Trechos


"Senhor. Dando-se cumprimento ao que V. Majestade tem prometido, vai na presente ocasião um Pataxo para a Ilha da Madeira, e considerando que naquele porto pode estar o navio que com maior brevidade chegue a essa Corte, me pareceu não dilatar a Vossa Majestade a notícia de se haver conseguido a morte do Zumbi; ao qual descobriu um mulato de seu maior valimento que os moradores do Rio de São Francisco presionaram e remetendo-me topou com uma das tropas que aqueles distritos de diques acertou ser de paulistas, em que ia por cabo o capitão André Furtado de Mendonça e temendo o dito mulato que fosse punido por seus graves crimes, oferecem (a ele) que assegurando-lhe a vida em meu nome se obrigava a entregar este traidor. Aceitou a oferta e desempenhou a palavra guiando a tropa ao mocambo do negro que tinha já lançado fora a pouca família que o acompanhava, ficando somente com 20 negros, dos quais mandou 14 para os postos das emboscadas que esta gente usa no seu modo de guerra, e indo com os seis que lhe restaram a se ocultar no sumidouro que artificiosamente havia fabricado, achou tomada a passagem.

Pelejou valorosa ou desesperadamente matando um homem, ferindo outros e não querendo render-se nem os companheiros, foi preciso matá-los e só um se apanhou vivo; enviou-se-me a cabeça do Zumbi que determinei se pusesse em um pau no lugar mais público desta praça."

Pernambuco, 14 de março de 1696, Caetano de Melo e Castro, governador
Arquivo Histórico Ultramarino, códice 265, página 107v


"Os negros se achavam de modo poderosos que esperaram o nosso exército metidos na serra chamada de Barriga, fiando-se na aspereza do sítio, na multidão dos defensores e nas persuadições de muitos mulatos facinerosos que os acompanhavam e também na regular fortificação (...) a qual ainda que de madeira, estava muito forte; (...) Deram-se-lhes uma carga de espingardaria (...) de onde se mataram muitos, e foram tantos os feridos que o sangue que iam derramando serviu de guia às tropas que os seguiram e aprisionaram."

Caetano de Melo e Castro; Pernambuco, 18 de fevereiro de 1694 Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa, códice 265, folha 107v


"Eu, rei, faço saber aos que este alvará em forma de lei virem que sendo presente os insultos que no Brasil cometem os escravos fugidos a que vulgarmente se chamam calhambolas (...) há por bem que a todos os negros que forem achados em quilombos, estando nele voluntariamente, se lhe ponha com fogo em uma espádua com a letra F. 3 de março de 1741"

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa,
Manuscritos do Brasil nº 43, folha 162

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