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22/10/2000
-
08h48
em Alagoas
A duração dos cursos do Alfabetização Solidária _um mês de capacitação dos alfabetizadores e cinco meses de aulas_ provoca polêmica até entre os próprios coordenadores do programa.
Especialistas questionam se não seria mais proveitoso se o programa mantivesse os alunos por um período maior em sala de aula para que pudessem consolidar conhecimentos de leitura e escrita.
De 97 até o fim do ano, o programa, segundo dados oficiais, totalizará o atendimento a 1,5 milhão de pessoas. Se a escolha tivesse sido por consolidar conhecimentos, o impacto do programa seria menor em termos numéricos.
Maria Clara Di Pierro, da Ação Educativa _organização não-governamental que promove pesquisas sobre educação_, diz que a regressão dos alunos ao analfabetismo após cursos breves é uma marca dos programas e campanhas que tentaram erradicar o problema no país, especialmente na zona rural.
"Isso é uma falha do programa", diz Stella Bertholo Piconez, da Universidade de São Paulo (USP) e do conselho consultivo do Alfabetização Solidária.
Segundo ela, o mérito do programa é ser um "indutor" de políticas na área de educação de jovens e adultos. "Mas é preciso tirar da cabeça dos próprios participantes do programa que ele é alfabetizador."
O problema está na pobreza das prefeituras que sediam o programa. Sem recursos e estrutura, esses municípios não têm como financiar programas de educação de jovens e adultos no formato dos supletivos e prosseguir com o Alfabetização Solidária.
Dos 1.016 municípios participantes do programa, cerca de 500 tiveram projetos de alfabetização de jovens e adultos aprovados pelo Ministério da Educação no ano passado.
No entanto, como ainda não há uma verba específica do governo federal, a implantação efetiva das classes ainda depende da disposição das prefeituras e dos recursos disponíveis.
"O supletivo está funcionando melhor onde a prefeitura está envolvida no projeto", diz Nathalie Hobeica, diretora de Comunicação e Captação do programa.
Crescimento rápido
Nos primeiros 49 municípios em que o programa foi implantado, o número de classes de supletivos aumentou de 17 (em 97) para 397 (em 99).
Nesse mesmo período, esses municípios tiveram pelo menos 1.199 classes de alfabetização com número de alunos semelhante ao dos supletivos (cerca de 25 por classe). Ou seja, a maioria dos alunos não obteve vaga para continuar os estudos.
Estudo feito pela Unicamp em 98, nos 148 municípios que sediavam o programa, mostrou que, dos 75 mil alunos, 72% continuaram a estudar em supletivos.
O problema é que, em agosto daquele ano, o programa foi expandido rapidamente para 581 municípios (até atingir a quantidade atual) e as classes de supletivo foram surgindo vagarosamente, de acordo com as possibilidades das prefeituras.
Para resolver o problema, o Ministério da Educação criou uma fonte de financiamento para essas classes, que deverá ser utilizada a partir do próximo ano.
De acordo com Nathalie Hobeica, é difícil controlar o funcionamento das classes de supletivo. Isso porque, segundo ela, os dados dos municípios não coincidem com os do ministério e com os das universidades parceiras.
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Duração de programa gera polêmica entre especialistas
GABRIELA ATHIAS, da Folha de S.Pauloem Alagoas
A duração dos cursos do Alfabetização Solidária _um mês de capacitação dos alfabetizadores e cinco meses de aulas_ provoca polêmica até entre os próprios coordenadores do programa.
Especialistas questionam se não seria mais proveitoso se o programa mantivesse os alunos por um período maior em sala de aula para que pudessem consolidar conhecimentos de leitura e escrita.
De 97 até o fim do ano, o programa, segundo dados oficiais, totalizará o atendimento a 1,5 milhão de pessoas. Se a escolha tivesse sido por consolidar conhecimentos, o impacto do programa seria menor em termos numéricos.
Maria Clara Di Pierro, da Ação Educativa _organização não-governamental que promove pesquisas sobre educação_, diz que a regressão dos alunos ao analfabetismo após cursos breves é uma marca dos programas e campanhas que tentaram erradicar o problema no país, especialmente na zona rural.
"Isso é uma falha do programa", diz Stella Bertholo Piconez, da Universidade de São Paulo (USP) e do conselho consultivo do Alfabetização Solidária.
Segundo ela, o mérito do programa é ser um "indutor" de políticas na área de educação de jovens e adultos. "Mas é preciso tirar da cabeça dos próprios participantes do programa que ele é alfabetizador."
O problema está na pobreza das prefeituras que sediam o programa. Sem recursos e estrutura, esses municípios não têm como financiar programas de educação de jovens e adultos no formato dos supletivos e prosseguir com o Alfabetização Solidária.
Dos 1.016 municípios participantes do programa, cerca de 500 tiveram projetos de alfabetização de jovens e adultos aprovados pelo Ministério da Educação no ano passado.
No entanto, como ainda não há uma verba específica do governo federal, a implantação efetiva das classes ainda depende da disposição das prefeituras e dos recursos disponíveis.
"O supletivo está funcionando melhor onde a prefeitura está envolvida no projeto", diz Nathalie Hobeica, diretora de Comunicação e Captação do programa.
Crescimento rápido
Nos primeiros 49 municípios em que o programa foi implantado, o número de classes de supletivos aumentou de 17 (em 97) para 397 (em 99).
Nesse mesmo período, esses municípios tiveram pelo menos 1.199 classes de alfabetização com número de alunos semelhante ao dos supletivos (cerca de 25 por classe). Ou seja, a maioria dos alunos não obteve vaga para continuar os estudos.
Estudo feito pela Unicamp em 98, nos 148 municípios que sediavam o programa, mostrou que, dos 75 mil alunos, 72% continuaram a estudar em supletivos.
O problema é que, em agosto daquele ano, o programa foi expandido rapidamente para 581 municípios (até atingir a quantidade atual) e as classes de supletivo foram surgindo vagarosamente, de acordo com as possibilidades das prefeituras.
Para resolver o problema, o Ministério da Educação criou uma fonte de financiamento para essas classes, que deverá ser utilizada a partir do próximo ano.
De acordo com Nathalie Hobeica, é difícil controlar o funcionamento das classes de supletivo. Isso porque, segundo ela, os dados dos municípios não coincidem com os do ministério e com os das universidades parceiras.
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