crítica artes visuais
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Exposição espelha descaso de próprio museu
'Museu Dançante' é bom título para péssima mostra que reúne acervo do MAM e bailarinos da SP Companhia de Dança
"Museu Dançante" é um bom título para uma péssima exposição. Primeiro, engana o público em relação à própria condição da mostra. Há dança, mas ela ocorre ocasionalmente, quando acontecem os ensaios da SPCD (São Paulo Companhia de Dança), na sala Paulo Figueiredo.
A questão é: se a mostra se propõe a abordar questões do movimento, como afirmam os curadores Felipe Chaimovich, diretor do museu, e Inês Bogéa, da SPCD, ela deveria ser mais dinâmica do que ocorre com a seleção exibida a partir do acervo do MAM.
Na exposição, até há obras que se movimentam, como a "Bolha Vermelha" (1968), de Marcello Nitsche, ou mesmo "Templo" (2000), de Franklin Cassaro. Mas não é suficiente. Como é possível falar de museu dançante sem usar os "Parangolés" de Hélio Oiticica, por exemplo?
O MAM tem um programa que visa exibir seu acervo e é aí que se insere "Museu Dançante". Contudo, com tal estratégia, acaba organizando mostras que ficam no meio do caminho: introduzem um assunto, mas não conseguem explorá-lo de forma adequada.
MERA CORTINA
A fraqueza conceitual se torna mais visível com a problemática montagem da mostra. Ela reutiliza as cortinas de alumínio de Daniel Steegmann Mangrané, do Panorama da Arte Brasileira de 2013, e, em vez de manter a transparência no espaço expositivo, ela é fracionada por outro trabalho de grande porte, "Máquina Curatorial", de Nicolás Guagnini, do Panorama de 2009.
Assim, a obra de Mangrané fica espremida, transformando-se em mera cortina.
Lamentável ainda é o fim da mostra, em que "Cavalo Branco" (1968), de Sandra Cinto, está disposto em um local de passagem, com caixas e mesas amontoadas como cenário. Difícil encontrar falta de respeito maior a uma obra.
DESCASO
Enquanto instituições importantes da cidade passam por novas configurações, o MAM segue com um programa irregular. "Museu Dançante" é representativo do descaso em que o próprio museu se encontra.
A prorrogação da mostra por mais três meses, por conta do cancelamento da vinda de uma mostra do Guggenheim de NY, é exemplo disso: como um museu não possui um plano B em casos assim?