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No princípio, não havia senão aquela vegetação típica do cerrado: o mato rasteiro e as árvores retorcidas. Depois, vieram o Juscelino, os tratores, os caminhões e todo o movimento pesado que costuma caracterizar um canteiro de obras.
Desde então, passou-se a culpar o solo de Brasília pela produção da lama que, vez por outra, tinge de marrom as páginas políticas de nossos jornais. Como se o chão tivesse culpa pela obra e pela ilicitocracia dela resultante.
Neste início de semana, o solo de Brasília tremeu. Coisa inédita. Aconteceu pouco depois das sete da manhã. Foram quase quatro graus na escala Richter, que vai de zero a nove. O bastante para deixar a cidade, por assim dizer, balançada.
O departamento de sismologia da UnB ainda busca explicações para o fenômeno. Eu e os meus botões, porém, temos a nossa própria teoria. Sempre achamos, aliás, que essa mania de enterrar escândalos vivos não terminaria bem.
A perspectiva de que outra malfeitoria o caixa-dois do tucanato seja levada à cova com vida parece ter revoltado o subsolo de Brasília. Já que ninguém mais parece se abalar com coisa alguma, o chão como que resolveu protagonizar, ele próprio, um protesto. Por isso tremeu, fazendo com que todos os casos pendentes de investigação revirassem simultaneamente em suas entranhas.
O tucanato ainda não se deu conta, mas a cada escândalo enterrado, um pedaço da reputação de FHC desce à sepultura. O comportamento do presidente, diga-se, é a prova de que biografias também podem cometer suicídio.
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