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16/06/2003 - 05h16

Aqueduto em Morelia é obra da igreja

Do enviado especial da Folha de S.Paulo ao México

O núcleo histórico de Morelia é símbolo de uma trajetória construída sobre os escombros morais de sucessivos golpes, rebeliões e execuções. Cenário e agente de marcos como a independência do país, em 1810, a cidade revela, a cada passo dado pelo visitante, um momento ou um personagem determinante para a conformação do México de hoje --seja nos templos e seminários católicos onipresentes, seja no muralismo de artistas como Alfredo Zalce (1908-2003), tido como um dos principais herdeiros do legado de Diego Rivera, morto em janeiro.

Há, contudo, um aspecto que chama especialmente a atenção: o papel determinante da igreja em momentos-chave do desenvolvimento econômico ou das mudanças políticas atravessadas ao longo dos séculos.

Face aparente desse poderio, as catedrais e capelas espalhadas por Morelia (e, de resto, por todo o Estado) guardam, nos blocos de pedra de cantaria rosa de suas paredes, o peso de cúmplices da história. Não como testemunhas de episódios marcantes, apenas, mas como definidoras do que viria a ser, por exemplo, o riscado urbano de Morelia.

Apenas para ilustrar: um dos atrativos evidentes da cidade é seu aqueduto, uma sucessão incrível de arcos (253, ao todo) que se estende por 1,7 quilômetros. Não bastasse o apelo natural de uma obra por si só chamativa, ela se reveste de significado quando se sabe o que a gerou.

Corre a segunda metade do século 18. Os habitantes de Morelia vivem um momento crítico de falta de opções de trabalho. De outro lado, o problema crônico de abastecimento de água atinge níveis insuportáveis.

Bingo! O bispo Antonio de San Miguel junta as duas pontas do problema e sai em busca de fundos para erguer o aqueduto, que esteve em operação por 125 anos, até 1910. Faz, em nível regional e mais de um século antes, uma versão mexicana do New Deal de Franklin Roosevelt -se não há trabalho, crie-se (ou financie-se) frentes que absorvam a mão-de-obra desocupada.

É só um exemplo prático da postura ativa da igreja de então, numa fase em que ela e o Estado se confundiam. Não quer dizer que tenha sido sempre assim. O relacionamento amistoso entre as partes, com a anuência dos fidalgos crioulos (como eram chamados os espanhóis radicados na colônia), era favorecido pela falta de um Exército regular no século 17.

O caldo começou a entornar na segunda metade do século seguinte, a partir do descontentamento com o cerco crescente da Coroa espanhola --leia-se, com o sucessivo aumento de impostos. O desfecho de sucessivos desentendimentos foi a expulsão dos jesuítas pela Coroa, em 1767.

Com a Espanha tomada por Napoleão em 1808, criou-se o contexto ideal para insurreições. E elas vieram por mãos "abençoadas". O primeiro a incitar os mexicanos a pegar em armas é o padre Miguel Hidalgo, em 1810.

A rebelião é controlada, e Hidalgo, executado um ano depois. Outro padre assumiria as rédeas em 1814: José María Morelos -tido como grande mártir da independência e fonte inspiradora do nome de Morelia, ainda então chamada de Valladolid. A independência só viria em 1821, seis anos após a execução de Morelos.

Entre a independência e a Revolução de 1910 (em reação à 17ª! reeleição de Porfírio Díaz), houve mais turbulências -inclusa aí uma segunda tentativa de imposição de monarquia, após o breve período do autoproclamado imperador Agustín de Iturbide, de 1821 a 1823. A nova investida não-republicana resultou em mais um "paredón", em 1867, do arquiduque austríaco Maximiliano de Habsburgo (imagem retratada numa obra de Édouard Manet).

Parte desta trajetória de conflitos é contada visualmente em murais como o que Zalce deixou em 1962 nas paredes do atual Palácio do Governo, antigo seminário de San Pedro, construído em 1732 no centro histórico moreliano --e aberto à visitação também para os que não privam de audiência com o governador michoacano, Lázaro Cárdenas Batel, neto do ex-presidente Cárdenas.


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