Assistir, fazer, comer
Programas com receitas fáceis e rápidas, na maioria das vezes feitas por amadores, viram febre no YouTube
Claquete. Câmeras um, dois e três gravando. Todos os olhares se voltam para o músico e apresentador João Gordo, 50. Com a naturalidade de quem recebe um amigo para jantar, ele entrevista o convidado enquanto prepara moqueca, massa, petisco... Tudo na cozinha da casa dele, zona oeste de São Paulo.
As gravações são para o "Panelaço", programa que estreia nesta quinta (27) já com seis episódios filmados e que irá ao ar semanalmente em seu canal no YouTube.
No primeiro, João, vegetariano há dez anos, fará moqueca de soja para o chef Alex Atala. "Quer dizer, Atala acabou fazendo. Ficou uma delícia. Mas a minha é mais gostosa: carrego no dendê."
As receitas são pensadas por João pouco antes da entrevista. "A comida dá liga à conversa. Não quero ensinar ninguém a cozinhar, só que abram a cabeça para a culinária vegetariana."
João Gordo --que fez o programa "Gordo à Bolonhesa" em 2003, na MTV-- diz que não há mais espaço para ele na televisão, cheia de regras rígidas. "A internet é o caminho." E, em alguns casos, tem produções que alcançam o profissionalismo da TV.
Segundo o YouTube Brasil, o interesse por culinária no site (medido pelas buscas de palavras-chave ligadas ao tema no navegador) cresceu 30% de janeiro a outubro deste ano, em comparação ao mesmo período de 2013.
No mundo inteiro, aumentou 280% o número de assinantes de canais de culinária no último ano (o site não fornece números absolutos).
Esse interesse virou moeda de troca: o dono do canal pode ter anúncios no começo de cada vídeo e, de acordo com o número de visualizações, ganhar parte do valor pago --o YouTube não revela quanto repassa por anúncio.
PATROCÍNIO
Os cozinheiros podem ainda ser patrocinados por alguma marca de eletrodoméstico, por exemplo --e usá-los em seus vídeos--, sem ter o site como intermediário.
Estão no comando desses programas de divertidos amadores com poucos equipamentos a chefs profissionais e famosos, que podem explorar a infinitude e a democracia da internet. Mas os anônimos são maioria entre os dez canais de culinária mais relevantes do YouTube.
Um deles é "Rolê Gourmet", apresentado por Otávio Albuquerque, segundo quem as pessoas se identificam com gente comum ensinando receita. "Cresci vendo a Ana Maria Braga e o Olivier Anquier na TV. Mas eles não têm nada a ver comigo. Na internet são pessoas comuns e isso tira o receio de cozinhar."