Tia de 'serial killer' diz ter vergonha de andar na rua
Vigilante que admitiu 39 mortes em Goiânia era calado na infância, conta ela
Em entrevista à TV, delegado afirma que assassino confesso disse que 'continua com vontade de matar'
Um menino como todos os outros, que brincava na rua com os primos, só que mais calado. É assim que uma tia de Tiago Henrique Gomes da Rocha, assassino confesso de 39 pessoas em Goiânia, se recorda dele na infância.
"Ele sempre foi calado, mas ninguém nunca reclamou dele, ninguém", afirma a tia, que tem 50 anos e pediu para não ser identificada.
"Já tenho vergonha até de andar na rua. Ando de cabeça baixa, parece que está todo mundo apontando."
A mulher conta que, até os 14 anos de idade, o vigilante, hoje com 26, morou na casa dos avós maternos com a mãe e o irmão um ano mais novo.
Segundo a tia, a mãe de Rocha sempre foi presente. "Passeava com eles, dava brinquedo, tudo normal."
A tia conta que Rocha se afastou da família depois de adulto. "Sempre que a gente chegava na casa dele, ele estava no quarto, cumprimentava e só. A gente respeitava."
Há uns anos, o sobrinho chegou a ser batizado, mas "depois se afastou" da igreja --evangélica. Ela diz que nunca o viu com namoradas e que ele não tinha muitos amigos. Segundo ela, a irmã pagou um curso para o filho porque achava que, "pela altura", ele daria um bom segurança. Desde agosto Rocha era contratado pelo Grupo Fortesul e atuava como vigilante em um hospital.
Ela soube da confissão dos homicídios pela televisão. "Estava trabalhando quando vi. Acabou o mundo."
E diz não saber o que esperar do futuro. "Não acredito que ele tenha matado esse tanto de gente. Foram comprovadas até agora seis [mortes], que não tem como negar. É muita coisa para um ser humano só fazer. Mas o que ele fez não tem perdão."
A tia diz que sofre por sua família e pelo sobrinho, e também pelos que perderam seus parentes.
"Deve ser horrível perder a filha sem motivo", disse ela.
VONTADE DE MATAR
Nesta segunda (20), Rocha disse a policiais da delegacia onde está preso desde o dia 14 que "continua com vontade de matar". A informação foi dada pelo delegado Eduardo Prado em entrevista à TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiânia. Ainda segundo ele, Rocha perguntou se responderia criminalmente caso cometesse um assassinato dentro da cadeia.
Ontem (20), o advogado de Rocha, Thiago Huáscar Vidal, deixou o caso, segundo ele devido aos honorários. Vidal disse à Folha que sua estratégia seria mostrar que Rocha é inimputável. A reportagem procurou a Polícia Civil para saber se Rocha já tem novo advogado, sem sucesso.