NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Clóvis Rossi
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Nelson de Sá
Vaguinaldo Marinheiro

Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  14 de novembro
  A moça que queria ser feliz
   
   

Encontrei a moça por acaso. Era alta, mais para bonita, ou mesmo bonita, com dois olhos imensos e negros, a pele muito branca e suave. Com esforço de memória e imaginação, poderia parecer uma estátua grega, mas para isso seria necessário cegá-la, as estátuas gregas têm sempre os olhos vasados.

Ela me pediu o e-mail para mandar um trabalho que fizera sobre a violência nas grandes cidades. Um tema que a preocupava, tivera uma amiga currada e assassinada numa rua da Tijuca, os jornais nem deram a notícia, os assassinos eram classe média, um deles filho de um cara importante.

Perguntei-lhe o nome e ela disse que se chamava Eloína. Mas que não gostava dele, porque era uma mistura do nome do pai, que se chama Elói, e de sua mãe, que é Regina.

Estranhei aquilo. Afinal, Eloína não é nome tão feio assim, muita moça tem esse nome. E há nomes piores, que já saíram de moda, como Filomena e Cunegundes.

Mas ela insistiu. Disse que o "Eloína" era o que sobrara do casamento dos pais dela. Os dois se separaram, nada mais tinham em comum, coubera-lhe a herança idiota de prolongar um amor que acabara num nome que ela não amava.

Achei a moça triste, dizendo uma coisa triste. E eu caí na asneira de comentar que ela talvez tivesse razão. O ideal teria sido que o nome fosse mágico o suficiente para conservar juntos o Elói e a Regina. Mas seria egoísmo exigir que, por causa de um nome, os dois se sentissem infelizes.

A moça olhou com raiva para mim. Respondeu com uma voz irritada. Ela não era um nome. Era uma jovem feita de carne e sangue, que tinha direito também de ser feliz. De amar e ser amada.

Dei-lhe razão. Onde quer que estejam, tanto o Elói como a Regina, que deram vida e nome a Eloína, devem pensar no tão pouco que custaria amar a moça que quer ser feliz.


Leia colunas anteriores
07/11/2000 - O nascimento de Vênus
31/10/2000 - Ganhos e perdas
24/10/2000 -
Reflexão e Protesto
17/10/2000 - A língua do "P"
10/10/2000 - Câncer virtual


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.