Debate sobre cor de vestido escancara sutis diferenças nos olhos e cérebros
Assim como há gente mais sensível a gostos ou ruídos, percepção do azul varia entre as pessoas
Discórdia na internet sobre uma peça ser azul e preta ou dourada e branca também se deve à má qualidade da foto
Como pode ser possível que as pessoas discordem, como aconteceu nesta sexta-feira na internet, não sobre política ou futebol, mas sobre quais as cores de um determinado vestido?
Há várias explicações científicas para que as pessoas não entrem em consenso sobre uma peça de roupa ser branca e dourada ou preta e azul.
Uma delas se refere a sutis diferenças na sensibilidade às cores entre as pessoas, aponta o professor da Unifesp Paulo Augusto Mello.
"Algumas pessoas sentem mais o ardor da pimenta, outras tem uma sensibilidade tátil maior, outras ainda se incomodam de maneira peculiar com sons agudos: são pequenas variações individuais", afirma.
O ser humano tem dois tipos de células na retina que traduzem a informação luminosa para o cérebro.
Uma são os bastonetes, mais associados à visão noturna e de formas e outra são os cones, que conseguem captar os detalhes de uma imagem, inclusive a cor.
Segundo Mello, aí poderia estar a origem do problema. As pessoas tem tem tipos de cones, o R (que enxerga em vermelho), o G (verde) e o B (azul). Quem enxerga o vestido em azul, provavelmente possui cones do tipo B mais sensíveis em comparação aos demais --R e G.
"Para essa pessoa, basta um pouquinho de azul misturado ao branco para inundar a imagem com um azul profundo", explica.
O oftalmologista Renato Neves afirma que outra explicação possível é a interpretação do contexto da foto feita pelo cérebro.
"Cada um pensa de uma maneira e tem uma maneira própria de recrutar e processar a informação", conta.
De acordo com a maneira que a pessoa percebe a iluminação do ambiente, é possível enxergar a mesma imagem com cores diferentes.
O cérebro, para tentar enxergar a cor "real", desconta da imagem o que ele interpreta como iluminação ambiente. No caso da foto, é provável que tenha sido feita sob uma luz incandescente amarelada.
Só que algumas pessoas interpretam a mesma luz provavelmente como uma fonte fluorescente (branco-azulada). Daí a confusão.
Segundo os dois médicos, as pessoas que não veem das cores corretas não precisam se preocupar com relação a daltonismo --a diferença de percepção é tênue demais e as pessoas sabem diferenciar as cores em outras circunstâncias
Há ainda o fato de que a foto era mal tirada. "A imagem ficou, no jargão dos fotógrafos, lavada, esbranquiçada. Se a foto fosse boa, teria um melhor contraste, e o preto seria mais preto e o azul seria mais evidente. Aí provavelmente não haveria tanta polêmica", afirma o editor de Fotografia da Folha, Diego Padgurschi.