Jornalista aborda mitos e verdades do ensino de qualidade
Em livro que acaba de ser lançado, Amanda Ripley, 40, acompanha alunos na Finlândia, Coreia do Sul e Polônia
Em entrevista à Folha, escritora defende rigor em relação à educação e mais prestígio para a carreira do professor
Mais investimento leva sempre a mais aprendizagem. Verdade ou mito? Mito. Maior rigor em sala de aula melhora a qualidade da educação. Verdade ou mito? Verdade.
As conclusões são da jornalista americana Amanda Ripley, 40, autora de "As Crianças Mais Inteligentes do Mundo - E Como Elas Chegaram Lá", que investiga a origem do ótimo desempenho educacional de Finlândia, Coreia do Sul e Polônia.
O livro --considerado por publicações como "The Economist" e "The New York Times" como um dos melhores de 2013-- foi lançado nesta semana no Brasil pelo Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha.
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Folha - Qual é a principal lição em comum de Finlândia, Coreia do Sul e Polônia?
Amanda Ripley - A principal lição é que a mudança em nível nacional é possível. Há diferentes caminhos que podem ser tomados. Todos eles envolvem trazer um grande nível de rigor em relação à educação, tanto em casa quanto nas escolas. Acho que a forma mais eficiente de conseguir isso é focando em treinamento e na seleção de bons professores.
Quais são os principais mitos em relação à educação?
Acho que o principal mito é que a pobreza das crianças é um problema maior do que que a pobreza na aprendizagem. Os dois são problemas e eles interagem e pioram um ao outro. Então, quando você melhora um sem melhorar o outro, você limita o retorno. Ambos precisam ser trabalhados simultaneamente.
Outro mito é que mais dinheiro leva a mais educação. Isso, claramente, não é verdade. Obviamente, dinheiro é importante, mas acima de determinado nível, você não vê mais dinheiro levando a mais aprendizagem.
Por exemplo, gastar o dinheiro em recrutamento e treinamento de bons professores e líderes de escolas é muito mais sábio do que gastar dinheiro em tecnologia.
Como deve começar uma reforma que busque melhorar a qualificação e aumentar a motivação dos professores?
No mundo perfeito, você faz duas coisas ao mesmo tempo. Aumenta muito as exigências para a formação, o que torna a profissão muito prestigiada. Ao mesmo tempo, pode aumentar os salários.
Mas acho que há muitas formas de compensação e dinheiro é uma delas. Se você não pode bancar um aumento imediato de salários, o prestígio, o respeito e a autonomia são outras formas.
Se você decide aumentar a exigência na formação, tem de fazer muito barulho sobre isso. Tem de dizer para todos, o mais alto que puder, que mudou a cultura da educação dos professores. Se não fizer isso, não estará aumentando o prestígio da profissão.
Qual é a sua opinião sobre a trajetória do Brasil na área?
Há muito que não sei, mas acho que os resultados no Pisa [teste internacional de desempenho de alunos em que o Brasil aparece entre os piores países] são motivo para esperança. O Brasil teve avanço maior do que qualquer outro país em matemática desde 2003. Acho que a redução geral da pobreza não explica tudo isso. Aparentemente, há outros fatores contribuindo.