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Uma
ladaínha que me ensinaram a rezar rogava a Deus que nos livrasse
da fome, da peste e da guerra. Fome e guerra eu sabia mais ou menos
o que eram, embora nunca tenha experimentado pessoalmente uma ou
outra. Mas o que seria peste?
Fiquei sabendo mais tarde. Na Antiguidade, mas principalmente na
Idade Média, quando começaram as grandes concentrações
urbanas em torno dos castelos e burgos, uma epidemia súbita
podia matar todo mundo em menos de uma semana. Era o terror.
A medicina moderna conseguiu evitar ou diminuir o risco de pestes
letais. A higiene, os antibióticos e outros avanços
técnicos praticamente acabaram com a possibilidade de pestes
misteriosas que destruíam comunidades inteiras.
Sim, mas na vida virtual que estamos começando, vivemos uma
espécie de risco medieval diante dos inúmeros e supreendentes
vírus que de uma hora para outra podem infectar nossa comunicação
tecnológica.
E estamos tão despreparados para enfrentar esses micróbios
invisíveis como o homem antigo diante de surtos epidêmicos
que podiam acabar com ele e com a família inteira. Nada podia
se fazer, além de rezar e socorrer os moribundos que estrebuchavam
nas ruas, vitimados inesperadamente pelo vírus desconhecido
da conhecida peste que matava a todos.
É o que está acontecendo com nós outros, em
tempos de Internet e e-mail. De repente, quando pensamos estar no
melhor da festa, um vírus letal nos derruba e ficamos moribundos,
caídos à beira da estrada, sem nada receber ou dar.
Retornamos ao nosso estágio de ilhas, cercados de silêncio
e nada por todos os lados.
Não sei quando nem como virá a higiene do espaço
virtual, com suas instalações sanitárias e
estações de tratamento dos mananciais. Não
nasceram ainda o Pasteur e o Fleming que nos livrarão de
todo o mal, amém.
Leia colunas anteriores
14/11/2000 - A
moça que queria ser feliz
07/11/2000 - O nascimento de Vênus
31/10/2000 - Ganhos e perdas
24/10/2000 - Reflexão
e Protesto
17/10/2000 - A língua do "P"
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