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Nelson de Sá
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  28 de junho
  De trotsquistas a transgêneros
 
O que mais intrigou, na Parada Gay, Lésbica etc., foram as bandeiras do PSTU. Elas forneceram a prova visual de que ações sociais e políticas as mais diversas começam a se aglutinar, seguindo uma força pouco definida de construção de comunidade _alguns diriam de reconstrução de coletividade. Havia outros sinais, por exemplo, famílias inteiras passeavam, mas esse foi de longe o mais curioso: o que faziam os neocomunistas numa passeata de transgêneros?
No dia seguinte, foi a vez de se reunirem Zé Celso e Iná Camargo Costa e toda a pizzaria neocomunista _na piada de Paulo Arantes_ em pleno teatro Oficina. O que eles têm em comum? Para quem olha de fora, como eu, nada. Nem mesmo a oposição à "barbárie", pregada no manifesto que divulgaram. Mas eles se encontram, eles conversam, tentam achar discursos convergentes.
O modelo, é forçoso repetir, está na Seattle de seis meses atrás. A manifestação contra a Organização Mundial de Comércio foi preparada e alimentada por movimentos os mais esdrúxulos, à primeira vista. Do Brasil, por exemplo, participaram da organização a União Brasileira de Mulheres e a Agência de Notícias Anarquistas. Ao lado deles, sindicatos norte-americanos e entidades de agricultores franceses. E toda a velha esquerda marxista, é claro _o que restou dela.
O que os neocomunistas pretendem ao se integrar aos novos movimentos babélicos foi expresso pelo americano Fredric Jameson há três semanas, no Rio, na Agenda do Milênio da Unesco. "Por enquanto", disse ele candidamente, "nós podemos usar a palavra utópico para designar todos os programas e representações que expressem, ainda que de forma distorcida e inconsciente, as demandas de uma vida coletiva que virá". Em outras palavras, "por enquanto", vale a diversidade.
Expressões como "ditadura do proletariado" parece estar hibernando, ameaçadoras, esperando para voltar. Mas talvez a história não se repita, afinal. Em Seattle, na Parada Gay, nos índios de Porto Seguro, até mesmo no movimento Arte contra a Barbárie _em tudo se vai desenhando um acontecimento novo. São novos protagonistas e não, por favor, meras "representações distorcidas e inconscientes" da utopia comunista do século 19.

Nessa direção, são muito significativas as questões de Verena Glass a João Pedro Stedile, na longa entrevista recém-publicada pela revista Caros Amigos. Uma pergunta e uma resposta, editadas:
Verena Glass - O trabalho do MST é parecido com o de Chiapas, em termos de organização popular. Ao mesmo tempo, a gente vê grandes manifestações como Seattle, como na Suíça, em que, sem as grandes lideranças políticas, a coisa está acontecendo. São dois movimentos que norteiam um outro tipo de pensamento em nível mundial. Você acha que está havendo o nascimento de uma outra postura política, digamos de esquerda, que não depende das grandes cartilhas, de pensadores políticos como Marx, que cresce de baixo?
João Pedro Stedile - Há uma crise de articulações internacionais, uma crise nas elites. Todos os organismos de goveno estão desmoralizados. Alguém acredita na ONU? Alguém acredita na OMC? Ninguém acredita. Há uma crise também nas organizações tradicionais de esquerda. Aquelas centrais sindicais mundiais, ninguém dá bola. As internacionais de partidos, também, ninguém dá bola. Então, concordo contigo, a gente sente que está começando a haver sintomas da crise dessas formas tradicionais de articulação internacional. Não se sabe ainda qual é a tendência que vai pegar dessas (novas) articulações, que são fruto de lutas concretas. Nesse sentido, o que aconteceu em Seattle e vai acontecer em outros lugares é um prenúncio de novas formas de articulação internacional.


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07/6/2000 - Vaga-lume de teatro
31/5/2000 -
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24/5/2000 - Como escrever para a web
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