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16/06/2003 - 04h58

Cidade "sem maridos" quer esposar turismo

ISRAEL DO VALE
Enviado especial da Folha de S.Paulo ao México

A octogenária de manta nas costas caminha, pé ante pé, no adro da pequena capela de Santiago Apóstol, no povoado de Tupátaro, arredores de Morelia. A sobreposição de roupas típicas da mulher mexicana de origem indígena parece pesar, como o acúmulo dos anos. Pede uma moeda. Na atual condição, depende muito da benemerência dos turistas eventuais.

Dona Erlinda Nambo Rosas trabalhou com costura enquanto as mãos foram firmes. O marido, camponês, já não tem forças para a labuta na terra. Os filhos, sem perspectivas de emprego ali, seguiram todos para os EUA.

A lógica é a mesma dos contextos de guerra. Os homens vão para a batalha, onde quer que seja o front, e deixam as mulheres à espera de notícias --nesse caso, a de um ganha-pão fixo. Foi o que fez do vilarejo um lugar habitado quase somente por mulheres.

"Sem marido"

É um quadro comum em Michoacán. O drama das "sem marido" michoacanas foi retratado no ano passado pelo documentário "Seen, but not Heard - Rostros sin Voz", em que Calogero Salvo, venezuelano radicado nos EUA desde 1988, recompõe, a partir de relatos das ex-companheiras, a situação de quatro trabalhadores mexicanos em condição ilegal, mortos no atentado do World Trade Center, em 2001.

Fala-se que há tantos michoacanos vivendo no exterior quantos há na terra natal --o que faz do Estado um equivalente mexicano da nossa Governador Valadares.

Tupátaro tem poucos atrativos. Mas a acanhada igreja erguida em adobe, com o retábulo em madeira do altar dourado e o teto de tábuas pintado em tons fortes no século 18 (e que lhe confere o epíteto de "Capela Sistina da América") pode sim ser fonte de dinheiro. Por ora, o movimento não animou nenhum morador a abrir uma única "tienda" ao lado.

Michoacán é um Estado agrário. Parte considerável do comércio pelo interior está atrelada ao turismo --em geral, associado às marcas do evangelizador, que palmilhou a região desde o século 16, demarcando seu rastro com igrejas muitas vezes portentosas.

Assim é em Pátzcuaro, fincada ao sul do lago de mesmo nome. Primeira capital do Estado, até a transferência para a então Valladolid (hoje Morelia), ela ostenta ainda hoje uma praça descomunal, cercada de casario preservado, tomado por pequenas lojas de artesanato em tecido, madeira ou ferro comum ao lugar e de lembrancinhas feitas a granel.

Lá, o grande atrativo é a monumental basílica de Nuestra Señora de la Salud, onde se encontra o túmulo do bispo Vasco de Quiroga, personagem de extrema importância na bem-sucedida investida espanhola sobre a região.

Clássico mexicano

Mais ao norte de Michoacán, quase na divisa com o Estado do México, o acanhado povoado de Tlalpujahua esconde um dos templos católicos mais vistosos da região. Erguido como capela, no século 16, e depois ampliado para abrigar um antigo convento, o Santuario de la Virgen del Carmen tomou a atual forma barroca no século 18, mas a decoração em estilo "clássico mexicano" só nasceu no início do século passado, pelas mãos de Joaquín Orta, artista da própria cidade.

É o grande atrativo da cidade de moradores de origem mazahua, surgida a reboque da exploração de minério. A localização, aliás, fez dela palco constante de batalhas: fica nos limites dos territórios dos arquiinimigos purépecha e asteca.


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