Fazer resenhas falsas de produtos vira negócio; combatê-las também
Empresas tentam evitar autoelogio ou ataque a rivais nos textos
Os espaços para comentários e avaliações de produtos em lojas virtuais têm se tornado terreno de disputas e aberto oportunidades.
Não é incomum que empresas paguem pessoas para que elas escrevam comentários positivos sobre produtos que vendem e destruir os que são expostos nas páginas de concorrentes, diz Eduardo Prange, presidente da Abradi Nacional (Associação Brasileira de Agentes Digitais).
O empresário Flávio Estevam, 34, dono do site Namoro Fake, que permite que se contrate namoradas de mentirinha para o Facebook, criou em 2014 o Comprarreview. A ideia era que a mesma base de internautas que servem de companheiros falsos para a empresa escrevesse resenhas sobre aplicativos de celular -mediante pagamento, claro.
"Você pode chamar a compra de 'review' de propaganda enganosa. Mas toda a propaganda é assim", afirma.
Porém ele só se dedicou à ideia durante dois meses, por ter achado que era pouco lucrativa. "Vendia dez 'reviews' por R$ 79. Mas grande parte desse dinheiro ia para quem os escrevia. Então dava muito trabalho e pouco resultado", conta.
No portal Kekanto, que reúne informações sobre lojas e restaurantes, entre 5% e 15% dos comentários são eliminados por fortes indícios de serem falsos, diz Fernando Tomimura, 36, presidente da empresa. Os estabelecimentos listados no site recebem, por mês, entre 50 mil e 100 mil avaliações.
Para fazer a filtragem dos comentários, a empresa possui algoritmos que os qualificam de acordo com o IP (espécie de endereço para computadores) do aparelho usado para escrever e a vinculação da conta do usuário a um perfil real no Facebook (ativa e que tenha amigos e interações).
A start-up (empresa iniciante de tecnologia) TrustVox oferece um serviço para lojas virtuais que permite que apenas quem realmente comprou o item na loja possa deixar comentários.
Alguns dias após a compra, o cliente recebe um e-mail contendo perguntas sobre a entrega e o produto, que são publicados no site da empresa com um selo que garante a autenticidade da opinião, conta Tatiana Pezoa, 40, fundadora da companhia.
O custo do serviço depende do número de vendas da empresa. Para um e-commerce com até 100 vendas mensais, a conta mensal é de R$ 99 e, para grandes empresas, pode chegar a R$ 20 mil.