Pé no freio
Aceleradoras de negócios investem em serviços de educação e consultoria para novos empresários
Aceleradoras de negócios são formadas por investidores interessados em ajudar start-ups (empresas iniciantes de tecnologia) a crescer para lucrar depois, quando as companhias são vendidas ou faturam alto. Mas, no Brasil, o mercado está andando mais devagar do que o esperado, o que as força a buscar alternativas para ter receita.
Humberto Matsuda, conselheiro da ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital), diz considerar ter havido um choque de realidade no setor, que passou por um momento de otimismo exagerado.
A principal saída adotada tem sido oferecer serviços de educação para futuros empreendedores, universidades ou empresas.
Trata-se de um recurso que vem de forma mais garantida do que na arriscada espera pelo sucesso de uma start-up -as aceleradoras investem entre R$ 20 mil e R$ 50 mil em cada negócio e dão mentoria e estrutura física às iniciantes em troca de uma participação acionária. Depois, torcem para que ela dê certo.
A aceleradora carioca 21212, a capixaba Start You Up, a mineira Acelera MGTI e a gaúcha Estarte.me estão estruturando programas assim.
"Quando fizemos nosso primeiro Demo Day [evento para mostrar as empresas aceleradas ao mercado], em 2011, ele foi falado em inglês para cem investidores estrangeiros. Nosso último, no final de 2013, foi em português, porque eles não estavam mais interessados", diz Frederico Lacerta, 28, sócio da 21212.
Ele diz acreditar que a mudança no cenário se deve a dois principais fatores: empreendedores com boas ideias, mas ainda carentes de experiência, e a piora no cenário econômico brasileiro,que afugentou investidores.
Da primeira turma do grupo, formada em 2011 por oito empresas, uma sobreviveu.
A 21212 Academy, que deve começar a funcionar em novembro, atualmente está recebendo inscrições de interessados e deve combinar conteúdo on-line com encontros presenciais. Ainda não estão definidos os preços e formatos das aulas.
Na Aceleratech, a opção para aumentar a rentabilidade no curto prazo foi desenvolver uma forma de atender grandes empresas.
A parceria pode incluir a seleção de start-ups para receber investimento de grandes empresas ou oferecer aconselhamento a profissionais dessas corporações que estejam desenvolvendo projetos. Dependendo do caso, a Aceleratech pode colocar dinheiro nessas ideias também.
Pedro Waengertner, 37, sócio do grupo, conta que duas acelerações nesse modelo estão em andamento e a terceira em negociações avançadas. Ele não revela para quem está prestando esse serviço.
MENOS RISCO
Outras tendências do mercado são a busca por start-ups em um estágio de desenvolvimento mais avançado do que nos anos anteriores, com modelo de negócios bem estruturado e, de preferência, já pagando suas próprias contas. A procura ativa pelos candidatos, mais do que a recepção e análise passiva dos currículos, também tem sido mais frequente.
"No ecossistema brasileiro atual, nosso trabalho não é criar empresas bonitinhas, que resolvem problemas de primeiro mundo do tipo 'como achar aquela menina da balada', mas que não sabem como ganhar dinheiro. Precisamos de empresas que vão faturar", diz Waengertner
A 21212 também passou a focar em menos e melhores empresas. No início, a meta era acelerar 30 empresas por ano. Agora são dez.