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29/01/2010 - 14h12

Blair diz que temia aliança entre Saddam Hussein e Al Qaeda no Iraque

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da Folha Online

O ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair afirmou nesta sexta-feira, em inquérito sobre a participação britânica na Guerra do Iraque, que temia uma aproximação entre o ditador iraquiano Saddam Hussein e a militantes da rede terrorista Al Qaeda. Blair dá depoimento, previsto para durar seis horas, sobre as justificativas para a participação das tropas britânicas no conflito.

Blair nega que invasão do Iraque visava a derrubar Saddam Hussein
Blair diz que 11 de Setembro mudou cálculo do risco no Iraque

"Nós estávamos dizendo aos americanos, olhem, Saddam e a Al Qaeda, são duas coisas diferentes, mas eu sempre me preocupei que, em algum momento, as duas coisas fossem se unir. Nem Saddam nem a Al Qaeda simplesmente, mas a noção de Estados proliferando armas de destruição em massa e grupos terroristas. Eu ainda acho que é um grande risco hoje", disse Blair, primeiro-ministro britânico na época da invasão.

Reuters
Ex-premiê britânico Tony Blair diz que temia uma aliança entre ditador Saddam Hussein e a Al Qaeda no Iraque
Ex-premiê britânico Tony Blair diz que temia uma aliança entre ditador Saddam Hussein e a Al Qaeda no Iraque

"Há estes Estados, Irã em particular, que estão ligados ao extremismo e, no meu ponto de vista, enganados em sua visão sobre o Islã. Nós ainda enfrentamos esta ameaça nos dias de hoje".

Blair afirmou ainda que a invasão ao Iraque tinha como objetivo acabar com as armas de destruição em massa (que nunca foram encontradas) e não derrubar o regime liderado por Saddam.

"O assunto absolutamente central eram as armas de destruição em massa", não uma mudança de regime, disse Blair, negando ter como objetivo derrubar Saddam.

O britânico ressaltou, contudo, que, "se necessário, e se não houvesse nenhum jeito de lidar com esta ameaça, nós iríamos removê-lo".

Blair tentou justificar ainda o fato de defender a presença de armas de destruição no Iraque, argumento central da invasão que foi derrubado depois que nada foi encontrado no Iraque.

"Se ele as tivesse usado, se ele definitivamente as tivesse, ele estaria indo contra dez resoluções da ONU então, de certa forma, seriam necessárias provas muito fortes no sentido contrário para duvidar do fato de que havia este programa [de produção de armas de destruição em massa]".

O primeiro-ministro disse ainda que opções militares foram discutidas, mas insistiu que afirmou ao então presidente americano George W. Bush que queria esgotar todas as rotas diplomáticas antes de uma invasão ser considerada.

"O único comprometimento que eu dei, e eu o fiz de maneira muito aberta à época, era um comprometimento de lidar com Saddam", disse Blair.

Cálculo

Blair disse ainda que outros líderes mundiais não dividiam o seu entusiasmo --e o de Bush-- para confrontar a ameaça de armas de destruição em massa. "Embora a impressão americana tenha mudado drasticamente [depois do 11 de Setembro, e francamente a minha também, quando eu falei com outros líderes, particularmente na Europa, eu não tinha a mesma impressão".

O ex-primeiro-ministro afirmou que o "cálculo do risco" representado pelas armas que supostamente o ditador iraquiano tinha mudou após os ataques terroristas contra os Estados Unidos em 2001.

Ao ser perguntado sobre sua estratégia sobre o Iraque, Blair disse que, antes do 11 de Setembro, achava que Saddam Hussein podia ser controlado com uma "política de contenção" e através de sanções. Sua decisão, afirmou, foi alimentada pelo temor de outros ataques terroristas semelhantes ao que os EUA presenciaram.

"O cálculo de risco mudou com os ataques nos EUA nos quais morreram mais de 3.000 pessoas. Se essa gente, inspirada por fanatismos religiosos, tivesse conseguido matar 30 mil, teriam feito, então cheguei à conclusão de que não se podia assumir riscos neste assunto", afirmou Blair.

Inquérito

O governo de Blair é acusado de exagerar o risco imposto pelo ditador iraquiano para justificar a guerra. Bush já admitiu que foi um erro invadir o país com base no argumento de que havia armas de destruição em massa --nunca encontradas.

A decisão de apoiar a guerra foi a mais controversa dos dez anos de governo de Blair e causou ainda divisão no Partido Trabalhista.

Saddam fugiu quando as forças americanas, apoiadas pelos britânicos, invadiram o país em 2003. Ele foi condenado e executado em 2006.

Principal aliado de Bush na Guerra do Iraque, Blair será interrogado durante seis horas nesta sexta-feira sobre sua decisão de enviar 45 mil soldados britânicos ao país.

O presidente da comissão, John Chilcot, afirmou que o objetivo do interrogatório de Blair é descobrir por que o Reino Unido invadiu o Iraque, por que derrubou Saddam e por que em 2003.

Este é o terceiro e mais amplo inquérito sobre a Guerra do Iraque no Reino Unido. Ele não tem como objetivo apontar culpados ou dizer quem foi responsável pela guerra, mas tem potencial para prejudicar a imagem de britânicos e americanos depois de sete anos.

Os britânicos, até hoje divididos sobre o conflito, esperam que o testemunho do ex-primeiro-ministro aponte respostas sobre o objetivo e a legitimidade da guerra e sobre como e quando Blair decidiu apoiar os americanos com base no falso argumento das armas de destruição em massa.

A expectativa quanto ao depoimento de Blair foi tão grande que a comissão teve que sortear as 80 cadeiras disponíveis na sala entre mais de 3.000 pessoas. Entre os espectadores estão ainda familiares dos 179 militares britânicos mortos no Iraque.

Protestos

O depoimento de Blair atraiu ainda protestos aos gritos de 'Tony Blair, criminoso de guerra' do lado de fora do local do inquérito, em Londres.

Sete anos após a invasão e três anos depois de Blair deixar o cargo para o colega trabalhista Gordon Brown, a decisão causa protestos emotivos.

Familiares de alguns dos militares britânicos mortos na guerra se uniram aos cerca de 100 manifestantes que gritavam e carregavam cartazes do lado de fora do prédio.

Blair chegou cedo e entrou por uma porta lateral, sob forte segurança.

A aparição de Blair pode afetar não apenas seu legado pessoal ao governo britânico mas o governo de Brown, então ministro de Finanças, que já enfrenta um momento difícil de crescimento da oposição dos Conservadores.

Alguns líderes trabalhistas temem que as declarações de Blair em defesa da guerra possa incitar sentimentos fortes nos eleitores e afastá-los dos trabalhistas nas eleições de junho.

 

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