Depoimento
Minutos depois de entregar texto sobre roubos, fui roubado
Vinte minutos depois de entregar o texto sobre a alta de roubos em São Paulo, que abre esta edição de "Cotidiano", fui roubado. Que ironia. Deixei a Folha às 21h10. Caminhei uma quadra e meia pela avenida Duque de Caxias, no centro, e pronto.
Alguém puxou minha mochila. No espanto, pus as mãos para trás, para segurá-la, e esse alguém prendeu meus braços. Cheguei a achar que fosse algum conhecido tentando ser piadista.
Mas veio um baixinho de boné, que meteu a mão no bolso esquerdo da minha calça, pegou o celular --da firma--, subiu numa bike encostada na parede e sumiu.
Ele deve ter visto eu guardar o celular exatamente naquele bolso uns 50 metros antes, pois foi certeiro.
O maior, que tinha prendido meus braços, também montou numa bicicleta. Havia ainda um terceiro, que estava em cima de uma outra bike o tempo todo. A ação durou segundos. Foram ágeis.
Tentei tirar o sapato para arremessar nas costas do último a fugir, mas ele já estava longe. Virou à direita e desceu pela São João.
Pode-se dizer que eu era o perfil perfeito de vítima. Segundo a Secretaria da Segurança, de janeiro a setembro deste ano, 48,2% dos roubados em São Paulo eram transeuntes. E, do total de roubos, em 17,2% as vítimas tiveram somente o celular levado.
É o objeto mais visado pelos criminosos hoje, segundo as estatísticas oficiais.
Em três anos e meio vivendo na capital, foi a terceira vez que fui assaltado. Nas outras --uma na praça da República e outra na Vila Madalena--, os ladrões estavam armados.
Aproveito este espaço para avisar a minhas fontes que, nos próximos dias, estarei sem celular. Uma delas, inclusive, tinha ficado de me ligar para passar dados de roubos em um parque da cidade.