John Nash, de "Uma Mente Brilhante", morre em colisão
Táxi em que matemático e sua mulher estavam se envolveu em um acidente
Nash, 86, sempre dizia que filme era só ficção e não gostava de falar sobre esquizofrenia, que o perseguiu por 20 anos
O matemático John Nash, 86, teve neste sábado (23) uma morte tão inesperada quanto sua vida inteira: o táxi em que ele e a sua mulher, Alicia, 82, estavam bateu, e ambos foram ejetados. O motorista colidiu em uma barreira de segurança na estrada. O acidente ocorreu em Nova Jersey (EUA).
Foi o filme "Uma Mente Brilhante", de 2001, que deixou John Nash famoso. Sua história pedia mesmo um filme: professor brilhante do MIT (Massachusetts Institute of Technology) já aos 30 anos, levou outros 20 para se livrar da esquizofrenia. Acreditava ser vigiado por uma conspiração internacional --paranóico, chegou a pedir para que cancelassem sua cidadania americana (foi ignorado). Acreditou também ser o imperador da Antártida.
Na última década e meia de sua vida, por onde andava Nash era questionado sobre o filme e sobre a doença --e ele não gostava muito de falar de nenhum dos dois temas. Até o Prêmio Nobel de Economia que ganhou em 1994 ficou em segundo plano.
No caso do filme, o que incomodava Nash é que fazia as suas teorias, que mudaram a revolucionaram a economia, ficarem parecendo fruto de meros insights momentâneos, e não de um rigoroso trabalho matemático.
Uma cena famosa é aquela em que ele está em um bar com amigos. Eles estão interessados em algumas moças, e uma é loira e mais bonita que as outras. Pela economia tradicional, de Adam Smith, todos deveriam disputá-la --o resultado ótimo ocorre quanto todos competem, procurando o melhor para si.
Nash saca que essa não era a resposta. Eis o diálogo:
Nash: "Adam Smith precisa ser revisto."
Amigo: "Como assim?"
Nash: "Se todos formos na loira, vamos nos bloquear, e ninguém vai ficar com ela. Aí tentaremos as amigas, mas elas vão nos ignorar porque ninguém gosta de ser a segunda opção. Bom, e se ninguém for até a loira? É o único jeito de vencermos. Adam Smith é incompleto. O resultado ótimo acontece quando todos no grupo fazem o melhor tanto para si quanto para o grupo."
Trata-se de uma maneira de explicar a teoria dos jogos --ramo da matemática que estuda as estratégias que as partes de uma determinada negociação tem de tomar para maximizar seus resultados.
Nash achava que a cena não retratava a solidez matemática da sua teoria, fazendo tudo parecer uma sacadinha esperta no bar. Em 2010, em uma palestra na USP, ele foi questionado (novamente...) sobre a cena. Disse que era tudo invenção do roteirista. "E ele ainda ganhou um Oscar [por isso]!", brincou.
O que Nash talvez não levava em consideração era que o filme dirigia-se ao público leigo, sem a sua capacidade de abstração matemática.
Seu cérebro privilegiado foi bem resumido pelo físico Richard Duffin. Quando Nash foi ao doutorado, pediu uma carta de recomendação a ele. Em geral, tais documentos são longos, ponderando qualidades e deficiências. Duffin achou que bastava uma frase: "Este homem é um gênio".
Sua teoria sobre situações competitivas, publicada primeiro em 1950, encontrou aplicações em várias áreas como biologia e computação.
Sobre a doença, Nash só dava respostas monossilábicas. Não era um assunto sobre o qual gostava de falar. Nos anos 1970, foi internado várias vezes contra a sua vontade, recebendo até choques elétricos. Após isso, foi se recuperando gradativamente.
Nash deixa dois filhos: John David, 61, com uma namorada de juventude, e John Charles, 56, com Alicia.