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Lins "joga no bicho", chama PF de canalha e diz que imprensa não gosta de heróis
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LUISA BELCHIOR
colaboração par a Folha Online, no Rio
Sob fortes vaias e aplausos vindos das três galerias populares do plenário da Alerj (Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), que ficaram lotadas, Álvaro Lins (PMDB-RJ) discursou antes da sessão que cassou hoje seu mandato parlamentar por quebra de decoro parlamentar. Ele atacou a imprensa e a Polícia Federal, a quem chamou de canalha.
Em discurso de 40 minutos, dez a mais que o permitido, o deputado acusou a Alerj de precipitar-se em julgá-lo por pressão da imprensa, contra quem ele falou por mais de 15 minutos. "Os jornais não gostam dos heróis", disse.
Ao citar, por quatro minutos, o livro "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, o deputado comparou a PF aos cachorros adestrados pelos porcos que assumem o poder, no enredo da obra.
"Os cães criados pelos porcos bateram na porta da minha casa, esses cachorros que o ministro [do STF] Gilmar Mendes muito bem classificou como canalhas. E não encontraram nada", disse. "Em 2006, eles já tinham entregado um relatório ao Ministério Público, mas ele foi devolvido porque não foi achado nenhum indício. De lá para cá, não há um dado novo. Não respondo processo algum, porque a denúncia nem sequer chegou à Justiça."
Lins fez um apelo aos deputados presentes para que evitassem o que ele chamou de "vilipêndio do voto, da democracia", e disse classificou o relatório do Conselho de Ética que pede sua cassação de apressado e com atropelos. "Não vai ser atirando pedras em um deputado que vamos saciar esses porcos e esses cachorros, porque eles não vão parar."
Em votação apertada e com a minoria mínima de votos, a Alerj (Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) aprovou nesta terça-feira o pedido de quebra de decoro parlamentar do deputado Álvaro Lins (PMDB) feito pelo Conselho de Ética da casa. Com a decisão, Lins perderá o mandato de deputado estadual.
O processo de cassação de Lins foi aberto no início do ano, após ele ser preso na operação Segurança Pública S/A, da Polícia Federal, para desarticular suposto esquema de pagamentos de propina dentro da estrutura da Secretaria de Segurança do Rio quando era chefe da Polícia Civil do Rio. O deputado foi preso em flagrante e solto no dia seguinte pela Alerj, que julgou a prisão inconstitucional.
Lins terminou o discurso recitando, de cor, o poema "Versos Íntimos", de Augusto dos Anjos. Ao final, pediu aos deputados que "digam não aos porcos e cachorros". Saiu da tribuna entre aplausos e gritos de "porco" das galerias.
Após a votação, Lins, que acompanhou o processo ao lado de seus advogados, na quinta fila do plenário e distante dos colegas, saiu sem falar com a imprensa.
Cassação
Com 63 dos 70 deputados presentes, a votação ocorreu em regime fechado e foi apertada: foram três abstenções, 24 votos contra a cassação e 36 favoráveis --o mínimo necessário para que a cassação pudesse ser aprovada.
Antes da sessão, a maioria dos deputados se dizia favorável à cassação de Lins. Nove deles subiram à tribuna para discursar sobre o processo, e todos se manifestaram favoráveis.
Embora tenha focado nos ataques, o deputado ainda negou qualquer envolvimento ou proteção à máfia dos caça níqueis, como acusa a denúncia do Ministério Público Federal contra o deputado.
"Desafio qualquer governo do Rio a ter apreendido mais caça-níqueis que a minha gestão [como chefe da Polícia Civil do Rio]", disse o deputado, antes de mostrar um bilhete do jogo do bicho que ele disse ter sido comprado entre a Alerj e o prédio do Tribunal de Justiça do Rio, no centro da cidade.
Alma lavada
Deputados disseram ao fim da votação que a decisão, mesmo apertada, ajuda a "lavar" a imagem da Alerj, criticada quando julgou inconstitucional a prisão de Lins, alegando que o flagrante não estava configurado. "Sabíamos que seria difícil, mas a decisão ajuda a renovar a imagem da Casa", disse o deputado Marcelo Freixo (PSOL).
O corregedor da Alerj, deputado Luiz Paulo Corrêa (PSDB), rebateu as críticas de Lins ao relatório do Conselho de Ética. "O relatório estava bastante robusto, e ficava claro que houve quebra de decoro parlamentar. Não tivemos a menor dúvida a esse respeito."
Álvaro Lins foi o terceiro deputado fluminense a ter seu mandato cassado só neste ano na Alerj. Em abril, as deputadas Renata do Posto (PTB) e Jane Cozzolino (PTC) também tiveram seus mandatos cassados, após investigações que as apontavam como suspeitas de participar de um esquema de fraude no auxílio-educação, pago a servidores da Alerj. O esquema consistia em inscrever pessoas no sistema de pagamento do auxílio-educação. Só que o benefício ficava com a quadrilha.
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