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11/05/2006
-
09h30
da BBC Brasil, em Viena
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega nesta quinta-feira a Viena para a 4ª Cúpula entre União Européia (UE), América Latina e Caribe com a sua posição de líder regional enfraquecida pelas crises entre os vizinhos e pela tentativa do venezuelano Hugo Chávez de unir os governos de esquerda da região, avaliam analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Há dois anos, quando os cerca de 60 líderes europeus e latino-americanos se reuniam para o mesmo evento em Guadalajara, no México, o presidente brasileiro era recebido como o "líder natural da região" – expressão usada pelo primeiro-ministro espanhol, Jose Luis Zapatero, na época.
"O Brasil exercia uma liderança regional importante, mas, no último ano, tem perdido esse papel porque Chávez tem disputado com Lula", afirma o especialista em Mercosul da London School of Economics Francisco Panizza.
"As pretensões de líder que o Brasil tinha já afundaram, não pode se dizer com seriedade que Lula é um líder regional, líder regional é o Chávez", diz o economista-chefe da consultoria britânica Anchorage Capital Partners, Pedro Souza Leão Regina.
'Rocha'
Mesmo que tenha perdido importância como porta-voz da região, em contraposição aos governos de Chávez e do boliviano Evo Morales, o presidente brasileiro foi reafirmado aos olhos europeus como o líder da "esquerda responsável" da América Latina. Pelo menos é isso que indica o discurso do comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson.
"O Brasil deve ser visto como uma rocha em democracia e economia dentro da América Latina, com uma influência dominante no continente que não mudará", disse Mandelson, em entrevista à BBC Brasil.
Liderança do Brasil é incontestável, diz Mandelson
Mas, na opinião do analista Leão Regina, para manter boas relações com a Europa e EUA e obter ganhos no cenário internacional, o Brasil deve reforçar as diferenças em relação à Venezuela e Bolívia e investir no aumento da sua influência em organizações como a ONU e a OMC.
Ele argumenta que as crises na América Latina apenas mostram que o Brasil deve “voltar à sua vocação natural” de potência multilateral e abandonar o projeto de liderar uma região que, na sua visão, é composta de “países muito diversos sem grandes ligações históricas nem comerciais”.
"O Brasil precisa acordar para o fato de que os latino-americanos não estão preparados para tê-lo como líder e cuidar dos seus próprios interesses", afirma.
Acordos
Panizza, da LSE, lembra que Chile e México já têm acordos bilaterais com a União Européia e o Mercosul está a quatro anos tentando negociar um semelhante – em 2004, a expectativa em Guadalajara era que até outubro daquele ano os dois blocos lançariam negociações para a maior área de livre comércio do mundo.
O ano de 2004 também foi marcado pela liderança do Brasil no G20, grupo formado para pressionar europeus e americanos a fazer mais concessões nas negociações de liberalização do comércio na OMC (Organização Mundial do Comércio).
De lá para cá, porém, esse grupo também perdeu força e sucessivos prazos têm sido descumpridos, sem nenhum sinal de acordo. Destravar as negociações é, aliás, o objetivo declarado do governo brasileiro nessa cúpula.
Fontes diplomáticas dizem que Lula pretende se reunir com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e a premiê alemã Angela Merkel, entre outros líderes, para tentar fazer vingar a idéia de uma reunião de chefes de Estado que dê novo impulso à rodada de Doha.
Mas, na avaliação de Panizza, o objetivo não deve prosperar não só porque a América Latina não poderá "falar com uma só voz", mas também porque considera que não se trata do fórum ideal para discutir o assunto.
Segundo o professor, as concessões das quais dependem o desbloqueio das negociações estão nas mãos de quatro ou cinco países estratégicos nas negociações e dificilmente seriam feitas num fórum com representantes de 60 países.
O economista-chefe da consultoria britânica Anchorage Capital Partners Pedro Souza Leão Regina também acha improvável haver avanços no tema.
"A posição do Brasil é conhecida, a de europeus e americanos (que não participam do evento em Viena) também. E o próprio Lula, se quisesse fazer concessões, não as faria num ano eleitoral", afirma Leão Regina.
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Lula chega a Viena enfraquecido, dizem analistas
CAROLINA GLYCERIOda BBC Brasil, em Viena
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega nesta quinta-feira a Viena para a 4ª Cúpula entre União Européia (UE), América Latina e Caribe com a sua posição de líder regional enfraquecida pelas crises entre os vizinhos e pela tentativa do venezuelano Hugo Chávez de unir os governos de esquerda da região, avaliam analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Há dois anos, quando os cerca de 60 líderes europeus e latino-americanos se reuniam para o mesmo evento em Guadalajara, no México, o presidente brasileiro era recebido como o "líder natural da região" – expressão usada pelo primeiro-ministro espanhol, Jose Luis Zapatero, na época.
"O Brasil exercia uma liderança regional importante, mas, no último ano, tem perdido esse papel porque Chávez tem disputado com Lula", afirma o especialista em Mercosul da London School of Economics Francisco Panizza.
"As pretensões de líder que o Brasil tinha já afundaram, não pode se dizer com seriedade que Lula é um líder regional, líder regional é o Chávez", diz o economista-chefe da consultoria britânica Anchorage Capital Partners, Pedro Souza Leão Regina.
'Rocha'
Mesmo que tenha perdido importância como porta-voz da região, em contraposição aos governos de Chávez e do boliviano Evo Morales, o presidente brasileiro foi reafirmado aos olhos europeus como o líder da "esquerda responsável" da América Latina. Pelo menos é isso que indica o discurso do comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson.
"O Brasil deve ser visto como uma rocha em democracia e economia dentro da América Latina, com uma influência dominante no continente que não mudará", disse Mandelson, em entrevista à BBC Brasil.
Liderança do Brasil é incontestável, diz Mandelson
Mas, na opinião do analista Leão Regina, para manter boas relações com a Europa e EUA e obter ganhos no cenário internacional, o Brasil deve reforçar as diferenças em relação à Venezuela e Bolívia e investir no aumento da sua influência em organizações como a ONU e a OMC.
Ele argumenta que as crises na América Latina apenas mostram que o Brasil deve “voltar à sua vocação natural” de potência multilateral e abandonar o projeto de liderar uma região que, na sua visão, é composta de “países muito diversos sem grandes ligações históricas nem comerciais”.
"O Brasil precisa acordar para o fato de que os latino-americanos não estão preparados para tê-lo como líder e cuidar dos seus próprios interesses", afirma.
Acordos
Panizza, da LSE, lembra que Chile e México já têm acordos bilaterais com a União Européia e o Mercosul está a quatro anos tentando negociar um semelhante – em 2004, a expectativa em Guadalajara era que até outubro daquele ano os dois blocos lançariam negociações para a maior área de livre comércio do mundo.
O ano de 2004 também foi marcado pela liderança do Brasil no G20, grupo formado para pressionar europeus e americanos a fazer mais concessões nas negociações de liberalização do comércio na OMC (Organização Mundial do Comércio).
De lá para cá, porém, esse grupo também perdeu força e sucessivos prazos têm sido descumpridos, sem nenhum sinal de acordo. Destravar as negociações é, aliás, o objetivo declarado do governo brasileiro nessa cúpula.
Fontes diplomáticas dizem que Lula pretende se reunir com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e a premiê alemã Angela Merkel, entre outros líderes, para tentar fazer vingar a idéia de uma reunião de chefes de Estado que dê novo impulso à rodada de Doha.
Mas, na avaliação de Panizza, o objetivo não deve prosperar não só porque a América Latina não poderá "falar com uma só voz", mas também porque considera que não se trata do fórum ideal para discutir o assunto.
Segundo o professor, as concessões das quais dependem o desbloqueio das negociações estão nas mãos de quatro ou cinco países estratégicos nas negociações e dificilmente seriam feitas num fórum com representantes de 60 países.
O economista-chefe da consultoria britânica Anchorage Capital Partners Pedro Souza Leão Regina também acha improvável haver avanços no tema.
"A posição do Brasil é conhecida, a de europeus e americanos (que não participam do evento em Viena) também. E o próprio Lula, se quisesse fazer concessões, não as faria num ano eleitoral", afirma Leão Regina.
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