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23/03/2006
-
09h16
Enviada especial da Folha de S.Paulo ao Canadá
Um edifício sem nenhuma singularidade arquitetônica abriga em Montréal cerca de 1.800 empregados de uma das mais prósperas empresas canadenses. É o Cirque du Soleil.
Parece esquisito associar de modo positivo o nome de um país a um empreendimento circense. Mas é provável que nenhum produto cultural tenha rendido à Província de Québec e ao Canadá uma imagem tão elegante.
O Circo do Sol (em tradução) foi criado em 1984 na cidadezinha de Baie-Saint-Paul e, na época, contratado pelo governo para excursionar na comemoração dos 450 anos da descoberta do Canadá pelo francês Jacques Cartier.
Ele tem hoje 3.000 funcionários, entre os quais 900 artistas, de 40 nacionalidades. Será visto neste ano por 6 milhões de pessoas. São 13 elencos simultâneos, seis em constantes excursões --há uma escala programada para São Paulo, sem data definida-- e sete outros em locais permanentes, como Las Vegas e Orlando (EUA).
De certo modo, o Cirque du Soleil tirou proveito de uma reviravolta na concepção dessa forma de espetáculo. Ela já vinha sendo esboçada em Barcelona (Espanha) e em Bruxelas (Bélgica). Consistia em deixar de fora os exotismos do século 19 --bichos de regiões colonizadas pelos europeus-- e centrar o espetáculo na dança e no malabarismo, tirando proveito da boa música ao vivo e da nova linguagem de iluminação produzida pelo teatro.
Uma última característica: o artista de circo não pertence mais a uma família que transmite as técnicas ao longo das gerações. É um profissional formado em escola. Foram os russos, no período soviético, que "democratizaram" o acesso às artes do circo.
Em Montréal há uma Escola Nacional de Circo, um prédio moderno de 7.000 m2, que forma 20 alunos por ano. Seu curso equivale, dentro do sistema educacional de Québec, aos três anos que precedem o ingresso à universidade. Ou então ao curso de uma escola técnica, profissionalizante, diz seu diretor, Marc Lalonde.
Não há estatísticas internacionais sobre o mercado de trabalho para o artista de circo. Mas Lalonde acredita que ele esteja sendo hoje mais bem remunerado que um músico de orquestra sinfônica ou integrante de uma companhia de dança, o que, em termos americanos ou europeus, equivaleria a um piso mensal de US$ 3.500.
Na escola de Montréal os estudantes têm disciplinas comuns a qualquer outro estabelecimento, como francês, matemática e química. Mas têm obrigatoriamente uma carga de 17 horas semanais de exercícios.
Nessa faixa de ensino, as matérias são equilíbrio, acrobacia no solo e aéreas (trapézio, por exemplo), manipulação e humor.
A Escola Nacional de Circo forma palhaços. Mas não forma mágicos, algo muito íntimo e complicado para um sistema institucionalizado de ensino.
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JOÃO BATISTA NATALIEnviada especial da Folha de S.Paulo ao Canadá
Um edifício sem nenhuma singularidade arquitetônica abriga em Montréal cerca de 1.800 empregados de uma das mais prósperas empresas canadenses. É o Cirque du Soleil.
Parece esquisito associar de modo positivo o nome de um país a um empreendimento circense. Mas é provável que nenhum produto cultural tenha rendido à Província de Québec e ao Canadá uma imagem tão elegante.
Reuters |
Pedestres passam por estátua no centro de Montréal |
Ele tem hoje 3.000 funcionários, entre os quais 900 artistas, de 40 nacionalidades. Será visto neste ano por 6 milhões de pessoas. São 13 elencos simultâneos, seis em constantes excursões --há uma escala programada para São Paulo, sem data definida-- e sete outros em locais permanentes, como Las Vegas e Orlando (EUA).
De certo modo, o Cirque du Soleil tirou proveito de uma reviravolta na concepção dessa forma de espetáculo. Ela já vinha sendo esboçada em Barcelona (Espanha) e em Bruxelas (Bélgica). Consistia em deixar de fora os exotismos do século 19 --bichos de regiões colonizadas pelos europeus-- e centrar o espetáculo na dança e no malabarismo, tirando proveito da boa música ao vivo e da nova linguagem de iluminação produzida pelo teatro.
Uma última característica: o artista de circo não pertence mais a uma família que transmite as técnicas ao longo das gerações. É um profissional formado em escola. Foram os russos, no período soviético, que "democratizaram" o acesso às artes do circo.
Em Montréal há uma Escola Nacional de Circo, um prédio moderno de 7.000 m2, que forma 20 alunos por ano. Seu curso equivale, dentro do sistema educacional de Québec, aos três anos que precedem o ingresso à universidade. Ou então ao curso de uma escola técnica, profissionalizante, diz seu diretor, Marc Lalonde.
Não há estatísticas internacionais sobre o mercado de trabalho para o artista de circo. Mas Lalonde acredita que ele esteja sendo hoje mais bem remunerado que um músico de orquestra sinfônica ou integrante de uma companhia de dança, o que, em termos americanos ou europeus, equivaleria a um piso mensal de US$ 3.500.
Na escola de Montréal os estudantes têm disciplinas comuns a qualquer outro estabelecimento, como francês, matemática e química. Mas têm obrigatoriamente uma carga de 17 horas semanais de exercícios.
Nessa faixa de ensino, as matérias são equilíbrio, acrobacia no solo e aéreas (trapézio, por exemplo), manipulação e humor.
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