Crítica - Drama
Cantinflas ganha uma biografia convencional de direção burocrática
Filme sobre o grande comediante mexicano não sabe incorporar postura indomável que marca vida do ator
Das muitas facetas do ator mexicano Mario Moreno (1911-1993) exploradas em "Cantinflas", aquela que desponta como a mais interessante e relevante é a do improvisador nato.
Do comediante indomável que briga com seus parceiros do teatro de variedades e depois com os diretores de seus filmes para deixar de lado o texto, as formalidades, e criar livremente falas e situações.
Nesse sentido, Cantinflas provavelmente não gostaria de trabalhar no longa "Cantinflas" --produção mexicana indicada oficialmente para concorrer a uma vaga no próximo Oscar.
O filme tem a marca da convenção e o peso da grande produção, com diálogos rígidos e marcações engessadas. Além disso, a ênfase na reconstituição de época e a direção burocrática de Sebastián del Amo delimitam a liberdade dos atores.
O fio condutor do filme é o esforço do produtor americano Mike Todd (Michael Imperioli) para levantar a produção de "A Volta ao Mundo em 80 Dias" (1956), que daria um Globo de Ouro a Moreno (Óscar Jaenada) e consolidaria sua fama para além das fronteiras mexicanas.
Mas, em uma série de longos flashbacks, o filme mostra os principais momentos da trajetória de Moreno até esse momento.
MAZZAROPI MEXICANO
Primeiro, a estreia do garoto humilde no teatro de variedades, a descoberta por um produtor russo, a invenção do personagem Cantinflas --o matuto esperto que lembra mais o nosso Mazzaropi do que o Carlitos de Chaplin.
E, então, o casamento com uma colega russa de palco, o triunfo no cinema nos anos 40 e 50, a briga com os grandes produtores mexicanos, a riqueza, a soberba, as amantes e o posto de maior ídolo popular do México.
Dentro de uma trajetória tão rica, o filme faz a curiosa opção de eleger como momento fundamental a consagração em Hollywood --e de elevar a coprotagonista um produtor americano.
Mais curioso ainda é que os nacionalistas mexicanos protestaram contra outro fato: a escolha do ator espanhol Jaenada para encarnar um símbolo de seu país.
No final das contas, o espanhol --além da impressionante semelhança física com Cantinflas-- se revela a melhor coisa do filme.
Uma prova de que por vezes o nacionalismo mira o colonizador errado.