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16/12/2010 - 18h00

Unificação dos títulos do Brasileiro mudará drasticamente as estatísticas, diz jornalista; leia íntegra do bate-papo

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DE SÃO PAULO

O jornalista Rodrigo Bueno, 38, repórter e colunista de Esporte da Folha, participou de bate-papo nesta quinta-feira (16) sobre a decisão da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) de validar como campeões brasileiros os vencedores de torneios nacionais entre 1959 e 1970, o que tornaria Palmeiras e Santos donos de oito títulos nacionais.

Bahia, Cruzeiro, Botafogo, Fluminense, Palmeiras e Santos pleiteiam que sejam consideradas as suas respectivas conquistas da Taça Brasil e do Troféu Roberto Gomes Pedrosa, dois torneios que foram disputados antes da criação do chamado Campeonato Brasileiro, em 1971.

Alexandre Saldanha/Folhapress
Rodrigo Bueno é repórter e colunista de futebol internacional da *Folha*
Rodrigo Bueno é colunista de futebol internacional da Folha

Participaram do chat 1.292 pessoas. Veja a agenda de bate-papo do UOL.

O texto abaixo reproduz exatamente a maneira como os participantes digitaram suas perguntas e respostas.

*

(05:02:46) Claudio: Qual a sua opinião sobre a proposta de unificação dos títulos de 1959 a 1970? A competição guardava, ao menos, alguma semelhança com o?Brasileirão? atual em termos de regras, número de participantes, etc?

(05:04:01) Rodrigo Bueno: Olá para Todos! Respondendo ao Claudio, sou contra equiparar Taça Brasil e Brasileiro. Taça Brasil era uma copa, como a Copa do Brasil. Não era um campeonato.

(05:04:13) Plinio: De quem foi a proposta de unificar estes títulos e qual o objetivo da iniciativa?

(05:05:05) Rodrigo Bueno: Um pesquisador famoso chamado Odir Cunha, historiador em especial do Santos, elaborou um dossiê que foi levado à CBF.

(05:05:18) Gus: Quando a CBF baterá o martelo sobre o assunto?

(05:05:59) Rodrigo Bueno: A previsão é que o martelo seja batido na quarta-feira, num evento que deve ter Pelé como estrela.

(05:06:07) Gabriel Araújo: Olá, Bubu! Boa tarde! Não sera melhor se a unificação de títulos fosse feita da seguinte forma: Taça Brasil vale como Copa do Brasil e Robertão vale como Campeonato Brasileiro?

(05:07:10) Rodrigo Bueno: Olá Gabriel! Essa é minha opinião. Taça Brasil equivale à Copa do Brasil. Robertão equivale ao Brasileiro.

(05:07:18) Andrade: Para ser considerado um campeonato nacional, não é preciso uma continuidade de participantes, com ascenso e descenso? O Robertão já tinha esses sistema?

(05:08:33) Rodrigo Bueno: O Robertão não tinha esse sistema. Mas a edição de 1970 do Robertão é muito semelhante ao Módulo da Copa União vencido pelo Flamengo, que não teve rebaixamento.

(05:08:47) Gus: Com a aprovação da medida, o que muda no futebol brasileiro, além de algumas estatísticas? Ou seja, na prática, o que significa?

(05:10:39) Rodrigo Bueno: Nas estatísticas, muita coisa muda. Ainda ninguém tem ideia do quanto. Não é só lista de campeões. É número de gols, artilharia, média de público... Na prática, não muda muito a história. Os grandes times dos anos 60 continuarão sendo reverenciados como sempre foram.

(05:11:09) Julio: Tenho a impressão de que virou praxe em revirar arquivos para pleitear títulos antigos e aumentar o número de estrelas na camisa. Outro dia havia uma conversa de rever os títulos do Mundial de Clubes, agora é a unificação do Brasileirão. Isso não lhe parece estranho? O que você acha? Daqui a pouco, para conquistar títulos, ninguém vai contratar jogadores, mas arquivistas e advogados. Até porque, isso parece bem mais garantido.

(05:12:56) Rodrigo Bueno: Julio, sou extremamente favorável a cuidar da história, trato dos rankings da Folha e colaboro com a IFFHS por curtir a história do futebol. Acho que é direito dos clubes se valorizar. Mas não distorcer a história, transformar coisas em algo que não são.

(05:13:13) Gabriel Araújo: Qual a sua opinião sobre o Luís Iaúca, diretor da Portuguesa, buscar a unificação dos Torneios Rio-São Paulo vencidos pela Lusa (1952 e 1955) como Campeonatos Brasileiros, por serem a principal competição nacional na época?

(05:14:30) Rodrigo Bueno: Gabriel, acho que muitos oportunistas vão aparecer agora querendo o reconhecimento ou a valorização de diversos títulos. Um assunto que deveria ser tratado de forma séria, infelizmente virou piada pela forma como a coisas têm sido feitas.

(05:14:41) Rafa: Não parece um pouco demais reconhecerem campeões dos anos 50 e 60, e não reconhecerem o Flamengo em 1987?

(05:15:59) Rodrigo Bueno: Rafa, a questão do título de 1987 do Flamengo, uma das tantas polêmicas do nosso futebol, transcende a CBF. Mesmo que ela queira reconhecer o título, não pode. Há uma decisão judicial transitada em julgado que favorece o Sport. Legalmente, o Sport é campeão. E não cabe recurso.

(05:16:16) Fischer: Rodrigo, a unificação muda o ranking publicado anualmente pela Folha?

(05:17:52) Rodrigo Bueno: Fischer. O Ranking Folha vai ter muitas novidades neste ano. Já havia um estudo para modernizá-lo e atualizá-lo com alguns vices estaduais, por exemplo. Mas a questão da unificação vai mexer no ranking sim.

(05:18:12) Mestre Telê: Rodrigo, esse assunto tem alguma repercussão internacional?

(05:19:38) Rodrigo Bueno: Mestre Telê, esse tema certamente será tratado internacionalmente, mas não terá muito espaço, creio. Vai gerar sim muita confusão para algumas pessoas no exterior. Como explicar que em 1967 e 1968 houve dois campeões brasileiros, sendo que em 1967 um mesmo clube ganhou a disputa duas vezes?

(05:19:52) Paulo-Pr: Não é certo que de 59 a 70 os clubes se importavam mesmo com os estaduais e davam atenção bem menos a Taça Brasil e Robertão?

(05:21:16) Rodrigo Bueno: Paulo-PR, diria que é uma meia verdade. Os Estaduais naquela época eram muito mais valorizados que hoje, mas outros torneios também tinham muito valor. O Rio-São Paulo, que era Roberto Gomes Pedrosa, teve valor até 1966. Taça Brasil e Robertão eram torneios valorizados também.

(05:21:38) Renan: Olá, Bubu. Já existem clubes sonhando a unificação das mais diferentes competições. A CBF vai criar um monstro com essa história?

(05:22:46) Rodrigo Bueno: Olá Renan, a CBF não criou esse monstro, mas está alimentando o bichinho, que pode crescer mais, por razões políticas. Acho que ela se perdeu em fazer essa unificação sem o debate necessário.

(05:23:03) dbergc: Como você analisa o absurdo de existir 02 campeões brasileiros em um unico ano? Como aconteceu inclusive com o Palmeiros campeão 02 vezes no mesmo ano. Isso não seria, no minimo, sem logica?

(05:24:52) Rodrigo Bueno: Dbergc, realmente não tem lógica nisso. Temos alguns outros casos estranhos, como o Flamengo, duas vezes campeão carioca de 1979, ou Corinthians e Boca Juniors campeões mundiais de 2000. Mas o fato de o Palmeiras ter ganho num mesmo ano dois torneios diferentes que virariam iguais é bem estranho.

(05:25:16) raul: e a chnce dos que nao podiam participar de torneios como o rio sao paulo? como fica iráo pleitear a impossibilidade e ai?

(05:26:47) Rodrigo Bueno: Raul,essa é uma questão importante. A Taça Brasil era aberta a campeões estaduais. Teve muitos times de menor expressão. O Robertão foi uma continuação, uma amplicação do Rio-São Paulo. É de fato o embrião do Brasileiro, mas não era aberto para todo o país.

(05:27:09) Twister: Soube que muitas vezes times sequer queriam disputar a taça do brasil e que equipes que ninguem nunca ouviu falar disputaram como o Metropol, Rabello, Fonseca, Eletrovapo, etc. Isso não é a desmoralização do campeonato Brasileiro só para agradar alguns?

(05:28:35) Rodrigo Bueno: Twister, o curioso é que em 1968 Santos e Palmeiras, dois dos clubes que mais brigaram pela unificação dos títulos, abandonaram a Taça Brasil após os primeiros jogos. Nas duas últimas edições, a Taça Brasil tinha a concorrência do Robertão e terminou de forma precária, com W.O. do Metropol, por exemplo.

(05:28:50) Paulo-Pr: Há espaço pra contestação judicial dessa unificação?

(05:29:58) Rodrigo Bueno: Paulo-PR, há espaço para contestação judicial de quase tudo. Mas não creio que alguém vai entrar na Justiça por isso.

(05:30:06) Marcos Curitiba: Rodrigo, um abraço e parabéns pelo seu trabalho. Porque o Brasil demorou tanto tempo pra fazer de fato um campeonato nacional? Inglaterra, Itália, Espanha e até a Argentina tem isso há muito anos.

(05:32:07) Rodrigo Bueno: Obrigado Marcos, o fato de o Brasil ser um país continental atrasou tudo. Viagens dos clubes são longas e, até os anos 50, tudo era muito precário, o dinheiro era curto etc. O Brasil viveu por isso durante muitos anos adorando Estaduais. Outros países, como os que você citou, além do menor tamanho, também desenvolveram o futebol interno e se organizaram mais rapidamente.

(05:32:29) Ítalo: Veremos, assim como na recente modificação da gramática, um mundo novo de livros, reedições, com artilheiros, melhor goleiro, etc etc, dos campeonatos dos anos 60, fazendo girar a ciranda econômica ou isso nem passou pela cabeça de ninguém, foi só uma coisa de justiça mesmo, e o resto é puro efeito colateral?

(05:34:44) Rodrigo Bueno: Ítalo, imagino que ninguém pensou nisso ainda. Quem cuida de história e estatística do Brasileiro há muito tempo terá que rever uma série de coisas. Guias de revistas, como a Placar, ranking como o da Folha, ou mesmo dados dos clubes serão revolucionados, muito possivelmente.

(05:35:02) Gu Santos: Rodrigo, há alguma possibilidade da CBF surpreender e, na quarta-feira, reconhecer os títulos da Taça Brasil como sendo da Copa do Brasil e os do Robertão como títulos brasileiros?

(05:35:58) Rodrigo Bueno: Gu Santos, talvez com a polêmica toda ela possa fazer isso, mas todas as informações indicam que não. Pelé deverá mostrar seis medalhas como penta da Taça Brasil e campeão do Robertão e ser proclamado oficialmente hexacampeão brasileiro.

(05:36:19) Henrique Guareí: Qual é o verdadeiro interesse da CBF sobre a unificação, resgatar a história ou a apenas político?

(05:38:09) Rodrigo Bueno: Henrique, algumas das últimas decisões da CBF têm sido políticas, pouco técnicas. Não dá para dizer se essa unificação visa aglutinar mais apoio para Ricardo Teixeira, mas ela vem numa hora estranha e sem a discussão mais aprofundada que exigia.

(05:38:23) nandopaulista: A FIFA tem algum poder para dizer alguma coisa sobre esta questão?

(05:39:01) Rodrigo Bueno: Nando, não tem. A Fifa já tem outros problemas maiores parar tratar.

(05:39:08) mr_floyd: Rodrigo, você poderia citar as mudanças mais significativas no Ranking atual dos campeões?

(05:41:12) Rodrigo Bueno: Mr_Floyd, em alguns Estados, as federações não sabem quem são todos os vice-campeões. A Folha tratará de atualizar esse buraco no ranking, além de criar uma nova divisão no peso dos Estaduais. Haverá unificação de alguns torneios.

(05:41:21) Gu Santos: Há algum caso semelhante no mundo, de títulos de campeonatos não mais existentes serem unificados aos do campeonato nacional atual, como a CBF está?nos proporcionando agora, ou isso só existia no automobilismo, na Fórmula Indy, que já foi organizada por vária "ligas"?

(05:43:02) Rodrigo Bueno: Gu Santos, é difícil falar que não há exemplo parecido no mundo, pois são mais de 200 países reconhecidos pela Fifa. Nas principais ligas do mundo, não ocorre o que a CBF fez. A Copa da Inglaterra e a Copa do Rei (Espanha) nasceram antes do Campeonato Inglês e do Campeonato Espanhol. Esses primeiros campeões de copas não são considerados campeões ingleses e espanhóis.

(05:43:11) Mestre Telê: Caro Rodrigo, essa "conquista" seria a maior realização da administração do ético professor Belluzo no Palmeiras?

(05:44:37) Rodrigo Bueno: Mestre Telê, a conquista não é do Belluzzo, mas de alguns pesquisadores, notadamante Odir Cunha.

(05:45:11) Baroffa: Rodrigo, Santos e Palmeiras conquistaram edições da Taça Brasil realizando apenas 4 jogos. Pode uma taça dessas ser equiparada a campeonatos nacionais com 38 jogos?

(05:46:13) Rodrigo Bueno: Baroffa, a questão do número de jogos mostra que a Taça Brasil tinha caráter de copa, não era campeonato. Por isso, deve ser comparada com Copas (que normalmente têm poucos jogos para um time).

(05:46:26) Mestre Telê: Caro Bueno, se a moda pega, o Uruguai vai poder se declarar tetracampeão mundial, computando os títulos olímpicos conquistados antes da primeira Copa, em 1930?

(05:47:28) Rodrigo Bueno: Mestre Telê, o Uruguai se sente tetracampeão mundial, inclusive usa quatro estrelas em sua camisa, mas não há movimento para pedir à Fifa o ''reconhecimento'' desse tetra.

(05:47:58) Henrique Guareí: Vc acha que se a CBF pelo menos regulamentasse o uso de estrelas no escudo do time, como no italiano, só pode por estrela depois de 10 titulos, pelo menos amenizaria a confusao

(05:49:18) Rodrigo Bueno: Henrique, acho que a CBF não deve se meter na questão de estrelas dos clubes. Cada um tem o direito de colocar estrela para o que quiser. Particularmente, acho ridículo colocar um monte de estrelas na camisa. Talvez o Clube dos 13 poderia estabelecer uma norma referente a estrelas para título brasileiro (talvez dez taças para uma estrela, como na Itália).

(05:49:31) kikero: é possível que a cbf apareça com alguma decisão de ultima hora, p.e. considerando só um titulo pro Palmeiras em 67, ou outra decisão qualquer?

(05:50:40) Rodrigo Bueno: Rodrigo Paiva, assessor de imprensa da CBF, deu a entender que tudo já está resolvido mesmo. Não imagino que haverá nenhuma mudança. Se bem que a CBF já falou que a Taça das Bolinhas é do São Paulo, por exemplo, e até agora nada.

(05:52:33) Rodrigo Bueno: Me despeço aqui, seguindo a orientação do Moderador. Obrigado a todos que participaram. Um abrááááááço!

(05:52:03) Moderador UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença do jornalista Rodrigo Bueno e de todos os internautas. Até o próximo!

 

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