Droga derivada de erva é candidata a medicamento
Quando os biólogos da USP e de San Diego identificaram uma mutação genética no menino autista que fornecera amostras de célula para o estudo, não demoraram a encontrar uma droga candidata a atacar o problema.
O gene que aparecia desativado no paciente, o TRPC6, está ligado ao nível de cálcio de neurônios, atividade crucial para seu funcionamento.
Pesquisando a literatura médica, os cientistas descobriram que a hiperforina, um composto presente na erva-de-são-joão --planta com propriedades antidepressivas-- atuava diretamente neste canal. O fármaco já havia se mostrado seguro.
Além de corrigir as células em laboratório, os pesquisadores chegaram a administrar a droga para o paciente, que foi tratado por três meses, período curto demais para avaliação de eficácia. Os pais da criança desistiram da ideia, que requeria interrupção de outros tratamentos. Cinco anos depois, a USP perdeu contato com o casal.
Cientistas defendem agora que o fármaco passe por teste formal, mas afastam a ideia de que a hiperforina seja uma panaceia contra o autismo. Só portadores de mutação no TRPC6 ou em genes similares devem se beneficiar.
"Se for para fazer um ensaio clínico para essa droga, seria preciso uma seleção genética para saber quem é compatível e quem não é", diz Muotri. Um legado da pesquisa é que sua metodologia pode ser usada para investigar outras dezenas de genes que vêm sendo associados ao autismo clássico.