Brasil não cuida dos documentos

Da enviada a Recife e Maceió


Em texto sobre a ocupação holandesa no Brasil, o historiador pernambucano Antônio Gonsalves de Mello Neto conta que ao pesquisar, nos anos 40, documentos manuscritos holandeses _trazidos da Holanda pelo estudioso José Hygino Duarte Pereira (1847-1901) no século 19_, ''foi encontrá-los empoeirados e roídos de bicho, com as encadernações soltas, alguns exemplares com falta de páginas. E mais grave: faltando um volume''.

Em condições semelhantes encontra-se ainda hoje muito da documentação portuguesa e holandesa referentes ao Brasil colonial. Conforme a Folha apurou em arquivos e bibliotecas do Nordeste, a situação dessas instituições é de completo abandono.

O Arquivo Público Estadual de Alagoas, que guarda em seu acervo manuscritos portugueses do século 16 e 17, é exemplo típico.

O prédio, de 1844, ''está a ponto de desabar'', segundo informa Moacir Santana, diretor.

Ele conta que há vários governos o arquivo vem passando por uma reforma sempre interrompida por corte de verbas.
''Está tudo amontoado aqui, nem as duas baterias de ar-condicionado do aparelho de microfilmagem, quebradas faz tempo, conseguimos trocar'', diz.

Santana acha irônico que o governo brasileiro participe do programa conjunto de microfilmagem de documentos que se encontram em arquivos portugueses. ''Microfilmar para guardar onde?'', pergunta.

No Arquivo Público Estadual de Pernambuco, a situação não é diferente.

Ali, a Folha só teve acesso a documentos portugueses do século 17 _guardados em caixas amarradas por cordão e sem catalogação_, graças à boa vontade do funcionário que se dispôs localizá-los com antecedência.

Em Recife, os melhores arquivos para pesquisa documental sobre temas relacionados ao Brasil colônia são os do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, da Biblioteca da Universidade Federal de Pernambuco e da Biblioteca da Fundação Joaquim Nabuco. (MARILENE FELINTO)

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