Crítica restaurante
'Restobar', Nazca peca nos vinhos
A cozinha da casa não é autenticamente peruana, mas tem bons ceviches e não decepciona
O Nazca se define como um "restobar" peruano. Se você passar lá à noite, será mesmo recebido como num bar. Se está mais acostumado a ir a restaurantes, pode ter um trabalhão para ver o menu, fazer reserva etc. O site que eles divulgam não existe; a página no Facebook dá horários errados (por exemplo, ele não abre no almoço). E nem tente ligar para checar: o telefone também não é aquele.
Avisadas as armadilhas, em algo a definição de "restobar" faz sentido --as mesas altas no terracinho ao ar livre, a música agitada e a descontração do primeiro andar são agradáveis para quem quer beber, conversar e petiscar. Já o andar de cima é mais recolhido, para um jantar com mais sossego.
A hesitação em comportar-se como restaurante reaparece quando você pede a carta de vinhos. Tudo o que eles têm é uma folha de caderno com uma dezena de sugestões escritas à mão --metade (por exemplo, todos os tintos) em falta, isso numa casa aberta há mais de três meses.
Ainda bem que, passados os dissabores, a cozinha não decepciona. Não é autenticamente peruana, embora esta seja sua base --há intervenções da casa como um ceviche rapidamente salteado na wok (ao lado, claro, de ceviches tradicionais); ou anticuchos (espetinhos) que, além do coração bovino (que é o original mas poucos servem em São Paulo), trazem ingredientes como o palmito-pupunha.
Os anticuchos, aliás, têm gostosas guarnições --o de coração vem com purê de batata-doce, o de pupunha, com purê de banana. A cozinha é executada pelo chef Lauro Leme, 26, que já passou pelo La Mar e foi chamado pelos proprietários Beto Prado, 37, e Priscilla Bravo, 31.
Talvez por não ter peruanos na direção, os temperos no Nazca são, de forma geral, amenizados. Os ceviches não picam, mas são gostosos. Na chapa de camarões e vieiras os sabores (fora o do limão) somem um pouco, mas o prato é bem-feito (salvo pelas guarnições --arroz molhado, legumes quase sem tempero).
Famoso na cozinha peruana de raiz chinesa, o lomo saltado (tiras de filé com legumes) também tem sabores domesticados, pouca vibração peruana, mas não deixa de ser gostoso --e ganha a companhia de belas batatas fritas.
As sobremesas também estão sempre em falta --mas consegui provar (e aprovar) um curioso suspiro limeño (doce de leite caseiro com merengue de vinho do Porto).
NAZCA (regular)
ENDEREÇO av. Faria Lima, 2.744, Jd. Paulista; tel. (11) 2364-4808
HORÁRIO de ter. a sáb., das 18h às 2h
AMBIENTE um mais descontraído embaixo, com cara de bar, e outro mais recolhido no andar de cima
SERVIÇO esforçado, mas ainda tem que afinar
VINHOS uma página de caderno escrita à mão mostra uma dúzia de rótulos --a maioria, em falta
PREÇOS entradas, de R$ 16 a R$ 35; pratos, de R$ 20 a R$ 65; sobremesas, de R$ 12 a R$ 18