Médico preso por abortos é suspeito de subornar policial
Ginecologista gastava R$ 20 mil/mês para manter informantes, diz apuração
Aloísio Guimarães, 88, foi preso 5 vezes por aborto ilegal desde 1962; defesa diz que ele nunca foi condenado
Em 60 anos de profissão, o médico ginecologista Aloísio Soares Guimarães, 88, já foi detido cinco vezes. Todas por praticar aborto ilegal.
A última, no dia 14 passado, na operação Herodes, foi acusado pelo Ministério Público estadual de ser um dos chefes de uma quadrilha responsável por fazer abortos em nove clínicas do Rio.
A investigação apontou que o grupo chegava a cobrar até R$ 7.500 por procedimento.
Guimarães seria o responsável pelo polo de Copacabana, considerado o mais rentável da quadrilha pela polícia. Em maio de 2013, o lucro da clínica chegou a R$ 300 mil.
"Ele é um médico, ginecologista, e nunca foi condenado por essas suspeitas", afirma seu advogado, Alexandre Lopes Oliveira.
Segundo policiais, Guimarães formou uma rede de advogados e policiais para se livrar de qualquer ação. A vigilância começava pelos porteiros do prédio do consultório. Eles recebiam dinheiro para avisar caso vissem alguma movimentação policial.
Ele atendia uma mulher por vez. As outras ficavam próximas ao prédio e recebiam telefonemas para subir.
Segundo a Corregedoria da Polícia Civil, Guimarães gastava cerca de R$ 20 mil por mês em propinas para policiais civis e militares.
Em interceptação telefônica, autorizada judicialmente, ele fala ao neto, identificado como Ricardo: "Porque R$ 20 mil para mim é nada".
Na manhã de 26 de julho de 2013, católicos se dirigiam à praia de Copacabana, que receberia o papa Francisco, na Jornada Mundial da Juventude. A dois quilômetros dali, na rua Figueiredo Magalhães, policiais civis esperavam diante do prédio 219 um casal chegar para a consulta.
Os agentes acompanharam o casal até o quinto andar, sala 507, onde encontraram duas portas de aço trancadas. Lá dentro, Guimarães aguardou duas horas a chegada de seu advogado até ser preso.
NO MESMO LOCAL
Formado em 1952 pela Faculdade Nacional de Medicina, o médico inaugurou em 1959 o consultório da Figueiredo Magalhães. Em 1962, foi preso pela primeira vez.
Foi detido mais quatro vezes, incluindo a da semana passada. São cinco décadas praticando abortos, segundo policiais que o investigaram.
Nos anos 1990, a Vigilância Sanitária encontrou irregularidades no local como a reutilização de seringas e de luvas, e remédios vencidos.
O Cremerj chegou a abrir uma apuração, mas ele foi inocentado por "jamais estar envolvido em qualquer ocorrência policial". Na época, ele já havia sido preso duas vezes.
Em seu apartamento no Leblon, a polícia encontrou R$ 432 mil e um documento indicando ter uma conta na Suíça. Outro documento trazia um depósito de US$ 5 milhões.
Em julho de 2013, um policial o avisou sobre a ida da polícia ao consultório a qualquer momento. "Tirei tudo de lá e estou esperando eles chegarem. Abro a porta e mostro: não tem nada", disse na ocasião em conversa telefônica.
Na mesma ligação, o médico refletiu sobre o aborto: "Hoje tem tanta mulher que precisa. É um problema, né?! É crise na saúde pública. Eu é que sei", afirmou em 13 de julho de 2013.