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22/10/2000 - 08h28

Curso de jovens e adultos só alfabetiza 25%

GABRIELA ATHIAS, da Folha de S.Paulo
enviada especial a Alagoas

O programa Alfabetização Solidária, o mais abrangente projeto de educação de jovens e adultos do país, com 1,5 milhão de alunos desde 1997, não consegue ensinar a maioria deles a ler e a escrever textos básicos.

O último relatório do programa informa que, em 707 municípios (81,6% do total atendido), apenas 25,1% dos alunos terminaram o curso lendo e escrevendo pequenos textos. A maioria aprendeu apenas palavras e frases soltas. Os dados são do módulo de julho a dezembro de 99.

Em outra avaliação, feita nos 49 municípios que sediaram o programa desde o início, em janeiro de 97, a taxa de alunos aptos a ler e escrever pequenos textos é ainda menor: apenas 18,4%.

A coordenadora-executiva do programa, Regina Esteves, afirma que ele é mais "sensibilizador" do que "alfabetizador". "O programa não garante a alfabetização", diz Regina. "Ele desencadeia um processo de aprendizado que acompanha o aluno ao longo da vida."

Isso porque os seis meses que duram o curso (um de capacitação dos alfabetizadores e cinco de aulas) seriam insuficientes para que analfabetos alcançassem os níveis iniciais de leitura e escrita.

Alguns coordenadores do Alfabetização Solidária dizem que o erro do programa está no nome. "É mais um programa de educação, no sentido amplo, do que um programa de alfabetização", diz Silvia Terzi, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), uma das coordenadoras.

Os programas de alfabetização existentes no país duram, em média, 18 meses. A maioria é financiada por prefeituras, Estados e pelo Ministério da Educação, como ocorre em São Paulo.

De acordo com o conceito atual de alfabetização, adotado pela maioria dos educadores, não adianta os alunos apenas conhecerem letras, sílabas e palavras. O mais importante é conseguir usar a escrita para resolver problemas cotidianos, como pegar um ônibus, fazer um depósito bancário ou ler o rótulo de um alimento.

Até hoje, o Alfabetização Solidária não criou um critério único para definir o analfabetismo. A avaliação dos alunos depende do conceito adotado pelo professor da instituição de ensino superior que atua no município em parceria com o programa.

Segundo os dados fornecidos pelas universidades, os alunos que conseguem aprender a ler e a escrever pequenos textos em cinco meses são pessoas que já conheciam (ao menos parcialmente) o alfabeto antes de participar do programa.

A maioria dos que ingressam totalmente analfabetos chega apenas até a leitura e escrita de palavras soltas.

Custos
Além de o tempo de duração do curso dificultar a aprendizagem, o Alfabetização Solidária é um dos cursos mais caros do país.

Enquanto um aluno do programa custa R$ 34 mensais (R$ 17 são pagos pelo Ministério da Educação e R$ 17 pela iniciativa privada), nos cursos financiados pelo governo paulista e executados pelo Ibeac (Instituto Brasileiro de Educação e Cultura) e pelo Conselho Comunitário da Grande São Paulo, esse valor cai para R$ 8,52. Os dois cursos duram 18 meses.

Hélio Amorim, coordenador do Ibeac, diz que alguns alunos são financiados pelo Ministério da Educação. Isso cria uma situação inusitada: o aluno do Alfabetização Solidária custa R$ 17 aos cofres públicos; na classe do Ibeac, custa a metade.

Apesar de não conseguir fazer com que a maioria dos alunos complete o processo de alfabetização, o Alfabetização Solidária deverá ser capaz de reduzir os índices oficiais de analfabetismo.

O questionário do censo 2000 pergunta apenas se o entrevistado sabe ler e escrever. A resposta depende exclusivamente do critério da pessoa.

A orientação para os recenseadores é considerar alfabetizado quem sabe ler e escrever um bilhete simples na língua que conhece. Mas não há nenhuma orientação para que se peça ao entrevistado que leia ou escreva.

Pesquisa sobre a redução do analfabetismo feita pela Prefeitura de Santa Inês (PB), com critérios semelhantes aos do censo, mostra que os índices caíram de 56%, antes da implantação do programa, para 23%.

Colaborou VALÉRIA OLIVEIRA, da Sucursal de Brasília

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