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28/04/2003
-
21h32
O economista João Carlos Gomes, 56, acredita que a Baixada Santista pode se converter em um conjunto de cidades-dormitório sem perspectiva de crescimento econômico, em um eventual fluxo migratório decorrente da nova pista da Imigrantes.
Gomes é chefe do Departamento de Economia da Unisantos (Universidade Católica de Santos), onde integra um grupo de professores que elabora o mapeamento da fome e miséria nos nove municípios da Baixada.
Agência Folha - Com a segunda pista, o incremento populacional dos últimos anos na Baixada vai se acentuar?
João Carlos Gomes -Desde 1995, a redução de postos de trabalho para quem tem escolaridade até o segundo grau incompleto foi de 40% em Santos. Essas pessoas foram perdendo trabalho e não conseguiram mais viver em Santos. Isso justifica as taxas de crescimento populacional altíssimas em algumas cidades vizinhas. A cidade-mãe [Santos] expulsa para outras cidades um contingente que não consegue mais viver nela.
As favelas crescem, e a urbanização dessas cidades é desorganizada. Os postos de trabalho criados atendem à demanda dessa população pobre, que, no capitalismo contemporâneo, não reflete crescimento econômico.
Agência Folha - Qual o efeito para a economia de Santos?
Gomes - [Isso] irradia uma péssima qualidade de serviços e resulta em baixo potencial de atendimento para alguém que tem os hábitos de consumo de uma metrópole como São Paulo.
Agência Folha - O sr. quer dizer que, mesmo com as facilidades da Imigrantes, a região ainda não é atraente para os paulistanos?
Gomes - Se houver possibilidade de paulistanos morarem em Santos para trabalhar em São Paulo, estarão perpetuando uma condição de cidade-dormitório, que, do ponto de vista econômico, não é suficiente para gerar o crescimento que precisamos. Santos atrai novos moradores, mas são pessoas da chamada terceira idade, que não vêm aqui para trabalhar. Aposentaram-se no interior e em São Paulo e vêm para morar. Esse consumidor não gera demanda suficiente para viabilizar crescimento econômico.
Agência Folha - Mas essa população não contribuiria para incrementar comércio e serviços, base da atividade econômica local?
Gomes - Comércio e serviços são setores muito sensíveis à taxa de juros. Enquanto o país estiver calibrando fundamentos econômicos via taxa de juros, a região não reúne condições para promover avanços.
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Para economista, litoral pode virar conjunto de cidades-dormitório
da Agência Folha, em SantosO economista João Carlos Gomes, 56, acredita que a Baixada Santista pode se converter em um conjunto de cidades-dormitório sem perspectiva de crescimento econômico, em um eventual fluxo migratório decorrente da nova pista da Imigrantes.
Gomes é chefe do Departamento de Economia da Unisantos (Universidade Católica de Santos), onde integra um grupo de professores que elabora o mapeamento da fome e miséria nos nove municípios da Baixada.
Agência Folha - Com a segunda pista, o incremento populacional dos últimos anos na Baixada vai se acentuar?
João Carlos Gomes -Desde 1995, a redução de postos de trabalho para quem tem escolaridade até o segundo grau incompleto foi de 40% em Santos. Essas pessoas foram perdendo trabalho e não conseguiram mais viver em Santos. Isso justifica as taxas de crescimento populacional altíssimas em algumas cidades vizinhas. A cidade-mãe [Santos] expulsa para outras cidades um contingente que não consegue mais viver nela.
As favelas crescem, e a urbanização dessas cidades é desorganizada. Os postos de trabalho criados atendem à demanda dessa população pobre, que, no capitalismo contemporâneo, não reflete crescimento econômico.
Agência Folha - Qual o efeito para a economia de Santos?
Gomes - [Isso] irradia uma péssima qualidade de serviços e resulta em baixo potencial de atendimento para alguém que tem os hábitos de consumo de uma metrópole como São Paulo.
Agência Folha - O sr. quer dizer que, mesmo com as facilidades da Imigrantes, a região ainda não é atraente para os paulistanos?
Gomes - Se houver possibilidade de paulistanos morarem em Santos para trabalhar em São Paulo, estarão perpetuando uma condição de cidade-dormitório, que, do ponto de vista econômico, não é suficiente para gerar o crescimento que precisamos. Santos atrai novos moradores, mas são pessoas da chamada terceira idade, que não vêm aqui para trabalhar. Aposentaram-se no interior e em São Paulo e vêm para morar. Esse consumidor não gera demanda suficiente para viabilizar crescimento econômico.
Agência Folha - Mas essa população não contribuiria para incrementar comércio e serviços, base da atividade econômica local?
Gomes - Comércio e serviços são setores muito sensíveis à taxa de juros. Enquanto o país estiver calibrando fundamentos econômicos via taxa de juros, a região não reúne condições para promover avanços.
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