Mostra traz 17 filmes de François Truffaut
Caixa Belas Artes exibe cópias restauradas de produções como 'O Homem que Amava as Mulheres' e 'Jules e Jim'
O ícone da nouvelle vague 'amava suas obras como se fossem filhos', diz o biógrafo Antoine de Baecque
François Truffaut gostava de dizer que seus filmes deveriam passar a impressão "de terem sido filmados com 40ºC de febre". Trinta e um anos após sua morte (aos 52, vítima de um tumor cerebral), o cineasta continua a ser cultuado por hordas cinéfilas como um dos mais apaixonados da nouvelle vague francesa.
A mostra A Nova Onda de François Truffaut, que começa nesta quinta (17) e vai até o dia 30 no Caixa Belas Artes, traz cópias digitais restauradas de 17 dos 26 filmes que ele dirigiu. O legado do realizador também é contado em exposição no MIS (Museu da Imagem e do Som) paulista, em cartaz até o dia 18 de outubro.
Com Jean-Luc Godard, Truffaut liderou o movimento de filmes de baixo orçamento e argumentos intimistas. Ganhou o prêmio de direção no Festival de Cannes com sua estreia em longas, que eram um tanto autobiográficos: "Os Incompreendidos" (1959), que no título original ("Les 400 Coups") se refere aos "golpes" de um adolescente rebelde.
É a primeira de cinco produções da saga "Antoine Doinel", que conta a história de seu personagem predileto, vivido por Jean-Pierre Léaud. (O segundo capítulo, "Antoine e Colette", ficou de fora da mostra.)
Como Antoine, Truffaut também foi um "garoto problema", com passagem por reformatórios. A essência de seu cinema se embaralha com sua saga pessoal, que dava "um romance de Charles Dickens", diz Serge Toubiana, coautor da biografia "François Truffaut" com Antoine de Baecque.
Sem conhecer o pai, ele praticava pequenos furtos na juventude e (seu crime maior) matava aula para ir ao cinema –abandonou a escola aos 14.
Começou no meio como crítico dos "Cahiers du Cinéma". Tinha fama de "polemista fervoroso" e atacou ícones dos anos 50, como René Clément, diz Baecque, ex-redator-chefe dos "Cahiers". "Ele não concebia uma opinião sem este espírito: 'É preciso amar ou detestar sem reservas'."
Como cineasta, construiu uma imagem mais afável.
"Truffaut amava todos os seus filmes como se fossem seus filhos", afirma Baecque. Defendia sobretudo "obras que considerava mais frágeis e subestimadas", como "As Duas Inglesas e o Amor" (1971).
"Mas não guardava boas lembranças de algumas falhas como 'Atirem no Pianista', e de filmagens como 'Fahrenheit 451', feito em inglês, que compreendia mal", diz o biógrafo.
"E ele ficava muito ansioso, e muitas vezes pensava que falharia, em filmes como 'Jules e Jim', 'A Criança Selvagem' e 'O Último Metrô', sucessos inesperados que para ele foram uma surpresa divina."
A NOVA ONDA DE FRANÇOIS TRUFFAUT
QUANDO de 17/9 a 30/9
ONDE Caixa Belas Artes, r. da Consolação, 2.423, tel. 2894-5781
QUANTO R$ 7 a R$ 50 (passaporte para cinco filmes)