Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

13/04/2003

Leitores respondem sobre a guerra, sobre brasileiros e americanos

Muito antiamericanismo. Vontade de boicotar produtos dos EUA. Considerar ridículo os americanos boicotarem produtos franceses. Dizer que é censura emissoras de rádio deixarem de tocar grupos que criticam a ida dos EUA à guerra. Certeza de que o interesse por petróleo e por hegemonia no Oriente Médio é a razão para o conflito. Enxergar desespero nos homens-bomba, e, principalmente, desconfiar da mídia.

Esse poderia ser um resumo do que pensa a maioria de leitores que aceitaram o convite para responder a dez perguntas sobre a guerra, americanos e brasileiros formuladas na coluna da semana passada. Claro que existem muitas visões divergentes. Há muitos defensores dos Estados Unidos e do presidente George W. Bush. Há também muitas críticas ao Brasil e aos brasileiros. Quase não há defesa da mídia.

O resultado não pode ser comparado com pesquisas realizadas por institutos sérios, uma vez que não há representação homogênea da sociedade. O que existem são respostas de uma fatia bem específica: leitores da coluna e, entre esses, aqueles que se dispuseram a responder.

Mas essa enquete não teve fins acadêmicos. Como escrevi no último domingo, serve apenas para ler opiniões diferentes. O ponto mais surpreendente é mesmo a descrença na mídia. Ela aparece em várias respostas. Pergunta: por que 73% dos americanos apoiam a guerra? Respostas da maioria: porque a mídia (americana) é manipulada pelo governo; porque a mídia faz uma lavagem cerebral nos leitores/ouvintes/telespectadores.

Pergunta: você confia no relato dos jornalistas "embutidos" (embedded, que acompanham as tropas no campo de batalha)? Resposta: não. Nenhum é isento. Jornalista não deveria se misturar com soldado.

Mais que ficar comentando, vale a pena ler algumas respostas.

Sobre jornalistas: "500 jornalistas embutidos e zero jornalistas independentes é assustador. Jornalismo tem a ver com equilíbrio e imparcialidade. Coisas difíceis de se manter quando você vira soldado-repórter", escreveu Oscar Begambre, um colombiano que vive no Brasil.

Sobre brasileiros e americanos: (O brasileiro é contra a guerra) "porque tem um complexo hemorrágico de inveja em relação ao americano. Os USA são um país que dá certo e toda a sua população tira proveito disso. O Brasil é o pais que sempre deu errado e vai dar errado por muitas gerações ainda. O americano vai do outro lado do mundo brigar pelos seus interesses, o brasileiro só senta no rabo, assiste à Globo e não briga por seus direitos mais elementares e básicos", escreveu Lauro Guimarães.

Já Bianca Ribeiro, de Jerusalém, pensa o seguinte: "O brasileiro não tem motivos, nem obrigação de apoiar a guerra. Pacífico, e passivo, por natureza, a guerra não faz parte da realidade nacional. E embora o Brasil siga, por indução, muitos padrões americanos, prefere estar ao lado da maioria quando tem o beneficio do livre arbítrio".

Jeff Zimmerman, que mora na Pennsylvania, EUA, preferiu ser irônico sobre proposta de boicote a produtos americanos. "Claro que devem parar de beber Coca-Cola e comer um lanche em McDonalds. Isso é fácil. Mas devem também parar de usar invenções americanas como a internet e os computadores. Devem tirar todos os componentes americanos dos seus carros. Os carros não funcionarão, mas é importante mandar uma mensagem para os americanos. Os aidéticos e os que padecem de câncer devem parar de tomar remédios que foram desenvolvidos por companhias americanas. Eles vão falecer mais rapidamente, mas é importante ser fiel aos princípios. Devem parar de fazer viagens em avião e a Embraer tem que parar de usar tecnologia e componentes americanos nos jatos que fabrica. Melhor visitar outros países em barco, sempre que não for barco americano. As brasileiras devem recusar o silicone para as plásticas que fazem. Ser peituda deve ser um claro e descarado apoio às Forças da Coalizão. Os brasileiros absolutamente tem de boicotar qualquer empresa que use o inglês no marketing, quer dizer, na propaganda. E devem inventar outra palavra para substituir o boicotar. Como sabemos, essa palavra vem do inglês. Finalmente, os boicoteiros devem pedir ao governo brasileiro que devolva ao FMI todos os dólares emprestados nos últimos anos".

Fábio Peres da Silva usa raciocínio semelhante, mas em sentido contrário. Eles diz que se os americanos boicotam produtos franceses, deveriam também deixar de usar os algarismos arábicos e devolver a estátua da Liberdade, presente da França.

As respostas dos leitores estão nas páginas indicadas abaixo. Foram excluídas as mensagens que traziam comentários genéricos, que não se atinham às perguntas. Também ficaram de fora aquelas que não permitiam a identificação do remetente.

Todas estão ordenadas por ordem de envio. Como há desconfiança com relação à mídia, elas não foram editadas. Estão como os leitores enviaram. Como numa espécie de fórum de discussões, não me responsabilizo pelas opiniões emitidas.

Agradeço a todos.


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Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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