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12/01/2006
-
14h40
Colaboração para a Folha de S.Paulo, na Antártida
Quando se adentra a península da Antártida, as paisagens revelam-se surpreendentes. O cenário é cativante, e o viajante se depara com uma sinfonia de vida em que não cabe comentário, só admiração. Some-se a isso o longo período de luz solar que há no verão nessas latitudes. Nos meses de janeiro e fevereiro, a noite só é presente no relógio --à meia-noite, o horizonte ainda está iluminado pelos raios do sol. A madrugada começa avermelhada e termina amarela, em pouquíssimas horas.
Quem precisa de escuridão para dormir deve arrumar as cortinas. Se mesmo assim o sono não vingar, as calmas águas antárticas podem ajudar a difícil tarefa de cair nos braços de Morfeu. No mar não há ondas nem marolas, e tem-se a sensação de que o barco não está navegando. Os canais tranqüilos viram espelhos-d'água e, ao olhar de ponta-cabeça, as paisagens são iguais, tanto a verdadeira quanto a refletida.
O barco navega em silêncio total pelos canais Errera, Danco e Cuverville; passa-se ao longo da ilha Rongé e de Neko Harbour e penetra-se o canal Lemaire. Há, entretanto, um lugar inesquecível: baía Paradise. Ali há icebergs, gigantescas montanhas cobertas de gelo, paredões de neve, geleiras, dezenas de pingüins pulando nas águas, gaivotas, petréis, skuas e pombas antárticas, que brincam com as correntes quentes de ar que o navio deixa; encontra-se ainda alguma baleia finn, a mais vista por esses lugares, ou alguma orca, que nos deixa absortos e imóveis nas varandas do barco.
Outro momento memorável é a visita à ilha Deception. Tudo aqui causa surpresa, começando pelo único vulcão ativo do mundo em cuja cratera se pode entrar navegando. Sua última erupção foi em 1970 e destruiu completamente a base chilena Pedro Aguirre Cerda.
Hoje é possível "apreciar" parte dos estragos que a erupção produziu caminhando na praia da baía Whaler, onde há pequenos navios e um trator coberto por mais de um metro de cinzas vulcânicas --o cemitério do lugar simplesmente ficou submerso nelas. Mas o marcante dessa visita é o batismo antártico: um bom banho de praia em pleno pólo Sul.
Não acredita? As fotos não mentem. A explicação dessa inverossímil experiência é simples: o magma está em total atividade. Isso faz que essa massa incandescente no fundo esquente as águas que emergem até a superfície.
Na praia da baía de Whaler, basta fazer um buraco: ele se enche de água do mar bem quentinha. Em outro lugar, na baía do Telefone, nem é preciso cavar. Basta entrar no mar, em pontos onde há traços de fumaça. As águas estão deliciosamente mornas.
Há vários passeios e paradas interessantes. Na base ucraniana de Vernadsky, além do golinho de vodca, podem-se comprar "matriushkas" de pingüim feitas pelo pessoal da base nos longos invernos, enviar postais com carimbo que prova sua estadia na Antártida e, claro, caminhar nas redondezas, onde pingüins-de-papua e adelie descansam.
Em Port Lockroy, uma base inglesa virou museu. Essa é uma viagem ao passado, já que tudo ali é dos anos 50 e 60, dos talheres ao fogão, do rádio às fotos de Doris Day na sala. Na viagem de volta, cruza-se o mítico mar de Drake, famoso por suas revoltas águas. Os estabilizadores de barcos neutralizam o mau humor do Drake. O navio ancora em Ushuaia, na Argentina.
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JAIME BÓRQUEZColaboração para a Folha de S.Paulo, na Antártida
Quando se adentra a península da Antártida, as paisagens revelam-se surpreendentes. O cenário é cativante, e o viajante se depara com uma sinfonia de vida em que não cabe comentário, só admiração. Some-se a isso o longo período de luz solar que há no verão nessas latitudes. Nos meses de janeiro e fevereiro, a noite só é presente no relógio --à meia-noite, o horizonte ainda está iluminado pelos raios do sol. A madrugada começa avermelhada e termina amarela, em pouquíssimas horas.
Quem precisa de escuridão para dormir deve arrumar as cortinas. Se mesmo assim o sono não vingar, as calmas águas antárticas podem ajudar a difícil tarefa de cair nos braços de Morfeu. No mar não há ondas nem marolas, e tem-se a sensação de que o barco não está navegando. Os canais tranqüilos viram espelhos-d'água e, ao olhar de ponta-cabeça, as paisagens são iguais, tanto a verdadeira quanto a refletida.
O barco navega em silêncio total pelos canais Errera, Danco e Cuverville; passa-se ao longo da ilha Rongé e de Neko Harbour e penetra-se o canal Lemaire. Há, entretanto, um lugar inesquecível: baía Paradise. Ali há icebergs, gigantescas montanhas cobertas de gelo, paredões de neve, geleiras, dezenas de pingüins pulando nas águas, gaivotas, petréis, skuas e pombas antárticas, que brincam com as correntes quentes de ar que o navio deixa; encontra-se ainda alguma baleia finn, a mais vista por esses lugares, ou alguma orca, que nos deixa absortos e imóveis nas varandas do barco.
Outro momento memorável é a visita à ilha Deception. Tudo aqui causa surpresa, começando pelo único vulcão ativo do mundo em cuja cratera se pode entrar navegando. Sua última erupção foi em 1970 e destruiu completamente a base chilena Pedro Aguirre Cerda.
Hoje é possível "apreciar" parte dos estragos que a erupção produziu caminhando na praia da baía Whaler, onde há pequenos navios e um trator coberto por mais de um metro de cinzas vulcânicas --o cemitério do lugar simplesmente ficou submerso nelas. Mas o marcante dessa visita é o batismo antártico: um bom banho de praia em pleno pólo Sul.
Não acredita? As fotos não mentem. A explicação dessa inverossímil experiência é simples: o magma está em total atividade. Isso faz que essa massa incandescente no fundo esquente as águas que emergem até a superfície.
Na praia da baía de Whaler, basta fazer um buraco: ele se enche de água do mar bem quentinha. Em outro lugar, na baía do Telefone, nem é preciso cavar. Basta entrar no mar, em pontos onde há traços de fumaça. As águas estão deliciosamente mornas.
Há vários passeios e paradas interessantes. Na base ucraniana de Vernadsky, além do golinho de vodca, podem-se comprar "matriushkas" de pingüim feitas pelo pessoal da base nos longos invernos, enviar postais com carimbo que prova sua estadia na Antártida e, claro, caminhar nas redondezas, onde pingüins-de-papua e adelie descansam.
Em Port Lockroy, uma base inglesa virou museu. Essa é uma viagem ao passado, já que tudo ali é dos anos 50 e 60, dos talheres ao fogão, do rádio às fotos de Doris Day na sala. Na viagem de volta, cruza-se o mítico mar de Drake, famoso por suas revoltas águas. Os estabilizadores de barcos neutralizam o mau humor do Drake. O navio ancora em Ushuaia, na Argentina.
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