crítica filme/documentário
Didático em excesso, filme vale como bom registro de Sabotage
Sem questionamentos, documentário de Ivan 13P é escancaradamente um tributo ao artista, morto em 2003
Filmes sobre a cultura do rap e do hip-hop são raros no Brasil. Para um gênero musical tão importante, ele foi pouco documentado. Por isso, "Sabotage: o Maestro do Canão" é muito bem-vindo.
Dirigido por Ivan 13P, o longa conta a vida de Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage (1973-2003), considerado um dos maiores rappers do país. Traz entrevistas com familiares, amigos e colaboradores, além de cenas de arquivo e entrevistas com o rapper.
Também são entrevistados artistas que trabalharam com Sabotage no cinema, como Héctor Babenco, que o dirigiu em "Carandiru" (2003), e o cineasta Beto Brant e o músico Paulo Miklos, que trabalharam com o rapper no filme "O Invasor" (2001).
Alguns dos depoimentos mais reveladores são de outros nomes importantes do rap --Rappin' Hood, Mano Brown, Thaíde-- que falam da admiração que tinham por Sabotage. Mesmo leigos conseguem entender que o rapper tinha, de fato, algo a mais.
O filme é, escancaradamente, um tributo ao rapper. Não há nenhum questionamento sobre o fato de ele ter, durante parte da vida, relação com o tráfico de drogas. Seu assassinato a tiros é mencionado, mas o assunto morre por ali.
O documentário é um tanto prolixo, com algumas entrevistas redundantes e que se estendem mais que o necessário. Uma boa edição tiraria a gordura dos quase 110 minutos de filme, tornando-o mais dinâmico e intenso.
O longa também sofre de um certo didatismo, inclusive com um desenho animado que conta sua vida. A história é emocionante --criado pela mãe depois que o pai abandonou a família, e com um irmão preso por tráfico e depois assassinado--, mas o recurso tira muito da emoção. Mesmo assim, vale como registro de um importante artista brasileiro. (ANDRÉ BARCINSKI)