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Isca de tubarão
Pesquisadores criam tartaruga-robô que atrai e fisga tubarões, evitando ataques em Pernambuco
Pesquisadores pernambucanos tiveram uma ideia pouco ortodoxa para evitar os tradicionais ataques de tubarões nas praias do Recife. Eles propõem utilizar tartarugas eletrônicas como uma isca para os predadores.
O equipamento pernambucano foi chamado de AST, de Armadilha Seletiva para Tubarões. Construída em inox, fibra de vidro e poliuretano, ela pesa 40 quilos, mede 1,60 por 1,10 metro e é movida a energia solar.
O responsável pelo projeto é o engenheiro florestal Fernando Encarnação, mestre em energia nuclear pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Ancoradas ao longo da costa e flutuantes, as falsas tartarugas movem as patas e emitem sons que imitam o animal marinho, presa natural dos tubarões.
"Quando um tubarão for em direção à praia, vai passar por ela. Ela é o alimento necessário ao qual ele está acostumado, então ele abandona qualquer outro objetivo e ataca a AST", explica.
Em cada pata da tartaruga, há dois anzóis. Quando o tubarão morde uma delas, ele fica preso à tartaruga, que está ancorada no fundo do mar. Em seguida, sinais são emitidos para uma equipe em terra, que irá rebocar o animal.
Enquanto o "resgate" não chega, a tartaruga levanta uma bandeira que avisa aos banhistas recifenses da presença do tubarão.
Pesquisadores implantarão um chip no tubarão em seguida e o devolverão ao mar, sem lhe causar danos.
O objetivo, segundo Encarnação, é não só evitar ataques aos banhistas mas colher dados para conhecer melhor os hábitos desses animais.
Não há estudos que expliquem, por exemplo, por que os ataques de tubarões se concentram em Pernambuco. Nem mesmo as espécies que mais atacam ou a época do ano de maior risco para os banhistas são conhecidas.
Desde 1992, já foram registrados 60 ataques, com 24 mortes nas praias pernambucanas, segundo o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões. A área de maior risco se estende por 33 km e vai de Olinda, ao norte do Recife, até Ipojuca, no litoral sul.
Para que as tartarugas eletrônicas garantam a segurança dos banhistas, Encarnação afirma que elas devem ficar a uma distância ideal de 50 metros uma da outra. Isso deixa o projeto mais difícil de implementar: para cobrir os sete quilômetros da área mais crítica, seriam necessárias 160 unidades.
Por enquanto, o equipamento vem sendo testado em algumas praias, para avaliar sua efetividade. Cada um deles custa R$ 18 mil -- R$ 2,88 milhões para cobrir toda a área de ataques.
Há também outros gastos com manutenção, barcos rebocadores e equipe de monitoramento, que ainda não foram estimados.
Em junho, o pesquisador vai apresentar sua criação em uma audiência pública na Câmara Municipal do Recife.
Ele diz já ter investido R$ 1,2 milhão do seu bolso para desenvolver a tecnologia.
Já houve outras tentativas de impedir ataques de tubarão, como a implantação de barreiras no mar com iscas, mas segundo o Cemit elas só minimizam o problema.