Crise da água
Em carta, Alckmin ataca ONU por crítica a SP
Governador cobrou da organização que corrija conclusões sobre crise da água apontadas por relatora em agosto
Ofício afirma que ela fez uso político do tema às vésperas da eleição; secretário-geral diz que enviará resposta
O governador Geraldo Alckmin enviou ofício ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, cobrando que a entidade corrija suas conclusões sobre a crise da água no Estado.
Em agosto, em visita não oficial a São Paulo, a portuguesa Catarina de Albuquerque, relatora especial para água e saneamento, disse que a crise era responsabilidade do governo estadual e apontou falta de investimentos.
O ofício foi enviado em 9 de setembro e ainda não havia sido divulgado. Alckmin afirma que a relatora incorreu em "erros factuais" e fez uso político do tema ao conceder entrevistas às vésperas da eleição estadual, violando o código de conduta da ONU.
Ao concluir o texto, ele adota um tom acima do usual em comunicações diplomáticas.
Diz que se a ONU não retificar as informações, ele ficaria em dúvida sobre a habilidade dela para realizar a Cúpula do Clima, em 23 de setembro em Nova York, e demonstrar "propriedade, criatividade e liderança" no tema. Dá a entender que não iria ao evento.
Uma semana antes, o secretário da Casa Civil, Saulo de Castro, também enviara carta ao Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, reclamando das conclusões de Catarina --relatores estão vinculados a ele, mas têm atuação independente.
Ban Ki-moon informou que recebeu o ofício e está elaborando uma resposta, ainda sem prazo para ser enviada.
"É importante ressaltar que os relatores especiais são independentes e suas avaliações não representam a opinião da ONU", disse Mathias Gillmann, um dos porta-vozes do secretário, à Folha.
A relatora informou, por assessores, que o assunto tomou dimensões políticas e ela não iria se manifestar.
O governo paulista, em nota, informou que Alckmin não compareceu à cúpula por causa de outros compromissos.
Diz ainda que ele "nunca atacou' a ONU" e que o ofício é uma resposta ao convite de Ban Ki-moon para participar da cúpula. "O governador apenas aproveitou a oportunidade para indagar se a funcionária da organização (...) falava em nome próprio ou em nome das Nações Unidas."