Quase Parando
Desaceleração dos reajustes, que foram os menores desde 2010, é prenúncio de ano difícil nas negociações
Os profissionais da Grande São Paulo tiveram, em média, o menor aumento salarial real desde 2010. O reajuste foi de 7,32% e a inflação medida pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, de 5,20%, o que dá um aumento real de 2,12% -em 2013, havia sido 3,83%.
Os dados são da pesquisa Bolsa de Salários, do Datafolha, que analisa 350 cargos e 130 empresas na região.
A desaceleração acompanha os maus resultados da economia e deve se aprofundar neste ano, diz Airton dos Santos, coordenador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
"O governo deve aumentar impostos e juros, cortar subsídios e desvalorizar o real para reajustar a economia. São medidas recessivas", diz.
Na avaliação de José Augusto Figueiredo, presidente no país da consultoria de recursos humanos LHH, a desaceleração de 2014 deve ser seguida por um breque mais forte neste ano.
"Será algo como: 'Se eu sobreviver a 2015 no meu emprego, está bom'. Setores acostumados a ganhar aumento salarial em tribunal terão que ganhar em greve."
No ano passado, a indústria fechou 163,8 mil vagas, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) -só o segmento de bebidas e alimentos não fechou o ano com menos empregados.
Esse cenário se refletiu no salário dos gerentes industriais, que tiveram ajuste de 4,65% em 2014, o menor índice no grupo de diretores e gerentes.
Na outra ponta está o setor comercial, que teve aumento salarial de 10,33%. Ele foi turbinado, no entanto, pela falta de acordos salariais em 2013, o que represou o ajuste para 2014, afirma Silvio José Fernandes, coordenador de projetos do Datafolha. Em 2013, comércio havia sido o setor com os piores reajustes.
Mas, para grande parte dos vendedores, o salário é uma parcela da remuneração menos importante do que a comissão em vendas. Assim, o mau desempenho do varejo significou, para muitos, ganhos na prática menores (leia ao lado).
GRANDES X PEQUENOS
Em 2014, aqueles com cargos e salários altos e sindicatos relativamente pequenos viram colegas da base receberem ajustes melhores. Enquanto um coordenador de obras teve aumento de 1,9%, um ajudante de pedreiro teve ganho de 11,24%.
Isso ocorreu porque o Sintracon-SP (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de SP), que representa a base do setor, fechou um acordo que prevê aumentos acima da inflação apenas para quem ganha até R$ 8.000.
"Estamos já há dois anos em crise e fizemos um acordo para proteger quem ganha menos", diz Antonio de Sousa Ramalho, presidente do sindicato. De acordo com dos Santos, do Dieese, a economia desacelerada deve contribuir para mais resoluções do tipo em 2015.
Argumentando que os trabalhadores que ganham mais foram escanteados da negociação e têm direitos iguais, o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo entrou com uma ação na Justiça contestando o acordo entre e Sintracon e o Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil de SP).
É esperada uma resolução até março deste ano, diz o presidente da entidade, Murilo França Pinheiro. "Engenheiro é um trabalhador como qualquer outro."