterior ou que voltaram o Brasil, que abrilhantaram a nossa competição. Acho que não cabe esse tipo de declaração.
Você sonha em apitar Copa do Mundo?
Apitar uma Copa do Mundo é um sonho muito distante ainda. O meu sonho, primeiramente, é pertencer ao quadro internacional. Ao entrar no quadro da Fifa, vou pensar em desenvolver uma carreira internacional. Existem hoje árbitros da Fifa no Brasil com a carreira internacional que lhes permitem sonhar com a Copa do Mundo. Não posso sonhar se não tenho carreira internacional. Tenho que focar em dar um passo de cada vez.
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