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Análise: Pinóquio, Judas e 10% nas eleições dos EUA
LUCAS MENDES
da BBC Brasil
Na campanha americana um latino trai, um nariz cresce e a senadora encolhe.
O latino é o governador Bill Richardson, que ocupou dois cargos importantes no governo Clinton. Foi embaixador nas Nacões Unidas e ministro de Energia antes de se eleger governador do Novo México.
Sem os empregos de Bill Clinton, ele talvez nunca tivesse obtido projeção nacional nem ambições presidenciais, mas a gratidão dele tem limites.
O dele era um dos endossos mais cobiçados nesta campanha e o casal Clinton não escondia o esforço para conquistar Richardson ou, pelo menos, não deixá-lo endossar Obama. E isto ele tinha prometido ao presidente Clinton.
Mas Richardson traiu e James Carville, que ainda assessora a campanha de Hillary, chamou o governador de Judas, dizendo que a traição quase coincide com a data que Jesus foi vendido por 30 moedas de prata aos romanos.
Há ainda três endossos em disputa pelos dois candidatos: o do ex-vice-presidente Al Gore, o de John Edwards, que saiu da campanha mês passado, e o de Nancy Pelosi, líder da Câmara. Só Edwards parece inclinado a endossar um dos candidatos, mas está na moita.
Bill Richardson, que além da americana tem a cidadania mexicana pela mãe, é uma conexão importante entre os latinos que Obama conseguiu tomar da senadora.
Seria também um bom nome para vice-presidente, mas ele nega que o posto tenha sido oferecido ou negociado. Disse que foi seduzido pelo talento político e o tchan de Obama, e que o momento da conversão foi o discurso do senador sobre a questão racial: "Obama é um político diferente", disse Richardson.
Semana terrível para a senadora: além de perder um endosso importante, ganhou um troféu humilhante: o duplo Pinóquio conferido pelo "Washigton Post".
Num discurso recente, Hillary contou que em 96 desceu na base americana de Tusla, na Bósnia, debaixo de fogo de franco-atiradores. Descreveu com detalhes como saiu do avião e correu agachada até o hangar.
A rede CBS foi nos arquivos e lá está a imagem da ex-primeira-dama numa caminhada sorridente e tranqüila, recebida por uma comissão de bósnios e americanos e por uma menina muçulmana que lê um poema para ela em inglês. Com tanta "experiência", como pode ter inventado esta farsa?
A senadora admitiu que cometeu um engano, mas a imprensa transborda com equívocos dela sobre suas "experiências e contribuições como primeira-dama.
As que ela mais cita são saúde das crianças, paz na Irlanda do Norte e proteção de refugiados na Macedônia. Um exame minucioso das atuações da senadora reconhece a participação dela nas três questões, mas dão a ela um crédito mínimo. Outros envolvidos tiveram influências maiores.
Sem os votos de Michigan e da Flórida, uma vitória no voto popular ou pelos delegados conquistados é praticamente impossível, mas um dos mais confiáveis assessores ainda vê 10% de esperança com vitórias massacrantes nas próximas primárias, em especial na Pensilvânia. Até onde vai o nariz? Eu já tirei meu lenço.
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Só assim pra se justificar esse Nobel a Obama, ou podemos ver como um estímulo preventivo a que não use da força bélica que lhe está disponível contra novos "Afeganistões" do mundo.
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