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03/12/2002 - 19h47

Saiba o que os acusados de matar os Richthofen disseram à Justiça

LÍVIA MARRA
da Folha Online

Em interrogatório que durou aproximadamente duas horas, os três acusados pelo assassinato do casal Manfred e Marísia von Richthofen, ocorrido em 31 de outubro, detalharam o crime ao juiz Alberto Anderson Filho, do 1º Tribunal do Júri, no Complexo Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

O casal foi assassinado em casa, enquanto dormia, no Brooklin, zona sul. Foram golpeados com barras de ferro e madeira. Os acusados estão presos desde o dia 8 de novembro, após confessarem o crime.

Durante interrogatório, Suzane acusou o namorado pelo planejamento do crime. Já Daniel, tentou isentar o irmão, Cristian, e afirmou que foi quem teve a primeira idéia de matar os pais. Cristian, o último a ser interrogado, disse que fez de tudo para que o plano desse errado. Disse que bateu a porta e subiu a escada pisando forte para fazer barulho e tentar acordar o casal.

Leia o que cada um contou à Justiça:

Suzane von Richthofen, 19, filha do casal - vestindo blusa branca e saia bege (uniforme da penitenciária), a garota entrou no plenário por volta das 14h. Tinha o cabelo dividido ao meio, em duas tranças. Em depoimentos à polícia, cobria o rosto com o cabelo. Aparentemente abalada, e em meio a choros, Suzane se mostrou arrependida, acusou o namorado e disse que foi persuadida e iludida por ele.

Disse ao juiz que no começo do namoro, há cerca de três anos, era bom o relacionamento de seus pais com Daniel, mas que o rapaz se transformou em uma "obsessão" porque queria estar ao lado dele todo o tempo. Foi então, que a mãe começou a limitar o relacionamento.

No entanto, afirmou que "os problemas começaram este ano", quando disse a Marísia que dormiria na casa de uma amiga e foi para um motel com o namorado. A mãe descobriu. Passou a dizer que Daniel era uma "má influência" e proibiu que mantivessem contato. Entre abril e maio, a acusada disse que ela e o irmão, Andreas, 15, foram obrigados a "cortar relações" com Daniel, segundo seu depoimento.

"Aquilo para mim foi um choque muito grande", disse à Justiça.

Contou ao juiz que ficava fascinada com a liberdade que encontrava na casa do namorado. "Na casa do Daniel podia tudo", disse, afirmando que em sua casa eram muitas as restrições.

No Dia das Mães, Suzane discutiu com os pais porque queria ver o namorado. Disse que Manfred deu um tapa em seu rosto durante a discussão. Afirmou ter sido a única vez que foi agredida em casa. Nervosa, seguiu para a casa de Daniel e disse que não queria mais retornar para sua casa. No entanto, percebeu que não teria como "fugir".

Apesar da proibição, os namorados se encontravam escondidos e em julho, quando Manfred e Marísia viajaram, Daniel passou o mês na casa dos Ritchthofen.

De acordo com Suzane, naquele mês, "as coisas foram como um sonho". "[Daniel] foi me seduzindo e mostrando que ficar ao lado dele, sem meus pais, era a felicidade", afirmou ao juiz.

Daniel contou a Suzane, segundo seu depoimento, que estava interessado em adquirir uma arma para matar o casal. A garota disse que "odiou" a possibilidade. Disse também que Daniel deu a ela duas opções: ficar com ele sem os pais (Manfred e Marísia) ou ficar com os pais sem o namorado.

"Ele me prometeu um mundo encantado", disse, afirmando que preferia ficar com o namorado sendo aceito pelos pais.

Quando acabaram as férias, porém, "tudo voltou a ser como antes", disse. Ou seja, Suzane foi proibida de ver o namorado. "Ficar sem ele depois daqueles 30 dias era quase impossível", afirmou durante interrogatório.

Suzane e Daniel teriam planejado viajar para Porto Seguro (BA) enquanto os pais estavam fora. Preferiram, segundo ela, ficar na casa dos Richthofen.

A garota disse à Justiça que, em agosto, Daniel disse que o irmão havia conseguido uma arma e pediu o dinheiro que não foi gasto na viagem. A arma, no entanto, não teria sido comprada.

"Só que dava muito medo", disse, sobre o plano de assassinar os pais.

Suzane disse que amava muito os pais, mas que, por outro lado, tinha o namorado. Afirmou que Daniel a incentivou a fumar maconha e falava para que não ficasse preocupada e não deixasse que as pessoas percebessem seu nervosismo.

Em outubro, a garota disse para a mãe que havia acabado com o namoro. "Ela ficou muito feliz", disse. Daniel era, para Marísia, um "tormento", de acordo com Suzane.

No mesmo mês, Daniel contou a idéia para assassinar o casal, segundo depoimento da garota. "Disse o que eu teria que fazer".

Na tarde de 30 de outubro, Suzane disse que foi ao shopping com o irmão e o namorado. Ficou sabendo, então, que o crime ocorreria naquela noite. Combinaram de levar Andreas a um cibercafé, para tirá-lo de casa.

"Não queria que meus pais morressem, mas era tarde", disse, afirmando que, enquanto o casal era assassinado, ficou na biblioteca, cobrindo os ouvidos com as mãos e chorando.

Antes de encerrar seu depoimento, Suzane voltou a demonstrar arrependimento e afirmou que agora percebe que "pai e mãe são tudo" e que "sempre têm razão no que falam".

"Só imaginava que tudo iria ser perfeito. Só que esse mundo encantado nunca existiu", disse.

Daniel Cravinhos, 21 - namorado de Suzane - Foi o segundo a ser ouvido pela Justiça. Vestia calça bege, camisa branca de manga longa e tênis. Afirmou que a idéia de assassinar o casal surgiu aproximadamente dois meses antes do crime. Acusou Suzane de ter tido a primeira idéia de assassinar os pais e se preocupou em proteger o irmão, Cristian.

Segundo ele, Suzane convivia com muitas pessoas de nível social inferior, que tinham liberdade para sair e namorar. Por isso, ela foi "criando birra" com os pais, que eram rígidos em sua educação.

Afirmou que certa vez, após uma discussão, Suzane disse que queria matar os pais. Disse, de acordo com seu depoimento, que era uma loucura.

Segundo Daniel, o casal Richthofen agredia verbalmente sua família e tentava convencer Suzane de que ele não era boa companhia porque não estudava e não trabalhava. Disse que as afirmações não são verdadeiras.

No decorrer do tempo, a idéia de assassinar o casal foi "entrando" na cabeça dos namorados. Disse que Suzane "foi sempre" a mulher de sua vida e tinha receio das atitudes dos pais dela.

Daniel afirma que Cristian não queria participar do crime, mas acabou aceitando para não deixá-lo sozinho. Disse que o irmão tinha certeza que seriam pegos pela polícia.

De acordo com o rapaz, o crime não foi cometido por dinheiro. Também se demonstrou arrependido.

"Quando caímos na realidade, já estava tudo feito. Não tinha como voltar atrás", disse.

Cristian Cravinhos, 26 - irmão de Daniel - o último a ser interrogado, disse que "não acreditava" que ele e o irmão seriam capazes de assassinar o casal. Vestia calça bege, blusa azul de manga longa e tênis.

Cristian disse que fez de tudo para que o crime desse "errado". Afirmou que bateu a porta e subiu a escada de acesso ao quarto das vítimas pisando forte, na tentativa de acordar Manfred e Marísia. Segundo ele, só participou do crime por causa do irmão.

Afirmou ao juiz que Suzane havia dito, em conversas, que os pais batiam nela e no irmão e que o casal usava bebidas alcóolicas. Falou também que a garota disse ter sido vítima de tentativa de estupro (pelo pai). A advogada de Suzane, Cláudia Bernasconi, afirmou desconhecer as informações.

De acordo com Cristian, sua maior preocupação era com Andreas, 15, filho mais novo dos Richthofen.

Colocou uma toalha sobre o rosto de Marísia para abafar o barulho que fazia enquanto agonizava e cobriu seu rosto com um saco de lixo para poupar Andreas.

"Não precisa, além de perder os pais, ter que ver essa cena", disse Cristian ao juiz.

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